por Guillermo Arslanian, COO da Trocafone
Compra e venda de usados é alternativa para romper com a cultura do lixo e recuperar a economia no período pós-pandemia
É com otimismo que vejo o recomércio como parte da vida dos brasileiros. Quando cheguei ao Brasil em 2014, esse conceito era apenas uma tendência. Hoje, felizmente, o comércio de usados e seminovos atingiu o mainstream. E a economia não foi a única responsável por seu crescimento.
Em primeiro lugar, o sucesso do recomércio se deve ao fato de que qualquer pessoa com algo de valor pode se transformar em revendedor. Em outras palavras, com a chegada das plataformas digitais, as pessoas têm novas oportunidades para fazer circular um produto que está parado no fundo da gaveta e, com isso, ter uma renda extra. Já o consumidor de e-commerces de usados tem a vantagem de comprar produtos duráveis de boas marcas por preços menores, sem sair de casa e com total segurança.
Na verdade, as transações de revenda já estão consolidadas no mercado brasileiro. A diferença agora é que elas passaram a ser vistas de uma forma diferente por consumidores e empresários. Quem consome está mais consciente sobre as virtudes de prolongar a vida útil de produtos, reciclar, recondicionar, reutilizar e romper com a cultura do lixo. Na outra ponta, empresas brasileiras estão apostando no comércio reverso como um caminho para seguir uma trajetória mais sustentável, seguindo os passos de empresas pioneiras como a Patagonia, que incentiva clientes a consumir menos, fabricando produtos duradouros e incorporando roupas usadas em novos produtos.
Esse modelo de negócios baseado no reaproveitamento de matéria-prima e redução da pegada ecológica se mostrou importante durante a pandemia de Covid-19 que, por sua vez, acelerou certas inclinações que já estavam em movimento no Brasil, ainda que timidamente, antes do surto de coronavírus. Exemplo disso é o Enjoei, comércio eletrônico baseado no consumo colaborativo, cujo número de compradores ativos disparou 100% no quarto trimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.
A Estante Virtual, parte do ecossistema da Magalu desde o ano passado, é outro caso de sucesso, que chegou a oferecer uma economia de até 65% na compra de livros escolares e entrega em todo o país para pais e alunos em busca de descontos na pandemia.
Em mais um ano em que sentimos o impacto da Covid-19 em nosso cotidiano, seja nas mudanças climáticas, na redução de biodiversidade, na saúde ou na perda de poder de compra da população, esses exemplos reforçam a ideia de que as soluções do passado não estão mais à altura dos problemas atuais. Por isso, a saída é redesenhar o modelo econômico vigente.
Há um consenso no mundo dos negócios sobre esse assunto. Um passo importante em direção a isso é acelerarmos a transição para uma economia circular, o principal instrumento para desvincular o crescimento econômico do uso de recursos naturais e do impacto ambiental.
E eu realmente acredito que o recomércio seja um caminho promissor para a recuperação da prosperidade econômica, capaz de promover inovação e competitividade, reduzindo a dependência de recursos e possibilitando a criação de novos empregos. A começar pelos nossos telefones celulares. De acordo com dados do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), 41 milhões de toneladas de smartphones são descartados anualmente no mundo e menos de 16% desses resíduos são reciclados.
Temos aí uma oportunidade única de desenvolver uma gestão otimizada dos resíduos até 2030 e darmos nossa contribuição para o consumo e produção sustentáveis, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Acredito ainda que, como empresários, a maior contribuição que podemos dar é atuar de forma concreta para prolongar o ciclo de vida dos produtos e, assim, preservar o meio ambiente de forma real e mensurável, uma orquestração bem-sucedida que pode garantir o futuro do planeta.
Guillermo Arslanian, COO da Trocafone
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