Em conversa pelos corredores da Conferência de Paris, Izabella Teixeira descartou a hipótese de que o câmbio favoreceu o aumento do desmate.
Por Ana Carolina Amaral, de Paris
O aumento do desmatamento da Amazônia em 16% no último ano parece não ter afetado a relação do Brasil com países doadores do Fundo Amazônia, através do qual o Brasil já recebeu U$1 bilhão por parte da Noruega desde 2008. Hoje os dois países assinaram uma prorrogação da parceria para até 2020, período em que a Noruega deve doar mais U$626 milhoes. O Fundo é administrado pelo BNDES e orientado pela performance no combate ao desmatamento. Para a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, os países entendem que o “o desmatamento vai oscilar de um ano para o outro”.
Em conversa pelos corredores da COP-21, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, Izabella descartou a hipótese de que o câmbio tenha favorecido o aumento do desmate, embora a agropecuária seja uma das únicas atividades com crescimento no último trimestre, conforme análise do Infoamazônia. “Os dados da moratória da soja no Mato Grosso, onde o aumento foi de 40%, mostram que essas coisas não estão relacionadas”, argumenta a ministra. “Isso [o aumento do desmatamento] se deve a instrumentos adotados que não deram certo. Precisamos trabalhar uma nova estratégia”, admitiu, citando entre seus esforços o aumento de 30% nas atividades de fiscalização.
A boa notícia é que, ao contrário dos anos anteriores, em que quase todos os estados amazônicos participavam do aumento do desmate, neste ano eles são apenas três: Mato Grosso, Rondônia e Amazonas. Os governadores dos três estados devem se reunir com a ministra ainda durante a COP-21. Entre as pistas do que teria motivado o aumentado anunciado na última semana, ela cita em Rondônia a decisão da Assembleia Legislativa de desafetar, “numa tacada só”, as Unidades de Conservação do estado. “Não estou botando a culpa nos estados, mas precisamos entender o que aconteceu junto às políticas estaduais para fazer uma avaliação”, justifica.
O modelo de conservação brasileiro foi elogiado hoje na COP-21 pelos pesquisadores do Wood Hole Research Center; mas, diferente do que destacou no mesmo encontro o ministro Joaquim Levy, o bom exemplo não está no novo Código Florestal. Segundo estudo lançado hoje pelo Wood Hole, são as comunidades indígenas quem têm um papel estratégico para a conservação. No Brasil, vale lembrar que está em tramitação a PEC 215, que transfere para o Congresso o poder de definir a demarcação dos territórios indígenas, hoje prerrogativa do Executivo.
O Wood Hole Research Center quantificou pela primeira vez a importância dos indígenas para o combate às mudanças climáticas. O resultado mostra que 20% do carbono estocado no mundo está sob proteção de comunidades indígenas. Para o porta-voz do estudo e especialista em monitoramento de florestas, dr. Wayne Walker, “combater a vulnerabilidade desses territórios pode ser uma estratégia-chave para evitar emissões causadoras da mudança climática no mundo.” (#Envolverde)
* Ana Carolina Amaral é jornalista formada pela Unesp, mestra em Ciências Holísticas pelo Schumacher College (UK) e moderadora da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.