Clima

Sociedade civil pede pela exclusão dos grandes poluidores das conversações em Paris

Dentro da UNFCCC, grandes poluidores como a indústria de combustíveis fósseis e de fornecimento de energia institucionalizaram com sucesso sua influência no processo. Foto: Shutterstock
Dentro da UNFCCC, grandes poluidores como a indústria de combustíveis fósseis e de fornecimento de energia institucionalizaram com sucesso sua influência no processo. A sociedade quer afastar esses grandes poluidores das conversações de Paris. Foto: Shutterstock

Bonn, Alemanha – Na sequência das recentes descobertas de que a influência corporativa está minando o progresso das políticas climáticas globais e de uma chamada do Congresso dos EUA para uma investigação sobre a ExxonMobil, a sociedade civil está montando uma campanha histórica para afastar os poluidores das políticas climáticas.

A campanha e a nova plataforma global chamada Kick Big Poluters Out  (Chute os Grandes Poluidores para Fora) está sendo lançada a partir de Bonn, onde acontece a última semana de negociações da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) antes das CoP21 em Paris. O lançamento acontece poucos dias depois de ações globais do Quênia até a Colômbia, Uganda e Sri Lanka convocando as delegações a se manterem firmes contra a interferência da indústria, que aumentou recentemente em face da aceleração ação global.

“Em todo o mundo as pessoas estão chamando para a ação agora. Não temos tempo a perder; os governos devem agir agora”, disse Jesse Bragg da Corporate Accountability International. “Há muitas vidas em risco hoje para deixar o amanhã nas mãos dos poluidores que estão causando o problema. ”

O movimento ganhou força com o lançamento de um relatório da InfluenceMap que expõe as verdadeiras intenções das grandes petrolíferas na política climática. O relatório, o primeiro a comparar o RP das companhias de petróleo com o muitas vezes contraditório lobby e advocacy feitos em seu nome pelos seus muitos grupos de frente confirmou o que muitos já sabem há algum tempo: as grandes empresas de petróleo não têm intenções cumprir o que falam sobre as alterações climáticas .

Do patrocínio direto e cooptação de falas na UNFCCC até as comissões e iniciativas consultivas externas, a interferência da indústria dos combustíveis fósseis na definição de políticas é um obstáculo em todos os níveis. Na sexta-feira, a Oil and Gas Climate Initiative – uma aliança de alguns dos maiores produtores de petróleo e gás do mundo – divulgou um relatório pró-petróleo defendendo soluções “baseadas no mercado” amigáveis à indústria. E, apenas algumas semanas atrás Shell e BHP Billiton anunciaram uma parceria com a McKinsey Consulting para “aconselhar” os governos sobre a política climática. Ambos os esforços foram recebidas com ceticismo por grupos ambientalistas e pela mídia.

Dentro da UNFCCC, grandes poluidores como a indústria de combustíveis fósseis e de fornecimento de energia institucionalizaram com sucesso sua influência no processo. Em maio, foi revelado que a próxima Conferência das Partes (COP 21) seria mais um “COP Corporativa”, com o anúncio de uma série de patrocinadores corporativos, incluindo Engie, EDF e Suez Environnement. Esta última, famosa por suas relações com a privatização da água, é parcialmente controlada pela Engie, que lucra com operações de fracking ao redor do mundo, colocando-se em contradição direta com o avanço do tratado.  As atuais operações de carvão da EDF e da Engie representam o equivalente a quase metade das emissões totais da França.

Atualmente, a participação da indústria no processo de formulação de políticas não só é permitido, como é incentivado, independentemente do histórico ambiental da corporação. A Agenda de Ação Lima-Paris (LPAA), um projeto conjunto dos presidentes  da COP, o Gabinete do Secretário-Geral das Nações Unidas e ao Secretariado da UNFCCC, incentiva o engajamento direto com os atores não-governamentais – principalmente identificados como governos sub-nacionais e corporações – como partes interessadas no processo de formulação de políticas. Até o momento, a LPAA envolve mais de 1.100 empresas, incluindo grandes corporações dos combustíveis fósseis, empresas de transporte e de fornecimento de energia. Tal iniciativa não só permite o greenwash de imagem a alguns dos maiores poluidores do mundo como lhes dá o acesso, e alavancagem no processo do tratado.

Estas táticas – cooptação, apropriação e postura de RP – são os mesmos que foram utilizados pelas grandes empresas de tabaco para tentarem se posicionar ao lado da saúde e evitar a ação de controle do tabaco. A campanha Kick Big Polluters Out parte do movimento para controlar a indústria do tabaco durante o desenvolvimento da Convenção-Quadro da Organização Mundial da Saúde para Controle do Tabaco (FCTC). A FCTC, que entrou em vigor em 2005, contém uma disposição juridicamente vinculativa para mitigar os conflitos de interesse que a indústria do tabaco coloca ao desenvolvimento e execução de políticas públicas de saúde e de controle do tabaco.

O lançamento oficial dessa plataforma hoje parte de uma base de mais de 350.000 pessoas que já convidaram os seus governos a agir. Na quinta-feira, grupos irão realizar um evento em Bonn para discutir em detalhes o impacto que a interferência das empresas estão tendo sobre os resultados da política nacional e internacional sobre o clima.

Para mais informações, acesse: www.KickBigPollutersOut.org