de Luiz Fernando Brandão*
Ficção
Atualidade
A fragilidade do juízo humano, em nossos tempos cada vez mais incertos, é desnudada neste enredo intrigante, ao gosto de leitores de todos os gêneros
Os destinos e peripécias de três protagonistas bastante prováveis na vida real se embaralham sutilmente em Para o bem ou para o mal, incursão inaugural do jornalista, escritor e tradutor Luiz Fernando Brandão nos domínios da ficção.
O primeiro, Diego Velásquez Caravaca, um guru muito bem-sucedido estabelecido em São Paulo, já ajudou muita gente no seu concorrido Centro para a Evolução Universal, mas não passa de mais um picareta no florescente “mercado da salvação”. Entre as discípulas mais chegadas, ele atende por “Flautista”, apelido que cunhou para si inspirado no conto dos Irmãos Grimm – sendo que, na história engendrada por sua imaginação doentia, quem o anti-herói atrai e domina com o sopro de seu instrumento mágico não são ratos nem crianças, mas adultos tão ou mais fáceis de engabelar.
O segundo, Robert White Sherman, é um alto executivo financeiro de Nova York, diretor de um grande banco instalado nas Torres Gêmeas. Com seu talento natural associado a uma obstinação caprina e aos desígnios da sorte, ele é um mito nos círculos da grana preta. Orgulha-se, embora não o demonstre, do nome pelo qual é conhecido no mercado: “Matemático”, que poderia também sugerir um gênio solitário imerso em números, cálculos e projeções e indiferente a todo o resto. Mas ele não consegue esconder de si que parte considerável do dinheiro que o transformou em celebridade milionária provém de fontes duvidosas; desencantado, aproveita uma brecha do acaso para mudar radicalmente de vida e acaba engajado em uma fabulosa causa humanitária na longínqua Índia.
Por fim, temos Cátia Ferrão, jornalista inteligente e ambiciosa nascida e criada no interior fluminense. Após difícil início de carreira, que perpassa questões como assédio sexual e moral, ela acaba se tornando vice-presidente de assuntos corporativos de uma poderosa multinacional do setor agroquímico que tem no Brasil seu maior mercado. O peso do cargo e a mística a ele associada abrem espaço para discutir, entre outros aspectos, os dilemas femininos no ambiente de trabalho e as redes sociais como quinto poder da atualidade. O trunfo secreto da atraente executiva em sua vitoriosa trajetória profissional, quem diria, é uma entidade do outro mundo; por coincidência, Cátia é conhecida como “Cigana” entre seus pares na multinacional.
Sorte ou azar? – Até certo ponto, os protagonistas saídos da imaginação de Brandão – ele próprio, calejado executivo de comunicação de grandes corporações –, embora bem-sucedidos no que se propuseram alcançar, estão a um só tempo em busca e em fuga. Se o Matemático está à procura de uma nova vida, onde o materialismo e o consumismo possam dar espaço ao autoconhecimento, o Flautista sai de São Paulo rumo à Caxemira para escapar das consequências de um episódio com final trágico envolvendo uma jovem seguidora. A Cigana, por sua vez, após uma vida repleta de sacrifícios, chega ao topo de sua escalada profissional apenas para descobrir quão precária era a segurança que julgara conquistar e que ainda havia como encontrar o “caminho de volta”, ao visitar, em uma viagem a negócios, o afamado Yoga Institute, em Mumbai.
Por sorte ou azar, cada um com sua história, todos os três acabam fazendo na Índia o acerto de contas com o destino. O que vai acontecer com os protagonistas e como suas histórias irão se cruzar sem que nunca tenham se conhecido é um forte chamariz do livro, que reserva ao leitor surpresas até a última página. Um romance que beira o realismo mágico e inspirou, no prefácio, as palavras de um gênio da publicidade:
“Sei que Luiz Fernando gosta do raciocínio de que seu livro propõe ‘uma reflexão sobre a relativa fragilidade do julgamento humano’, mas o que mais me encanta na história é deixar bem clara essa intenção para todo e qualquer tipo de leitor, dos mais relaxados até os mais tensos, dos mais simplórios até os mais pretensiosos.”(Washington Olivetto)
*Sobre o autor – O carioca Luiz Fernando Brandão é jornalista, escritor e tradutor. Em paralelo à carreira como executivo de comunicação empresarial, traduziu para o português obras de autores como Edgar Allan Poe, Jack London, Vladimir Nabokov e Tom Wolfe. É autor de Triptik, uma viagem na terra dos gurus e outras bandas (2017), seu livro de estreia, e tem diversos artigos publicados sobre comunicação. Em 1976, graduou-se instrutor no The Yoga Institute, em Mumbai, na Índia.
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