O desabafo é de Puyr Tembe, vice-presidenta da Federação dos Povos Indígenas do Pará e integrante da iniciativa Voz das Mulheres Indígenas. Ela tem trabalhado com tecnologia para monitorar o impacto da pandemia entre os mais de 200 povos indígenas que vivem no Brasil. A tradição oral, especialmente transmitida pelos mais velhos – guardadores de saberes – é o que mantém sua cultura viva.
“Cinco das 10 terras indígenas mais vulneráveis à COVID-19 contam com registros de povos isolados e estão na Amazônia. Hoje uma de nossas maiores preocupações é que a pandemia chegue nestes territórios”, explica Puyr Tembe. Ela assinala que os conflitos territoriais se acentuaram, provocando invasões de terras e contágios decorrentes da circulação de não-indígenas nos territórios demarcados.
“A pressão de grandes e médias mineradoras se soma a invasão em massa de garimpeiros, madeireiros e colonos, que aproveitaram a pandemia para intensificar ainda mais a extração e plantação ilegal. Exemplo disso são as terras indígenas Yanomami (RR), Raposa Serra do Sol (RR), Alto Rio Negro (AM) e Waimiri-Atroari (AM/RR), Alto Rio Guamá, Trincheira Bacana e Cachoeira Seca”, detalha.
O chamado “novo normal” decorrente dos cuidados sanitários necessários durante e após a pandemia da COVID-19 está sendo discutido pelas lideranças indígenas e implica medidas constantes para a preservação dos povos e territórios.
Em 5 de novembro de 2020, o Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena contabilizava 38.643 casos de COVID-19 entre 161 povos indígenas do Brasil, com 870 mortes. Os povos mais afetados são Kokama – onde ocorreu o primeiro registro da doença, no município amazonense Santo Antônio do Içá, em março -, Guajajara e Macuxi.
Foto do destaque: Puyr Tembe, vice-presidenta da Federação dos Povos Indígenas do Pará – Foto ONU Mulheres
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