por Verônica Bilyk –
Em São Paulo, onde o concreto domina, a arborização não é apenas uma questão estética – é uma necessidade vital para enfrentarmos a crise climática que já bate à nossa porta. É muito simples observar como a presença – ou ausência – de árvores impacta na qualidade de vida dos paulistanos.
Afinal as árvores contribuem com a melhoria da qualidade do ar, absorvem poluentes e liberam oxigênio. Reduzem temperaturas, reduzem poluição sonora; as raízes das árvores promovem a saúde do solo e evitam a erosão; reduzem o impacto das chuvas. As copas das árvores retêm as águas das chuvas e abrigam pássaros que comem insetos e espalham sementes. O contato com a natureza promove a queda da ansiedade e do estresse, e alivia a depressão.
A disparidade na distribuição de áreas verdes em São Paulo conta uma história de desigualdade ambiental. Enquanto bairros como Pinheiros e Jardim Paulista ostentam ruas arborizadas e praças bem cuidadas, grandes porções da cidade, especialmente nas periferias, sofrem com o que chamamos de “desertos verdes” – áreas com pouca ou nenhuma cobertura arbórea. Mas, também não é dizer que as árvores nas regiões centrais e menos vulneráveis estejam recebendo um bom tratamento. Longe disso. Tenho acompanhado os CADES (Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) travando uma dura batalha para garantir diagnósticos mais precisos das árvores na tentativa de evitar o alto número de cortes desnecessários.
Nos “desertos verdes”, a ausência de plantio gera graves consequências como temperaturas 4°C mais altas do que em áreas bem arborizadas. Isso não é apenas um desconforto – é uma questão de saúde pública. O calor extremo afeta principalmente idosos e crianças, aumentando casos de problemas respiratórios e cardiovasculares.E a longo prazo, como pode uma paisagem árida contribuir com o bem-estar do cidadão?
São Paulo poderia buscar, como meta em 20-30 anos, se tornar a cidade mais bem arborizada da América Latina. Com um planejamento que considerasse, com toda certeza::
- A escolha adequada das espécies nativas, que se adaptam melhor ao nosso clima e contribuem para a biodiversidade local
- O envolvimento da comunidade no plantio e manutenção das árvores
- A educação ambiental para criar consciência sobre a importância da preservação
O momento de agir é agora. Com as mudanças climáticas se intensificando, precisamos de políticas públicas robustas e fiscalização que priorizem o plantio e a preservação de árvores em todas as regiões da cidade. Isso inclui:
- Metas ambiciosas de plantio com cronogramas definidos
- Incentivos fiscais para proprietários que mantêm áreas verdes
- Proteção efetiva das árvores existentes
- Participação ativa da população nas decisões sobre arborização
São Paulo pode e deve ser uma cidade mais verde, mais resiliente e mais igualitária em termos ambientais. A arborização urbana não é um luxo – é uma necessidade urgente para garantirmos um futuro habitável em nossa cidade.
Verônica Bilyk – Ativista urbana, presidente da Associação de Moradores e Amigos dos Predinhos de Pinheiros (AMAPP) e co-fundadora do Pro-Pinheiros. Publicitária de formação com MBA em gestão de projetos. Dedica-se a iniciativas de desenvolvimento urbano sustentável em São Paulo, com foco em meio-ambiente e fortalecimento comunitário.