Política Pública

Sobe pressão para libertar adolescentes

Por Init Ekott, da IPS –

Abuja, Nigéria, 17/11/2016 – Depois do anúncio da recuperação de outra das adolescentes sequestradas pelo grupo Boko Haram na Nigéria, se renovaram as cobranças para que o governo redobre esforços para resgatar todas elas. Com a libertação de outra estudante de Chibok, já são 23 as adolescentes recuperadas, das 219 sequestradas em uma escola secundária do nordeste do país, em abril de 2014.

Esse resgate ocorreu um mês após um acordo com o governo pelo qual a organização islâmica libertou 21 jovens. Antes, no início de maio, Amina Ali foi a primeira adolescente a ser recuperada. O anúncio, feito no dia 12 deste mês, atraiu a atenção mundial e reavivou os pedidos dos ativistas para que as autoridades intensifiquem seuempenho para libertar as outras jovens.

“É 933º dia de seu sequestro; 197 moças continuam cativas sob seu olhar, senhor presidente @MBuhari. É hora de trazê-las para casa”, tuitou Maureen Kabrik, integrante da organização Bring Back Our Gils (Tragam de Volta Nossas Meninas), em mensagem dirigida ao chefe de governo, Muhammadu Buhari, após a libertação de 21 jovens no começo de outubro.

A organização, criada para denunciar a difícil situação das meninas no contexto do mal-estar internacional gerado pelo caso em 2014, anunciou, no dia 14 deste mês, que divulgaria um informe com detalhes das ações realizadas pelas autoridades durante seis semanas para resgatá-las.Os ativistas acusam Buhari de não fazer todo o possível para libertar as jovens, contrariando a promessa eleitoral que fez há um ano.

Junto com outros grupos, a organização convocou várias manifestações de rua em Abuja durante meses. Entre agosto e setembro, organizaram um protesto a cada 78 horas na residência presidencial e ameaçaram aumentar o ritmo para 48 horas em novembro. Atualmente, dizem que tomarão medidas adicionais para pressionar o governo pela libertação das jovens.

“Nossa obrigação de exigir o resgate das restantes 197 adolescentes de Chibok é mais forte do que nunca”, destacou Oby Ezekwesili, ex-ministra da Educação, executiva do Banco Mundial e uma das fundadoras da organização.

O Boko Haram, que há sete anos tenta criar um califado no nordeste do país, sequestrou mais de 270 adolescentes de uma escola secundária em abril de 2014, porque se opõe à educação ocidental. Além disso, matou mais de 20 mil pessoas, entre elas professores.

Em setembro, a Iniciativa 21st Century Wilberforce, com sede nos Estados Unidos, e a Fundação Stefanus informaram que 611 professores morreram pelos enfrentamentos com o grupo insurgente desde 2009. O informe indica que 19 mil professores foram deslocados, 1.500 escolas fechadas e 950 mil meninas e meninos não tiveram oportunidade de estudar.

O Boko Haram sequestrou centenas de homens, mulheres e crianças, mas o sequestro das adolescentes de Chibok atraiu a atenção internacional, mobilizada pela campanha #Bring Back Our Girsl, no Twitter. O presidente Buhari baseou sua campanha eleitoral na promessa de combater a corrupção, derrubar o Boko Haram e resgatar as jovens. Em setembro, e sob pressão de ativistas, o governo divulgou informação sobre sua tentativa de trocar as jovens por insurgentes.

Na verdade, o ministro de Informação, Lai Mohammed, declarou que as conversações começaram quase dois meses depois de Buhari assumir, em maio de 2015.Mas a negociação fracassou no último momento, mesmo depois de o presidente ter tomado a “difícil decisão” de libertar os combatentes. Buhari reafirmou que “a libertação das jovens continua sendo fundamental e sacrossanta”, enfatizou o ministro.

Centenas de pessoas se reuniram em Nova York, em maio de 2014, para pedir a libertação das estudantes sequestradas pelo grupo Boko Haram na Nigéria. Em 2016, foram recuperadas 23, mas a maioria permanece em cativeiro. Foto: Michael Fleshman/ccby 2.0.
Centenas de pessoas se reuniram em Nova York, em maio de 2014, para pedir a libertação das estudantes sequestradas pelo grupo Boko Haram na Nigéria. Em 2016, foram recuperadas 23, mas a maioria permanece em cativeiro. Foto: Michael Fleshman/ccby 2.0.

 

Outra tentativa de reiniciar o processo, em dezembro de 2015, também fracassou, em parte pela crise de liderança dentro do grupo insurgente. Após a libertação de 21 jovens em outubro, graças a um acordo intermediado pela Cruz Vermelha e pela Suíça, o governo nigeriano assegurou que “logo” serão recuperadas outras 83 adolescentes. Além disso, o porta-voz da Presidência, Garba Shehu, informou que as conversações avançaram.

Mas as semanas passam e as jovens permanecem cativas, as demandas se intensificaram e a euforia inicial gradualmente deu lugar ao desencanto.“É um triste consolo, pois 197 jovens seguem nas mãos de seus sequestradores, mais de 900 dias após serem levadas”, lamenta um editorial do jornal local The Guardian, publicado no dia 1º deste mês. “Ninguém apagará as marcas do terrível golpe infligido contra as jovens, os seus pais, esta nação e aos seus amigos estrangeiros até que regressem”, acrescentou o diário.

A organização Bring Back Our Girls afirmou que, embora tenha havido certa melhora, o governo tem que fazer muito mais para recuperar as jovens. A organização divulga diariamente lembranças nas redes sociais de quanto tempo as adolescentes estão sequestradas e de quanto tempo no governo de Buhari. “Custe o que custar controlar a situação do Boko Haram, o faremos, porque ainda há mais meninas cativas”, ressaltou o ministro de Informação na primeira semana deste mês.

“Além de resgatá-las, seremos responsáveis por seus objetivos pessoais, educacionais e profissionais e por suas ambições de vida”, afirmou Buhari após receber as 21 jovens recuperadas. “Estas queridas filhas nossas viram o pior que o mundo tem para oferecer”, acrescentou.“É frequente que o regresso das jovens à família e à sua comunidade seja o início de uma nova situação de dificuldades para elas, pois a violência sexual que sofreram lhes impõe um estigma”, diz um comunicado do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Entretanto, o governo nega que as jovens tenham sofrido abusos ou violação durante esses dois anos e meio de cativeiro.

A Fundação Thompson Reuters mencionou, no dia 9 deste mês, um informe confidencial realizado a partir de entrevistas com as jovens, no qual diz que se promoveu seu casamento com os combatentes, embora nunca as tenham obrigado, bem como não as pressionaram para se converterem ao Islã. O documento também diz que 61 jovens se casaram com combatentes do Boko Haram e as que não aceitaram foram tratadas como empregadas.

Mas os analistas de segurança se preocupam com a possibilidade de terem sido doutrinadas. “Nos preocupa terem sido doutrinadas e não queiram regressar a Chibok”, apontou Cheta Nwanze, do serviço de SBM Intelligence, que oferece análise da situação sociopolítica e econômica nigeriana. “Somos otimistas de que o segundo grupo de jovens recuperadas nos dê mais informação de inteligência sobre as condições das que ficaram”, acrescentou. Envolverde/IPS