Por Sucena Shkrada Resk –
Inação diante da crise pode ter um preço muito alto, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)
A saúde pública é, em última análise, uma escolha política e a crise climática é uma crise de saúde. Esta afirmação ecoa um dos principais alertas em relatório divulgado neste mês de janeiro pela Organização Mundial da Saúde, sobre a situação da saúde no mundo na próxima década. A construção de cenários preocupantes exige ações mais efetivas dos governos, pois o recado nas entrelinhas é: corremos contra o tempo e quem quer pagar para ver?
A poluição do ar tem matado aproximadamente 7 milhões de pessoas todos os anos, enquanto as mudanças climáticas causam eventos climáticos cada vez mais extremos e têm como efeitos, a desnutrição e doenças infecciosas, como a malária. Para completar este quadro de desafios, as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) são a causa de um quarto das mortes por ataque cardíaco, derrame, câncer de pulmão e doenças respiratórias crônicas.
Com todas estas constatações, a OMS recomenda que líderes nos setores público e privado trabalhem juntos para limpar nosso ar e mitigar os impactos das mudanças climáticas na saúde. A lentidão para medidas com efeitos duradouros preocupa os especialistas responsáveis pelo relatório. Segundo o comunicado, por exemplo, apenas pouco mais de 80 cidades, em mais de 50 países, se comprometeu com as diretrizes de qualidade do ar da OMS, no ano passado.
Esta adesão é irrisória diante da proporção global e está alinhada com os principais acordos firmados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas, com metas até 2030. Argumentos não faltam. De acordo com a OMS, entre os anos de 2030 e 2050, é estimado que as mudanças climáticas causem cerca de 250.000 mortes adicionais por ano, devido apenas à desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. Os custos financeiros também são significativos, na ordem entre US$ 2 e 4 bilhões até 2030.
Um ponto de destaque no relatório é relacionado a doenças transmitidas por vetores da dengue, malária, zika, chikungunya e febre amarela, cujos registros de casos têm aumentado, à medida que as populações de mosquitos se deslocam para novas áreas, afetadas pelas mudanças climáticas. A porta de entrada que acentua as crises climática e de saúde é a ausência ou comprometimentos graves do saneamento ambiental, que trocando em miúdos, têm como pontos essenciais água, esgoto e tratamento de resíduos. Essas deficiências abrem as janelas de oportunidade para todos os tipos de infecções.
Durante a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-25), em dezembro de 2019, o relatório Panorama Global do Progresso nas Mudanças Climáticas e a Saúde, da OMS, que é resultado da pesquisa em 101 países, incluindo o Brasil, constatou que apenas metade tinha estratégia para enfrentar o problema, ou seja, hipertermia, ferimentos ou morte por temperaturas extremas e doenças como dengue, malária e cólera.
No ano de 2018, o relatório Lancet Countdown (Contagem regressiva para a saúde e mudanças climáticas), com 27 instituições acadêmicas participantes no mundo, também já trazia estes alertas. A vulnerabilidade a extremos de calor tem aumentado constantemente desde 1990 em todas as regiões. Estes elementos só reiteram a seguinte questão: quantas vidas serão perdidas ou sequeladas por causa da falta de empenho no combate às mudanças climáticas e ao aquecimento global?
*Sucena Shkrada Resk – jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
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