por Liliane Rocha, especial para a Envolverde –
Este ano faz 20 anos que Domenico de Masi lançou o livro “Ócio Criativo”, onde profetizava que a evolução tecnológica liberaria o homem do trabalho braçal para momentos de reflexão e desenvolvimento do conhecimento. De fato a revolução tecnológica avança a passos velozes, o trabalho braçal cada vez mais é substituído por máquinas, mas será que estamos possibilitando, como um ganho desse processo, que o homem tenha mais momentos de reflexão e conhecimento? Será que este fato se reflete em cuidados conosco, com o próximo, com as comunidades e com o Planeta?
Pois bem, só é possível começar essa reflexão a partir do aprofundamento do nosso diálogo sobre a quarta revolução industrial. Um dos principais imperativos desta revolução é que ela está, não só mudando a forma como fazemos as coisas, mas também, quem somos e a forma como nos relacionamos. Todas as revoluções industriais anteriores impactaram diretamente na produção – o vapor, a eletricidade, a computação – todos eles impactaram a forma de fazer as coisas e, consequentemente, como são consumidas. Coisas aqui no sentido mais amplo: informação, produtos, conhecimento, bens de consumo.
Com a quarta revolução industrial, temos uma ruptura total em nesse processo, em um ritmo tão veloz que literalmente as pessoas não têm conseguido acompanhar. Temos a biotecnologia, a nanotecnologia, e a inteligência artificial, que alteram cinco temas fundamentais da sociedade capitalista, estruturada com base no acúmulo de coisas e capital. Destacamos aqui esses 5 temas:
- A educação: a forma, o que e para que aprendemos.
- As relações sociais: como, onde e por quanto tempo nos relacionamos com as pessoas próximas a nós.
- A inclusão social: Como nos organizamos, que movimentos lideramos, que transformações e impactos geramos.
- O emprego: como trabalhamos, qual tipo de tarefa executamos e por quanto e, em troca de que, vendemos nossa força produtiva (e nosso potencial criativo).
- A relação com o meio ambiente: como e quanto cuidamos do que nos cerca.
O que temos hoje é que independente do segmento de atuação de uma empresa, ou da área que uma pessoa trabalhe, ela será impactada pelo desenvolvimento das tecnologias exponenciais, ou seja, pelo processo de revolução dessa 4ª onda. Consequentemente todo o macro ambiente será impactado também. Não há rota de fuga, esse processo está instaurado e será contínuo até que um novo “big bang” inicie um outro processo de revolução.
Os benefícios das revoluções anteriores para a qualidade de vida das pessoas são inegáveis, assim como o impacto negativo para o meio ambiente e o crescimento da desigualdade. O mesmo vale para o que vivemos agora.
Essa reflexão é necessária para compreendemos que um novo tema precisa ser adicionado ao impacto de uma revolução: a Empatia, ou 6 – A relação com o outro: como me relaciono com aqueles que não fazem parte das minhas relações sociais diretas, mas, estão conectados comigo no sistema global que vivemos. Parafraseando Klaus Schwab, como olhamos para pessoas que estão do “lado perdedor” do processo de globalização.
Fazemos parte de uma comunidade global e podemos assumir que todos (isso mesmo todos!) os habitantes do Planeta Terra serão de alguma forma impactados pelas consequências da 4ª Revolução industrial, mas, quantos tomarão consciência desse impacto a tempo? Quantos serão beneficiados? Quem será beneficiado?
Em uma visão estrita que considera apenas a disponibilidade de tecnologia vivemos hoje no Planeta Terra muitas eras, regiões que não chegaram na Idade Média e Regiões que estão vivendo a plenitude da 4ª Revolução Industrial.
E quem está preocupado com isso? Quando a inteligência artificial superar a capacidade humana o que será da humanidade? Qual a essência do ser humano? Em tempo de inteligência artificial o que fica para nós é o que for essencialmente humano, até porque, novamente, parafraseando Schwab, até o conceito do ser humano como algo natural vai mudar.
Liliane Rocha é Fundadora e presidente da Gestão Kairós consultoria de Sustentabilidade e Diversidade. Palestrante, Professora de Pós Graduação e Executiva com 13 anos de experiência em grandes empresas nacionais e multinacionais e mestranda em Políticas Públicas pela FGV.
Tiago Carzetta é mestre em educação e trabalha com o tema desde 2007 em diferentes esferas: consultor em educação digital para grandes empresas, professor universitário e pesquisador de tendências em educação. Sua trajetória profissional inclui trabalhos com diversidade, turismo LGBT e desenvolvimento de pesquisas acadêmicas sobre educação e humanização.