Ambiente

Pecuária: em vinte anos, rebanho bovino do Amazonas cresceu três vezes mais que a média nacional

Rebanho bovino do Amazonas está concentrado principalmente no Sul do Estado. Foto: © WWF-Brasil/ Zig Koch
Rebanho bovino do Amazonas está concentrado principalmente no Sul do Estado. Foto: © WWF-Brasil/ Zig Koch

Por Jorge Eduardo Dantas –

Manaus (AM) – Um estudo inédito, divulgado no início desta semana, revelou que o rebanho bovino do Amazonas cresceu 73% entre 1990 e 2012 – este índice é superior à média de crescimento nacional, que foi de 24% no mesmo período.

Esse e outros dados foram divulgados na tarde da última segunda-feira (5), durante o lançamento da publicação “A Cadeia Produtiva da Carne Bovina no Amazonas”, produzida pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) e pelo WWF-Brasil.

O livro traz um diagnóstico sobre a produção e o consumo de carne de boi, com informações sobre o rebanho, o abate, a produção, o transporte e o consumo; e sobre os atores sociais envolvidos nesta cadeia produtiva.

Segundo o estudo, que foi apresentado por um de seus autores – o gerente do Programa de Produção Rural Sustentável do Idesam, Gabriel Carrero – o Amazonas possui hoje um rebanho de 1,3 milhões de cabeças de gado, distribuídos por 17 mil propriedades rurais.

Crescimento

As cidades de Apuí, Boca do Acre e Manicoré, no Sul do Estado, são os municípios com o maior número de cabeças de gado, com 54% do rebanho de corte do território. Eles também são aqueles com maior área desmatada, ficando evidente que eles têm sido o “motor” da atividade no Estado e onde a pecuária deve crescer mais rapidamente nos próximos anos.

Uma informação trazida no relatório mostra que, nos últimos vinte anos, o Sul do Amazonas viu um enorme crescimento em seu rebanho: em 1990, eram 100 mil cabeças de gado; em 2012, este número era de 700 mil.

Outros dados mostraram que, apesar desses números, a produção bovina amazonense ainda é muito baixa – 0,06 animais por hectare; e média de 75 animais por propriedade rural.

Clandestinos

Descobriu-se ainda que o Estado tem 52 abatedouros em todo o seu território. Mas apenas 15 (29%) deles são legalizados, o que configura um enorme risco sanitário para a população do interior – já que o abate do gado é feito em propriedades rurais e sem qualquer tipo de controle ou fiscalização.

Outras constatações do relatório foram o fato de que a maior parte (70%) da carne bovina consumida pelos amazonenses vem de outros Estados, principalmente do Acre e de Rondônia; e que o consumo de carne de boi cresceu 8% entre 2002 e 2008 no Amazonas – ao contrário do consumo de peixe, que caiu quase 20% no mesmo período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Debate

O lançamento da publicação foi seguido de um debate, que contou com a participação de órgãos do poder público, do empresariado e de entidades representativas do setor.

Entre as questões discutidas na ocasião, estava a adoção de novas tecnologias que pudessem aumentar a produtividade da pecuária amazonense; as condições de transporte de gado no interior, que ainda são muito precárias; e a regularização fundiária, que poderia dar segurança jurídica e promover o acesso a benefícios e linhas de créditos para os produtores rurais.

Questão fundiária

Para o especialista em pecuária sustentável do WWF-Brasil, Ivens Domingos, o grande problema da pecuária do Amazonas é a dificuldade de promover a regularização fundiária.

“Sem essa regularização, os produtores têm dificuldades de acesso a financiamentos e não aderem ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). Isso torna mais difícil a implementação de boas práticas produtivas, que é o que nos interessa”, afirmou o especialista.

Segundo Ivens, a melhoria da eficiência, por meio das boas práticas, pode ajudar na redução do desmatamento, na adesão ao CAR e na fiscalização das propriedades rurais.

“É importante notar que já existem boas iniciativas em andamento, como as ações desenvolvidas pelo Idesam com as unidades demonstrativas em Apuí. Então temos exemplos de práticas que devem ser fortalecidas e expandidas para outros municípios do Sul do amazonas”, disse Ivens.

O diretor-executivo do Idesam, Carlos Gabriel Koury, afirmou que a publicação do estudo é um primeiro passo para uma discussão mais qualificada sobre a pecuária no Amazonas. “Sentimos que as boas práticas na pecuária é um tema que precisa ser fomentado e debatido, e que tem uma relação muito próxima com a questão climática”, declarou.

Fundamental importância

O WWF-Brasil acredita que a parceria com o setor produtivo é de fundamental importância para que os objetivos de produzir sem destruir a natureza sejam alcançados, garantindo a sustentabilidade ambiental para as futuras gerações.

Desde 2003, trabalhamos com a Pecuária Orgânica no Pantanal e buscamos definir, de maneira transparente e participativa, princípios e padrões comuns a serem adotados pelo setor, que garantam o desenvolvimento de uma pecuária sustentável, socialmente justa, ambientalmente correta e economicamente viável.

O WWF-Brasil preza pelo debate sobre a pecuária, estimulando as discussões sobre os critérios de desenvolvimento da atividade, em todos os elos que compõem a sua cadeia. (WWF Brasil/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site WWF Brasil.