O Cerrado, savana mais rica em biodiversidade no planeta, está ameaçada pelo desmatamento para expansão da fronteira agrícola. No período de 2010 a 2011, a região sofreu 12% a mais de perda da vegetação natural. Os dados foram anunciados no dia 25 de novembro, pelo Ministério do Meio Ambiente, e são resultados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite (PMDBBS), que indicam, ainda, que 66% da degradação das áreas nativas está concentrada, principalmente, na região MATOPIBA – estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Embora o relatório do Terraclass do Cerrado 2013 apresentado também neste dia tenha registrado – para a surpresa de todos que acompanham de perto estes números – que 54,5% do bioma ainda mantém sua vegetação natural, há muito a ser feito e consolidado para que este problema seja considerado resolvido.
Recentemente, o Living Forest Report, estudo que o WWF publicou no mês de abril, apontou que se não tomarmos providências, uma área de 170 milhões de hectares deve sumir nos próximos anos (principalmente nos trópicos). Esta área é equivalente ao território de Alemanha, França, Espanha e Portugal juntos.
A estimativa é que 15 milhões de hectares serão perdidos no Cerrado nos próximos 15 anos, cedendo lugar para a pastagem, que já ocupa 29,5% do bioma e a agricultura, que representa atualmente 8,5%. O problema é que o ritmo dessa conversão foi bastante intenso nos últimos 30 anos e a pressão sob o segundo maior bioma do país continua intensa.
Monitorar e proteger o Cerrado é portanto vital para manutenção dos recursos hídricos no país, uma vez que das 12 grandes bacias hidrográficas existentes, oito são abastecidas pelas águas geradas neste bioma, sendo por isso considerado a “caixa d’água do Brasil”. O aumento do desmatamento no Cerrado interfere na oferta de água que abastece boa parte da população brasileira.
As unidades de conservação funcionam como verdadeiros estoque de água, e hoje, por exemplo, no Cerrado, temos menos de 10% de todo o Cerrado são unidades de conservação e, destas, menos de 3% está sob Proteção Integral.
“Não há fórmulas mágicas para lidar com o desmatamento. Uma série de soluções precisam ser adotadas por toda a sociedade e pelos governos – e algumas delas já estão à nossa disposição”, afirma Carlos Nomoto, CEO do WWF-Brasil.
Segundo ele, para proteger o Cerrado o primeiro desafio é controlar e monitorar de maneira regular e efetiva o desmatamento, além de criar e garantir a melhor gestão de áreas protegidas na região. “As UCs ajudam na proteção de nascentes de água, na regulamentação do clima, na geração de renda para povos e comunidades tradicionais e na garantia das riquezas socioculturais, por isso defendemos a instituição de mais áreas protegidas no bioma”, defende.
Atuação do WWF
O WWF-Brasil contribui para uma melhor gestão e implementação das unidades de conservação existentes, por meio da ferramenta RAPPAM (Rapid Assessment and Priorization of Protected Area Management) que avalia a efetividade de gestão das áreas protegidas. Recentemente foram avaliadas mais de 80 UCs de dois estados com presença predominante do Cerrado, Minas Gerais e Goiás.
A organização também incentiva a adoção das boas práticas agropecuárias, que busca adequar a produção aos preceitos da sustentabilidade. Além disso, promove o fortalecimento da cadeia do extrativismo dos frutos do Cerrado, agregando renda para os povos e comunidades tradicionais, ao mesmo tempo que mantem o “Cerrado em pé”.
“Um lugar que tem mais de 11 mil espécies vegetais dentre elas, diversas árvores frutíferas, como o pequi, o babaçu e o baru, entre muitas outras, tem um gigantesco potencial econômico de uso dos seus recursos naturais”, explica Nomoto. Somente no Mosaico Sertão Veredas Peruaçu (Norte de MG e sudoeste da BA) existe uma potencialidade de produção sustentável de mais de 500 toneladas de frutos por ano, que podem abastecer muitos mercados nos grandes centros.
Finalmente, o CEO do WWF-Brasil defende que é necessária de maneira urgente a implementação qualificada da lei ambiental, em especial do Código Florestal.
De acordo com ele ainda é preciso celeridade para a implementação do Código Florestal, começando pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR) e posteriormente pela adequação das propriedades privadas aos Planos de Regularização Ambiental (PRA). Estes instrumentos poderão funcionar como medidas que vão permitir o planejamento e o ordenamento das propriedades, além de garantir o cumprimento do compromisso de restaurar e respeitar as áreas de preservação permanente e de reserva legal “Com um CAR/PRA perpetrado, teremos mais áreas de Cerrado protegidas, além de mais condições de melhorar o fomento das atividades produtivas e, consequentemente, da possibilidade de identificar o desmatamento ilegal no bioma”, conclui Nomoto. (WWF Brasil/ #Envolverde)
Acesse aqui o documento “Mapeamento do Uso e Cobertura da Terra do Cerrado“.
* Publicado originalmente no site WWF Brasil.