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Cenário com multicritério deve pautar planejamento de transporte de carga para 2050

por Caroline Ligório, especial para a Envolverde – 

O Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) analisou os dados recentes da EPE – Empresa de Pesquisas Energética referentes à infraestrutura, economia e sustentabilidade de transporte de cargas e estabeleceu pontos importantes para que se chegue a um cenário de longo prazo. Cenários que levem em consideração multicritérios são cruciais para que fatores sociais e ambientais sejam previstos e evitados e para que se opte por aquele que representa mais ganhos e menos perdas.

André Ferreira, diretor-presidente do IEMA, destaca as Projeções das Matrizes Origem-Destino e evolução da Divisão Modal de Cargas como primeiro passo dessa mudança que deve ser feita até 2050. Isso deve ser feito para que seja mais transparente onde o que é transportado é produzido e qual sua destinação. Adiciona-se a esse passo a Avaliação Ambiental Estratégica, a qual insere os impactos ambientais e sociais na etapa de desenho do cenário e não apenas no na etapa de licenciamento ambiental.

“Os diversos critérios devem ser incluídos antes do projeto. A incorporação dos riscos sociais e ambientais na avaliação de alternativas para a rede de transporte (emissões de GEE, áreas de conservação protegidas, impactos às comunidades) é fundamental, faz parte de um processo civilizatório da sociedade”. Para André Ferreira, a medida levaria não apenas a um cenário como hoje é feito pela análise de risco, mas a varias alternativas que dentre elas seria escolhida aquela com menor impacto.

Para que se alcance cenários de longo prazo, soma-se ainda a necessidade do debate com a sociedade sobre os vários cenários, a identificação de como financiar os projetos e a integração com outras políticas, planos e programas setoriais. O olhar sobre o transporte de carga teve destaque social pela greve dos caminhoneiros, a qual elevou a inflação, evidenciando seu impacto na economia.

Os dados com os quais o IEMA trabalhou evidenciam a alta dependência rodoviária que o Brasil tem em relação ao transporte de carga e como os transportes são responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa (GEE). No mundo, 48% das emissões provêem dos transportes. No Brasil, em 2014, o petróleo era responsável por 70% das emissões de GEE. O transporte de carga é responsável por 50% das emissões dos transportes, os outros 50% refere-se ao transporte de pessoas. Os caminhões são responsáveis por 41% das emissões do transporte de carga.

A falta de produtos sentida pelos brasileiros nos dias da greve pode ser explicada pela distribuição feita majoritariamente de Carga Geral (produtos manufaturados) feita pelas rodovias. Esse tipo de carga é majoritariamente urbana, sendo 73% do que se escoa pelas rodovias, o Granel Sólido Agrícola (: farelo de soja, milho em grãos e soja em grãos) é apenas 6% do que escoa nas rodovias. Nas ferrovias 81% do escoado é Granel Sólido Não Agrícola (carvão mineral, cimento, minério de ferro e minerais). Já no sistema hidroviário de cabotagem 75% é de Granel Líquido (combustível).

O Sudeste e Sul são as principais regiões de origem e destino, enquanto as regiões Norte e Nordeste são sempre marginais, exceto em relação ao minério. 45% da Carga Geral têm origem no Sudeste e 40% tem como destino o Sudeste. 41% do Granel Líquido têm origem no Sudeste e 39% têm o Sudeste como destino. 60% do Granel Sólido Não Agrícola têm origem no Sudeste e 54% têm como destino o exterior. O exterior é também o destino de 55% Granel Sólido Agrícola e o Centro-Oeste a origem de 44%.

O IPEA fez a projeção de 38 produtos para 2025 levando em consideração onde é produzido e para onde vai mantendo a rede modal que se tem hoje com a carga adicional. A tendência é manter a divisão modal que se tem hoje. A rede básica ferroviária aumentará 3% com a duplicação de Carajás. O maior destaque ainda será da Carga Geral, a agrícola crescerá 3%.

O cenário sem investimentos pressupõe uma saturação da rede atual. A saturação levará ao aumento da emissão de gases de efeito estufa entre 20% a 40%. Portanto, os cenários de longo prazo considerando multicritérios mostram-se tão necessários para que haja a possibilidade de se pensar soluções com menor impacto para o transporte carga e que não tenha como resultado impactos sociais, ambientais e a saturação da rede.