Por Mongabay –
- Lançado um ano após o desastre de Brumadinho, o Global Tailings Portal reúne reúne informações sobre 1.700 barragens que armazenam rejeitos de mineração no mundo inteiro.
- Cerca de 100 empresas de capital aberto compartilharam informações sobre suas barragens com a GRID-Arendal, a fundação norueguesa que desenvolveu o banco de dados.
- Os criadores do portal dizem que muitas das informações, incluindo o tamanho, a localização e os fatores de risco associados às barragens analisadas, não estavam disponíveis publicamente antes, mesmo que rompimentos nas barragens continuem a ocorrer.
Em 25 de janeiro de 2019, a barragem de Brumadinho se rompeu, liberando uma lama carregada de rejeitos da mina de minério de ferro Córrego do Feijão, em Minas Gerais. A enxurrada matou 270 pessoas e, para a Vale, a empresa que administrava a mina, foi o segundo acidente fatal em menos de quatro anos.
Essa catástrofe levou um grupo de investidores a pedir a mais de 700 empresas de mineração que compartilhassem informações sobre como armazenam rejeitos em suas minas. A partir das respostas, a GRID-Arendal, uma fundação da Noruega, criou o Portal Global Tailings, lançado no aniversário de um ano do episódio de Brumadinho.
“Este portal pode salvar vidas”, afirma Elaine Baker, professora de geociências da Universidade de Sydney, na Austrália, e especialista sênior da GRID-Arendal. “Com essas informações, todo o setor pode trabalhar a fim de reduzir falhas de barragens no futuro.”
As estimativas variam muito quanto ao número de barragens de rejeitos existentes em todo o mundo. Segundo a GRID-Arendal, existem entre 3.500 e 33 mil barragens ativas e inativas, incluindo várias tidas como “órfãs”, onde não está claro quem é responsável por garantir que não ameacem as comunidades e os ecossistemas locais.
Baker também observa que as características das barragens e o que elas contêm mudaram ao longo do tempo, aumentando a necessidade de mais transparência. “As barragens estão ficando cada vez maiores”, diz. “As empresas de mineração já exploraram a maioria dos minérios de mais alta qualidade e agora estão explorando os de menor qualidade, o que cria mais resíduos.”
Um relatório de 2017 da GRID-Arendal e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente teve como objetivo avaliar os riscos do número crescente de instalações de armazenamento de rejeitos. O relatório demonstrou como as mudanças climáticas alteraram o cálculo de quais tipos de estruturas podem suportar os padrões climáticos esperados e quanto tempo as barragens devem durar.
Mas a GRID-Arendal afirmou que muitos dos dados necessários para esse relatório não estavam prontamente disponíveis. Essa lacuna levou os autores a recomendar o desenvolvimento de um recurso junto às linhas do portal de rejeitos de minérios.
Cerca de 100 empresas de capital aberto das 727 contatadas após o desastre de Brumadinho entregaram informações sobre suas barragens de rejeitos. O portal agora permite que os usuários vejam onde estão localizados cerca de 1.700 dessas barragens, a quais empresas pertencem e a gravidade das consequências, caso as barragens se rompam.
“A maioria dessas informações nunca esteve disponível ao público”, disse Kristina Thygesen, que lidera o programa de recursos geológicos da GRID-Arendal, em comunicado. A organização planeja continuar a reunir informações de empresas de mineração, incluindo empresas privadas.
A equipe também planeja incorporar o monitoramento via satélite das barragens existentes.
“Esse banco de dados traz um novo nível de transparência ao setor de mineração”, diz Thygesen, “que beneficiará agências reguladoras, investidores institucionais, pesquisadores científicos, comunidades locais, a mídia e o próprio setor”.
Imagem de destaque: Ruptura da barragem de Brumadinho, no Brasil: feita pelo IBAMA via Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0).
Traduzido por Mariana Almeida –