Em tempos de consumo exagerado – e até mesmo desenfreado, por que não dizer ? – sequer paramos para perceber a segurança do que consumimos diariamente.
Na vida cotidiana vamos acumulando “coisas” em nosso organismo, que somente serão sentidas anos à frente quando nos depararmos com algum mal-estar sem ao menos identificarmos a origem que, acredite você, pode estar nas embalagens dos produtos que consumimos.
A relação consumo / meio ambiente / saúde está de fato atrelada e, nos tempos modernos, invariavelmente causando problemas na vida humana.
Se nem sempre conhecemos as características dos produtos que consumimos, imagine as conformações das embalagens. Você, afinal, já pensou nisso? É aí que entra o “Biodireito”, vindo inovar e assegurar a saúde de todos nós, por meio da informação e indicação de opções mais confiáveis e saudáveis.
Poderia citar vários exemplos para você pensar, mas vou escolher o “plástico” que na sua história vem causando inúmeros questionamentos. O plástico, mesmo antes de ser trabalhado de forma antrópica, já existia na natureza. A palavra plástico – derivada do grego plastikos, flexível – define qualquer material capaz de ser modelado com calor ou pressão para criar outros objetos.
O plástico artificial passou por inúmeras transformações com a contribuição de vários inventores. Em 1839, o americano Charles Goodyear (1800-1860) criou o processo de vulcanização da borracha, que transformava o material natural em um produto mais resistente às mudanças de temperatura. Décadas depois, em 1870, o americano John Wesley Hyatt (1837-1920) produziu celulóide a partir da celulose das plantas.
Mas uma outra revolução (maior) viria em 1907, quando o químico belga, naturalizado americano, Leo Baekeland (1863-1944) criou o primeiro plástico totalmente sintético e comercialmente viável, o Bakelite. Começava a era dos plásticos modernos, feitos à base de petróleo, carvão e gás natural.
Desde então o plástico tornou-se matéria-prima primordial dos séculos XX e XXI : embalagens e produtos no mundo inteiro podem ser os grandes aliados da “Degradação Ambiental”, quando dispostos de forma incorreta no meio.
Por muitos anos, o bisfenol A (BPA) tem sido uma das substâncias químicas de maior produção ao redor do mundo. É empregado na fabricação de diversos plásticos, presentes em muitos itens, inclusive mamadeiras, garrafas de água mineral, selantes dentários, latas de conserva, tubos para água, CDs e DVDs, impermeabilizantes de papéis e tintas. Todos esses materiais, ao sofrer a ação de processos físicos ou químicos, liberam bisfenol A em alimentos, em bebidas e no ambiente.
Mas este material, aparentemente inofensivo, quando utilizado na forma de embalagens para “Alimentação”, pode ao longo do tempo causar inúmeros problemas na saúde, como demonstram várias pesquisas realizadas. Pesquisa baseada na análise de fluidos corporais, nos Estados Unidos, encontrou o BPA em 95% das amostras e levou os pesquisadores a concluir que “a frequente detecção da substância sugere que os habitantes estão amplamente expostos a ela”.
Neste contexto e buscando alternativas de longevidade, poderia ser utilizada a “Seringueira” (árvore da borracha), a Hevea brasiliensis de ocorrência NATURAL da região Amazônica e de grande capacidade produtiva do látex. Mesmo sendo uma árvore brasileira, a seringueira também pode ser encontrada na Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Suriname e Guiana, e que compreende 11 espécies.
No Brasil, seu cultivo também obteve grande sucesso nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, na Bahia e no oeste do Paraná. A seringueira é uma espécie arbórea, e por ter um crescimento rápido, permite uma grande retirada de carbono (1 hectare de seringueira retira aproximadamente 1,4 toneladas de gás carbônico da atmosfera por ano), colaborando naturalmente a minimizar o aumento do efeito estufa, além da conversão de látex e madeira.
A importância da seringueira é devida à QUALIDADE da sua borracha que possui resiliência, elasticidade, plasticidade, resistência ao desgaste e ao impacto, propriedades isolantes de eletricidade, e impermeabilidade para líquidos e gases que não podem ser obtidas em polímeros artificiais e principalmente porque este tipo de borracha por ser mais resistente não recebe influência em relação à temperatura favorecendo à saúde humana.
Embora a borracha natural, em alguns casos, possa ser substituída pela borracha sintética, este polímero possui características únicas, principalmente confecção de luvas cirúrgicas, preservativos, pneus de automóveis e caminhões. A indústria de pneumáticos consome aproximadamente 80% da borracha natural produzida.
Assim, é imprescindível a produção de borracha natural na fabricação de uma série de artefatos de vital importância na vida do homem moderno contemporâneo.
Na visão globalizada, estudos de projeções indicam que o consumo crescerá mais que a produção e alguns especialistas estimam que no ano de 2020 o consumo de borracha natural será de 9,71 milhões de toneladas para uma produção de 7,06 milhões de toneladas. Neste sentido, a renovação de seringais antigos e o fomento de novos plantios, além da manutenção de um preço favorável dom látex no mercado internacional, são medidas que devem ser adotadas para suprir o déficit no Brasil e no mundo.
Fomentar a produção de seringais, além de criar um Recurso Natural, capaz de suprir parte das necessidades humanas, gera empregos locais, permite uma retirada expressiva de CO2 da atmosfera e contribui para o desenvolvimento local. A isto some-se a oportunidade de criar um Projeto Ambiental, fundamentado tecnicamente, potencializando os ganhos para população local em todos os sentidos.
* Carla Martins é consultora jurídico-ambiental, diretora da Flama Ambiental e Colunista de Plurale.
** Publicado originalmente no site Plurale.