Enquanto dois terços da população da América Latina e do Caribe vivem em condições de pobreza e vulnerabilidade, só uma em cada três pessoas “preocupa-se com dinheiro”.
O progresso e o bem-estar das pessoas envolvem muito mais do que “viver abaixo ou acima da linha de pobreza”, afirmam 30 especialistas, representantes de governos e de parlamentos de 10 países da América Latina e do Caribe, reunidos nesta quinta-feira (21) em Quito (Equador) em um seminário sobre o “bem-estar”, patrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o governo do Equador.
As análises, discussões e exemplos de como os países já estão adotando novas formas de entender e medir o bem-estar servirão de insumo para o próximo Relatório sobre o Desenvolvimento Humano para a América Latina e o Caribe 2016 “Progresso multidimensional: bem-estar além da renda”, do PNUD. O relatório se concentra no que está “por trás” da saída da pobreza e da ascensão da classe média na região: as “capacidades e ativos” das pessoas e domicílios, como nível de educação, posse de casa própria, acesso à proteção social e outras formas de amparo que evitam que as pessoas caiam na pobreza.
“É crucial redefinir a própria ideia de progresso; o que significa viver bem e como as pessoas percebem as transformações na nossa sociedade, já que a renda não diz tudo”, afirma a subsecretária-geral da ONU e diretora do PNUD para a América Latina e Caribe, Jessica Faieta. “Também é fundamental focar nas exclusões, discriminações e vulnerabilidades que ainda limitam as oportunidades dos latino-americanos: as novas políticas públicas têm que refletir isso”.
“Quando falamos de `bem viver’, penso em como potencializar as capacidades de todos e todas os equatorianos, como melhorar os serviços sociais, ampliando o acesso a esses serviços”, declara a ministra coordenadora de Desenvolvimento Social do Equador, Cecilia Vaca Jones. “E os próprios depoimentos dos usuários nos ajudam a entender e melhor atender as diversidades a nível local.”
Percepções de bem viver – Pesquisas realizadas pelo Gallup entre 2013 e 2014, processadas e divulgadas hoje pelo PNUD, dão indícios da percepção do bem-estar entre os latino-americanos e caribenhos.
A maioria (71%) está tão satisfeita com o seu nível de vida e com as coisas que podem comprar e fazer quanto os habitantes da União Europeia e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além disso, os latino-americanos e caribenhos são os mais satisfeitos com suas rotinas: 49% das pessoas declararam “concordar completamente” com a expressão “gosta do que faz no cotidiano”, comparadas com 38% na América do Norte, 37% nos países nórdicos e 20% na Ásia Oriental, que ficou em última posição entre todas as regiões.
Na América Latina e no Caribe, as pessoas de mais idade ou de menor nível educacional mostram graus mais elevados de preocupação, segundo os resultados da pesquisa. Enquanto 44% da população total mostrou preocupação, a porcentagem para a população de 50 anos ou mais foi de 50%, e a das pessoas com 8 anos ou menos de educação formal foi de 49%.
As percepções de homens e mulheres também são distintas. A pesquisa revelou que uma porcentagem maior de mulheres (46%) que de homens (41%) experimentou preocupação, e as mulheres (33%) revelaram preocupar-se mais com o dinheiro do que os homens (29%). Além disso, mais mulheres (27%) que homens (17%) declararam ter sentido tristeza no dia anterior.
Cerca de um terço (31%) dos latino-americanos e caribenhos já passou por preocupações financeiras. Contudo, quanto menor a renda, maior a preocupação com dinheiro. As pessoas que mais declararam preocupar-se com dinheiro segundo a renda (39%) foram as que constituem os 20% mais pobres da população. Já o grupo com maior preocupação financeira (35%) tem entre 30 e 49 anos.
“Vemos claramente a importância de se ampliar a visão para além da renda e do crescimento econômico quando um terço da população da região diz já ter tido preocupação com dinheiro, apesar de dois terços se encontrarem em situação de pobreza e vulnerabilidade (respectivamente, 25% vivem com menos de quatro dólares por dia, e 38% vivem pouco acima da linha da pobreza, com algo entre quatro e dez dólares diários, um total de 68%, segundo dados do PNUD)”, explica o economista chefe do PNUD para América Latina e Caribe, George Gray Molina.
“O progresso material e a percepção de mudanças na vida cotidiana nem sempre coincidem; por isso, estamos aqui em Quito, ouvindo experiências de vanguarda sobre noções alternativas de bem-estar, como as da Bolívia e do Equador”.
Nas próximas semanas, a equipe que prepara o relatório percorrerá a região para recolher o depoimento de pessoas de diversos grupos sociais sobre esses temas a fim de ampliar a noção do que significa ter uma vida desejável, como se mudam essas percepções dentro da mesma região, entre os distintos países, territórios, comunidades, famílias e indivíduos. O Relatório de Desenvolvimento Humano para a América Latina e o Caribe 2016 também utilizará esses dados em recomendações de políticas públicas.
Sobre a pesquisa Gallup: A informação sobre percepções de bem-estar faz parte da base de dados representativa em nível nacional da Gallup World Poll, a qual, para efeitos desse documento, inclui respostas de mais de 19 mil pessoas de 15 anos de idade ou mais nos seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.
Sobre o IDH Regional: O terceiro Relatório de Desenvolvimento Humano para a América Latina e Caribe é uma publicação com independência editorial do PNUD. O relatório está sendo elaborado com apoio financeiro da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID). Participam do Conselho Assessor do relatório mais de 20 autoridades, entre ministros, senadores, acadêmicos e os atuais líderes das principais organizações multilaterais da região. Para fazer download dos relatórios anteriores e para mais informações em inglês e espanhol clique aqui. (ONU Brasil/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site ONU Brasil.