Ambiente

Pastagens melhoradas apresentam bons níveis de carbono

Pastagem degradada. Imagens cedidas pela pesquisadora
Pastagem degradada. Imagens cedidas pela pesquisadora

Por Valéria Dias, da Agência USP –

Pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, traz resultados que podem ajudar na preservação das matas nativas da região Amazônica e até evitar o desmatamento. A engenheira agrônoma Diana Signor Deon analisou diversos tipos de usos dos solos da região e constatou que as pastagens melhoradas (que recebem manejo e adubação adequados) são as mais ricas em matéria orgânica (carbono), perdendo apenas para as matas nativas.

Esses resultados mostram que se o produtor cuidar do solo e realizar o manejo adequado, a pastagem vai continuar sendo produtiva por muitos anos, sendo desnecessário desmatar novas áreas.

Diana explica que o solo é um importante reservatório de carbono e pode funcionar como um dreno desse elemento: quanto mais carbono no solo e quanto mais tempo ele ficar armazenado, melhor. Ao ficar retido no solo por mais tempo, menos gás carbônico (CO2) é liberado para a atmosfera (na forma de CO2), o que evita o aumento da concentração de gases causadores do efeito estufa.

Segundo a engenheira agrônoma, quando ocorre o desmatamento e o uso do solo muda de vegetação nativa para qualquer outro, inevitavelmente há perda de carbono do solo. Na região Amazônica, explica Diana, muitas áreas são desmatadas para a implantação de pastagens, as quais sem um manejo adequado (tanto em relação à adubação do solo como em relação ao número de animais colocados na pastagem) entram em estado de degradação, com redução da fertilidade do solo e aumento do risco de erosão. Como o pecuarista necessita alimentar o gado, ele desmata mais área para fazer uma nova pastagem.

“O ideal mesmo é que a região amazônica não tenha desmatamento. Mas diante de uma área desmatada para implantação de pastagem, é possível adotar práticas de manejo de modo a manter a pastagem produtiva por muitos anos, o que evita a necessidade de desmatamento de novas áreas”, afirma Diana, que atualmente é pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Semiárido.

A pesquisa fez parte da tese de doutorado de Diana, defendida em 2013, e teve orientação do professor Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, do Departamento de Ciência do Solo da Esalq. Pelo trabalho, Cerri e Diana foram contemplados com a menção honrosa do Prêmio Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade 2014, concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Coleta de solos

Diana analisou o solo de dois locais na Amazônia Legal: Santarém, no Pará, e São Luís, no Maranhão. As coletas de solos de Santarém fazem parte de um projeto maior, desenvolvido pela Embrapa e que envolve o estudo da mudança de uso da terra em outros locais do Pará.

A pesquisadora coletou e comparou os seguintes usos dos solos: vegetação nativa (área não desmatada), vegetação secundária (área abandonada após o desmatamento), pastagem degradada (que não foi cuidada), pastagem melhorada e agricultura anual. Adicionalmente, áreas sob fruticultura e horticultura foram coletadas em São Luís. Em cada área, a pesquisadora retirou 5 amostras de solo até a profundidade de 30 centímetros, pois o carbono fica armazenado nas mais próximas da superfície.

Trincheira de amostragem: a coleta foi realizada na Amazônia Legal, em Santarém (PA) e São Luís (MA)
Trincheira de amostragem: a coleta foi realizada na Amazônia Legal, em Santarém (PA) e São Luís (MA)

Nos laboratórios da Esalq e do Centro de Energia Nuclear da Agricultura (CENA) da USP, em Piracicaba, essas amostras passaram por análises físicas, químicas e biológicas, que incluíram a mensuração da quantidade e da qualidade do carbono armazenado no solo.

Os resultados mostraram que determinados usos da terra podem ser iguais na quantidade de carbono, mas diferentes na qualidade. “Na pastagem degradada, a quantidade de carbono foi a mais baixa, apresentando assim os piores resultados. Mas quando se trata da pastagem melhorada, a quantidade de carbono do solo aumenta, podendo atingir níveis próximos aos da área nativa. Além disso, o solo da pastagem melhorada apresenta grande quantidade de carbono em formas que irão permanecer ali por muitos anos, evitando que esse carbono seja convertido rapidamente a CO2 e liberado para a atmosfera”, diz.

Nas análises, Diana constatou que, em termos de quantidade de carbono no solo, a agricultura anual é melhor ou igual à pastagem degradada, porém é inferior à pastagem melhorada. Já os solos de fruticultura e horticultura ocupam uma posição intermediária, pois recebem adubação (esterco e compostos orgânicos) e por isso conseguem acumular carbono.

A tese de doutorado Mudança de uso da terra e impacto na matéria orgânica do solo em dois locais do Leste da Amazônia foi defendida em 2013 e fez parte do grupo de trabalhos avaliados na área temática Redução de gases de efeito estufa (GEE). (Agência USP/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site Agência USP.