Por Dal Marcondes –
Não há pauta mais relevante no momento do que as lágrimas que se misturam às águas do Guaíba. Não há que se discutir agora quem é o dono do carbono ou quem desmatou a mata que estava ali. Milhares de pessoas e animais estão em risco e algumas perdas são para sempre. Em cada canto do Brasil pessoas se solidarizam, choram e oram pelos gaúchos.
Quando baixarem as águas será a vez dos políticos. Muitos deles vão defender que o evento, que toda aquela chuva, que as inundações e as mortes foram excepcionais. Que a probabilidade de acontecer de novo é muito remota. O negacionismo que já vigora em posts de redes sociais vai ganhas força.
Nas mais de 330 cidades atingidas pelas inundações, com mais de 130 mil desabrigados, o trabalho de reconstrução terá de encarar um desafio gigantesco. Muitas áreas não poderão voltar a ser ocupadas e as prefeituras terão de encarar o dilema com coragem, mais ainda em ano de eleição municipal. Como dizer aos eleitores que a casa deles terá de ser demolida e eles terão de morar em outro lugar.
Mesmo que haja dinheiro para essa intervenção, haverá a resistência porque a vida das pessoas está conectada a suas casas, a seus vizinhos e amigos. Os prefeitos estarão frente ao desafio de mostrar se são verdadeiros líderes de suas comunidades.
Esse desafio descomunal não pode ser enfrentado apenas por aqueles que foram afetados pela tragédia. Esse é um desafio para o Brasil. Talvez sirva para compreendermos que a cidadania e a solidariedade não á apenas uma bandeira. Já vimos tragédias – menores, com certeza – destruir outras regiões e a solidariedade se esvair com a água. Desta vez, não.
A reconstrução precisa prever que incidentes como este serão cada vez mais frequentes e as pessoas não podem ficar expostas ao acaso, à espera que a providência atue a seu favor. Já temos a ciência, a tecnologia e os recursos para garantir uma transição ordenada para um tempo novo, com desafios que apenas estão começando a mostrar os dentes.
O momento é de salvar vidas, como bem disse o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo. Depois virá o desafio de mudar, transformar, regenerar, reconstruir e garantir que algo semelhante nunca mais aconteça. Ao menos tentar!