por Gilberto Natalini* –
O Brasil vive e sofre com a catástrofe climática do Rio Grande do Sul.
Os “diferentes” ficaram semelhantes no que há de mais nobre da alma humana: a solidariedade.
Até os governos, que vivem se arranhando em rusgas ridículas, se juntaram. União, Estados e Municípios, num grande mutirão republicano, há tempos não visto.
Foi preciso o intenso nervosismo do clima, com um fenômeno extremo de chuvas devastadoras, para o Brasil dar um exemplo mundial de como podemos ser solidários quando queremos sê-lo.
A manifestação das mudanças climáticas foi inédita no RS e no Brasil. Choveu em poucos dias o equivalente para o ano inteiro.
Foram mais de 300 cidades atingidas, submersas, destruídas, submetidas à força das águas.
A capital Porto Alegre, que já tinha experimentado cheias em 1902 e 1941, viu como foi possível a situação ser muito pior agora.
São 700 mil gaúchos desabrigados, quase 200 mortos, e um prejuízo financeiro ainda não calculado pelo tamanho do estrago.
Sem falar, é claro, do sofrimento mental, da dor de perder entes queridos, de ver seu lar ser arrasado, suas empresas e empregos, lavouras e criações serem atingidos, sua cidade e seu estado submersos.
Temos manifestações cruéis e mesquinhas de gente que se aproveita da tragédia para fazer política rasteira, espalhando fake news e críticas destrutivas. Além de facções e bandos de criminosos que assaltam, saqueiam e abusam de pessoas. A esses, nosso repudio e a força da lei.
Mas, dentro dessa enorme hecatombe climática temos que tirar um exemplo.
O Brasil, apesar de todos os avisos e propostas feitos nós, ambientalistas, e por ilustres climatologistas, como Carlos Nobre, José Marengo e Paulo Artacho, não se preparou e não se prepara para as mudanças climáticas que estão aí na nossa vida. No ano passado, tivemos doze fenômenos climáticos extremos no Brasil.
Esse desleixo está no governo federal, nos governos estaduais e municipais, independente do partido ou da corrente política que está no poder.
No Congresso Nacional atual, um predador ambiental contumaz, tramitam 25 projetos de lei que querem reduzir as regras de proteção ambiental.
Numa pesquisa a que tive acesso há dois anos, 97% dos entrevistados disseram que sabiam das mudanças climáticas e de suas consequências. Mas somente 27% estavam dispostos a fazer alguma coisa prática na sua vida para prevenir e combater a situação.
Uma imensa distância entre a intenção e gesto.
Tenho dito que o MEIO AMBIENTE no Brasil, e também no mundo, é “o último que fala e o primeiro que apanha”.
Fica o trágico exemplo do Rio Grande do Sul. Agora, trata-se de recuperá-lo.
Mas, além disso, é preciso partir para a mitigação e a adaptação em cada canto do Brasil.
Os governos, os empresários, inclusive o agronegócio, as instituições da sociedade civil, e cada pessoa do povo brasileiro precisam tomar uma atitude, e correr, correr muito para preparar o nosso país para as peças de mau gosto que o clima vai nos pregando.
*Gilberto Natalini é médico, foi vereador e titular da Secretaria Municipal de Mudanças no Clima, em São Paulo. É ativista social e ambiental.