Por Alison Kentish –
DOMINICA, 12 de fevereiro de 2024 (IPS) – Um relatório sobre o estado das espécies migratórias no mundo pede medidas aceleradas de conservação global para combater a ameaça de extinção enfrentada por 1 em cada 5 de todas as espécies migratórias.
O relatório foi lançado na conferência de imprensa de abertura da 14ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens (CMS COP14) em Samarcanda, Uzbequistão, em 12 de fevereiro.
É a primeira avaliação abrangente de animais migratórios – espécies que viajam para diferentes partes do mundo todos os anos. Eles incluem espécies oceânicas como tubarões e tartarugas marinhas, animais terrestres como elefantes, bem como aqueles que realizam viagens aéreas como pássaros e borboletas. Os autores do relatório afirmam que as viagens notáveis das espécies migratórias não apenas ligam o mundo; eles oferecem um ângulo único para pesquisar e compreender a magnitude das mudanças planetárias.
O relatório concluiu que o estado de conservação das espécies migratórias em geral está a deteriorar-se. Os seus resultados foram descritos como “surpreendentes” pela Secretária Executiva da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens (CMS), Amy Fraenkel.
“A superexploração aparece como a maior ameaça para muitas espécies migratórias, ultrapassando a perda e fragmentação de habitat”, afirmou ela no relatório. “Isso inclui a retirada de espécies da natureza por meio de remoção intencional, como por meio de caça e pesca, bem como a captura incidental de espécies não-alvo. A captura acidental de espécies não-alvo na pesca é uma das principais causas de mortalidade de muitas espécies marinhas listadas no CMS.”
Situação das espécies migratórias mundiais, Crédito: CMS
Algumas das descobertas preocupantes incluem declínios populacionais para quase metade das espécies migratórias do CMS, ameaças de extinção para quase todos (97%) dos peixes listados no CMS e um risco crescente de extinção para espécies migratórias a nível mundial, incluindo aquelas não listadas no CMS.
Importância das espécies migratórias
“As espécies migratórias são de importância ecológica, econômica e cultural. Dentro dos ecossistemas, desempenham uma variedade de funções cruciais, que vão desde a transferência em grande escala de nutrientes entre ambientes até aos impactos positivos dos animais que pastam na biodiversidade das pastagens”, afirma o relatório.
Acrescenta que os habitats e movimentos destas espécies estão em risco, com metade sendo submetidas a níveis insustentáveis de pressão induzida pelo homem.
“A urgência de medidas para proteger e conservar estas espécies torna-se ainda maior quando consideramos o papel integral, mas subvalorizado, que desempenham na manutenção dos ecossistemas complexos que sustentam um planeta saudável – através, por exemplo, da transferência de nutrientes entre ambientes, da realização de pastoreio migratório que apoia a manutenção de habitats de armazenamento de carbono e serviços de polinização e dispersão de sementes”, disse Inger Andersen, subsecretário-geral da ONU e diretora executivo do Programa Ambiental da ONU.
A realidade atual das espécies migratórias e o custo da inação ou de ações inadequadas são preocupantes, mas o relatório está repleto de esperança e de recomendações concretas para uma ação global.
Contém uma secção dedicada às ações políticas propostas. Entre as mais cruciais estão a necessidade de abordar a captura insustentável e ilegal de espécies migratórias a nível nacional, medidas para reduzir as capturas acessórias e outras capturas acidentais, e a identificação e reconhecimento de todos os locais significativos para espécies migratórias.
“Proteger, conectar e restaurar”
As recomendações são “proteger, conectar e restaurar” habitats, combater a superexploração, reduzir os impactos prejudiciais da poluição ambiental, abordar as causas profundas e os impactos transversais das alterações climáticas e garantir que os apêndices do CMS protegem todas as espécies migratórias que necessitam de novas ações de conservação. Apelam também ao “acompanhamento” dos compromissos globais para a restauração dos ecossistemas.
“Isso inclui aqueles vinculados à Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas e à Meta 2 do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal para garantir que pelo menos 30% dos ecossistemas terrestres, de água interiores e costeiros e marinhos degradados estejam sob restauração efetiva até 2030. Para apoiar estes esforços, desenvolver e implementar planos nacionais de restauração focados na restauração e manutenção de habitats importantes para espécies migratórias”, afirma.
Inger Andersen, do PNUA, afirma que o relatório é um marco importante no estabelecimento de um roteiro para a conservação das espécies migratórias.
“Dada a situação precária de muitos destes animais e o seu papel crítico para ecossistemas saudáveis e em bom funcionamento, não devemos perder esta oportunidade de agir – começando agora pela implementação urgente das recomendações estabelecidas neste relatório”, afirmou.
Para Amy Fraenkel, do CMS, a conservação das espécies migratórias é uma responsabilidade partilhada entre as nações do mundo.
“As espécies migratórias são um tesouro natural partilhado. Este relatório histórico ajudará a sustentar ações políticas tão necessárias para garantir que elas continuem a atravessar os céus, terras, oceanos, lagos e rios do mundo.”
Relatório do Bureau da ONU do IPS
