Clima

Sociedade Civil critica a falta de financiamento para as adaptações às mudanças climáticas

Por Pedro Z. Malavolta, de Paris, especial para  a Envolverde – 

Após o anúncio da versão do “Acordo de Paris”, várias organizações da sociedade civil deram suas opiniões sobre o texto final. As avaliações variaram entre otimismo e decepção. Em consenso apenas a crítica a questões do financiamento à adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.

A Climate Action Network (CAN), foi a primeira a falar. Ela reúne grandes ONGs como Greenpeace, WWF, Oxfam e Christian Aid. Para essa rede, a presença da meta de 1,5º do aumento da temperatura é positivo, assim como a meta de zerar as emissões líquidas de emissão de carbono na segunda metade deste século, mas ainda acreditam que muito precisa ser feito.

O diretor executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo, sintetizou: “Esse acordo sozinho não vai nos tirar do buraco em que estamos”. Ele exemplifica com a questão de zerar as metas líquidas de emissão de carbono: “Efetivamente isso significa que precisamos parar de usar combustíveis fosseis em 2050.”

Samantha Smith, do WWF, defendeu que a presença da meta de 1,5º de aquecimento é “um sinal de que os governos estão finalmente alinhados com a ciência e a sociedade civil”. E avisa que a partir de agora todas as ações deles deverão ser analisadas “com a perspectiva de como atingir essa meta”.

“A questão da adaptação é uma grande decepção”, declarou Tim Gore, da Oxfam. Na sua avaliação o valor apresentado é suficiente e não há clareza se haverá financiamento continuo para a adaptação às mudanças climáticas. No entanto, ele acredita que essa situação vai mudar. “Esse tema será mais importante no futuro. Quando os países mais desenvolvidos começarem a sentir os efeitos das mudanças climáticas”.

Para o representante da Christian Aid, Mohamed Adow, o Acordo de Paris deverá servir como instrumento de pressão. “Os compromissos que temos até agora não garantem que vamos atingir apenas 1,5 de aquecimento, nem mesmo o limite de 2º. Mas precisamos usar esse gancho para conseguir novas conquistas”, declarou.

Visão pessimista

“Eu pensei que se eu quisesse ser ouvida pela imprensa, eu deveria dizer algo positivo. Mas é difícil dizer qualquer coisa de positivo sobre esse acordo”. Foi assim que Lidy Nacpil começou a sua declaração. Filipina, Nacpil coordena um movimento pelo perdão das dívidas dos países pobres da Ásia e integra a rede de movimento Climate Justice, que falou logo após a CAN. Nacpil lembrou que em Copenhague já havia a previsão de US$ 100 bilhão para ajudar nas mudanças climáticas.

Azeb Girmai, diretora da ONG LDC Watch International, foi ainda mais incisiva na sua avaliação. “Hoje é o dia mais triste para os pobres que vivem nos países em desenvolvimento, principalmente na África”, afirmou. Segundo ela o acordo não traz nada sobre as pessoas já afetadas pelas mudanças climáticas. Outro crítico ao acordo foi Erich Pica, presidente do Friends of Thr Earth nos EUA. Para ele, os Estados do mundo aceitaram a proposta dos EUA e receberam em troca “muito pouco”, a redução de 20% das emissões do país. (#Envolverde)

Acesse aqui o acordo final da COP21.

* Pedro Z. Malavolta é jornalista, trabalhou na Agência Brasil, no portal iG e no instituto Ethos.