Por Dal Marcondes, da Envolverde –
A aliança busca construir parcerias em regiões onde a baixa oferta de água de qualidade compromete a saúde e o desenvolvimento local
Pelos rios da Amazônia corre cerca de 13% de toda água doce do planeta. No entanto, é nessa região que a população mais sofre com a falta de água potável e com as doenças provocadas pelo consumo de água contaminada. As distâncias e a precariedade dos transportes são os principais obstáculos que o poder público enfrenta para chegar principalmente às populações ribeirinhas e comunidades mais distantes dos centros urbanos. Nessas áreas, é fundamental o apoio de alianças entre governos, iniciativa privada e sociedade civil. É o caso do programa Água+ Acesso, lançado pelo Instituto Coca-Cola Brasil, que procura construir parcerias com organizações sociais para levar saúde e qualidade de vida a milhares de pessoas. O foco é em ações que fortalecem o empoderamento das comunidades na solução de suas carências em água e saneamento básico.
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A aliança Água+Acesso foi lançada em março de 2017, com suporte do Instituto Coca-Cola Brasil, em parceria com Banco do Nordeste, Fundación Avina, Instituto Trata Brasil, WTT (World-Transforming Technologies) e algumas das principais organizações que atuam com o tema água no Brasil, como SISAR Ceará, Projeto Saúde e Alegria e Fundação Amazonas Sustentável. Juntas, essas entidades trabalham em mais de duas mil comunidades.
Além do piloto já instalado em Caucaia (Ceará), que atende a 150 famílias e 500 pessoas, este ano o programa investir mais R$ 600 mil e beneficiará diretamente mais de 800 famílias e 3.200 pessoas. “Nossa proposta é fortalecer as iniciativas consolidadas na região e que já têm resultados para mostrar”, explica Rodrigo Brito, gerente de operações do Instituto Coca-Cola Brasil.
O ponto de partida para esse grande processo colaborativo com organizações sociais é a percepção de que a água, principal insumo dos produtos da Coca-Cola Brasil, é também o principal fator para o desenvolvimento humano. “Queremos ampliar a colaboração e potencializar os modelos autossustentáveis em todo o Brasil”, diz Rodrigo, que define os pilares sobre os quais o projeto Água+ Acesso se assenta: integrar, inovar, impulsionar (que significa ampliar o impacto) e influenciar (governos, políticas públicas, comunidades).
Uma dessas organizações parceiras, que atua há mais de 20 anos na região do Rio Tapajós, com sua base em Santarém (Pará) é o Projeto Saúde & Alegria, que tem entre seus fundadores o médico Eugênio Scanavino. “Eu vim para a Amazônia pensando em cuidar da saúde das pessoas, trabalhar como médico”, explica. Mas a vida mostrou que os caminhos para cuidar da saúde na Amazônia não levam sempre aos ambulatórios. Para ele a experiência dos atendimentos nos postos de saúde era frustrante. “Todos os dias passava pela fila de pacientes perguntando quem tinha diarreia, e era quase todo mundo”. Esse choque de realidade levou à busca de caminhos alternativos, pois a constatação de que a falta de água de qualidade era o principal motivo de doenças na região e, principalmente, de morte de crianças, precisava de uma ação.
Foi quando o Saúde & Alegria passou a trabalhar em projetos de tratamento de água e coleta de esgotos nas comunidades ribeirinhas. Pequenas estações de tratamento da água e a perfuração de poços artesianos mudaram a realidade em muitas comunidades. “Quando tem água boa, as crianças não ficam doentes, não morrem, os adultos não precisam passar dias levando criança no médico e nem guardando luto, podem trabalhar e trazer a comida para casa, melhora a alimentação, as crianças podem ir à escola sem faltar, começa um círculo virtuoso de saúde, trabalho e desenvolvimento local”, conta o médico Eugênio.
“Só quem teve de passar a vida buscando água no rio, algumas vezes a quilômetros de casa, sabe o valor de abrir uma torneira com água limpa”, desabafa Maria Ondina, uma líder comunitária de Anã, que fica na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Ela explica que sua comunidade foi beneficiada pelo Projeto Saúde na Floresta, uma das iniciativas com apoio da Aliança Água+Acesso, que possibilitou a perfuração de um poço artesiano e a montagem da estação de tratamento e distribuição de água.
O projeto Saúde & Alegria já chegou, com seus Microssistemas de Abastecimento de Água com Gestão Comunitária, a quase 13 mil pessoas de comunidades de Santarém, Juruti, Belterra e Aveiro. Junto com todas as ações que ONG faz, com foco em saúde, geração de renda, educação, cultura e inclusão digital, são mais de 30 mil pessoas beneficiadas. Esses sistemas são versões reduzidas de projetos de tratamento de água, com capacidade para o abastecimento de comunidades locais.
A Coca-Cola Brasil atua dentro da visão de que a boa gestão da água fortalece as comunidades em todos os sentidos e a estratégia deve contribuir muito além dos muros das fábricas. Para isso, conta com programas de reflorestamento e recuperação das bacias hidrográficas em 100 mil hectares em todo o país. Com a eficiência na gestão de recursos hídricos em fábricas e na cadeia produtiva, reduziu em 30% do volume de água utilizado por litro de bebida produzido nos últimos 16 anos. (Envolverde)