Em algumas imagens, os tributários do grande rio Amazonas parecem gravar curvas suaves no meio da floresta em movimentos que se assemelham a um pêndulo. Em outras, os rios parecem cortar a floresta como furos, com corpos d’água formando trechos lineares e curvas mais acentuadas. Cada ângulo parece formar uma espécie de quebra-cabeça e uma sensação de movimentos imprevisíveis.
‘Amazônia’ faz muito mais do que documentar os rios que pulsam pelo Brasil e alimentam seu maior bioma. Há também seus “rios voadores” — bilhões de toneladas de vapor d’água liberadas pela floresta e transportadas por correntes de ar. Temos também as chapadas. E as chuvas: torrenciais, suave como uma cortina branca, ou mesmo chuvas impressionantes que formam nuvens que lembram cogumelos. Apesar da pujança, as precipitações na Amazônia estão cada vez mais irregulares devido ao desmatamento e às mudanças climáticas.
Além de hipnotizar os espectadores por sua biodiversidade e riqueza, ‘Amazônia’ retrata algumas das centenas de povos indígenas que habitam e protegem o que Salgado chama de “paraíso na Terra”. Entre eles, vemos os pescadores Kuikuro, que vivem na reserva do Xingu, e os Zo’é, que sobreviveram à chegada de missões religiosas nos anos 1980, bem como à devastação de seu território pela indústria da borracha.
Salgado é tão conhecido por seu ativismo para proteger as florestas e os povos indígenas do Brasil quanto por suas fotografias monocromáticas de alto contraste. A exposição traz a imponência da Amazônia para o grande público justamente em um momento em que sofre com constantes ameaças de extração de madeira, mineração e agricultura.
Embora o patrocínio para a exposição de Salgado venha de outras fontes, o Museu da Ciências de Londres foi alvo de críticas de ativistas ambientais, que acusam o museu de permitir que a companhia petrolífera Shell faça “maquiagem verde”, ou greenwash em inglês, por patrocinar exposições que discutam métodos de captura e remoção de carbono da atmosfera, quando seu próprio negócio é responsável por grandes emissões.
Enquanto isso, o que há de mais eficiente para captura e remoção de carbono corre o risco de destruição e dano permanente. Essa tecnologia está exposta em ‘Amazônia’ — e é a própria floresta.
A exposição de Sebastião Salgado está em exposição no Museu de Ciências de Londres até março de 2022, com futuras exibições planejadas no SESC São Paulo e no Museu do Amanhã no Rio de Janeiro. (Diálogo Chino/#Envolverde)