Além de aproximar famílias da escola, carona comunitária ajuda a criar laços entre os alunos e a comunidade.
Por Plataforma Cidades Educadoras*
A ideia não é exatamente nova – surgiu na Austrália, em 1991, elaborada por David Engwich -, mas cada vez mais se espalha pelo mundo: porque não substituir os carros particulares ou os ônibus escolares por uma caminhada a pé, que leve as crianças juntas e caminhando para as aulas, organizada em conjunto pela escola e pela comunidade escolar? Porque não criar autonomia sobre a mobilidade urbana desde cedo?
Quando a professora Carolina Padilha, do Carona a Pé, resolveu transformar o transporte de seus filhos – que estudam em um colégio particular na zona central de São Paulo – em um processo participativo e caminhante, não sabia que ela já havia se disseminado pelos quatro cantos. A “geração espontânea” da ideia de criar um sistema de “caronas a pé” para seus filhos é significativo da força e da urgência de iniciativas como essa, que trazem enormes benefícios para crianças, pais, ruas, escolas e comunidades.
Conhecido em diversas partes do mundo como Pédibus, tais iniciativas são simples de se organizar e ajudam a criar cidades mais amigáveis para crianças. E como uma cidade amiga da infância é uma cidade amiga de todos e todas, apresentamos um passo a passo de como organizar sua carona comunitária para a escola, elaborada a partir de uma conversa com Flávia Fontes Oliveira, jornalista e mãe de duas meninas que participam do Carona a Pé, e do Manual do Pédibus, elaborado pela Câmara Municipal de Lisboa (Portugal).
1) Por que caminhar com as crianças?
– Cada deslocamento de automóvel libera 200 gramas de dióxido de carbono na atmosfera, que contribui para o efeito estufa;
– Diminui drasticamente o trânsito nas adjacências da escola;
– É seguro e desperta consciência ambiental, espacial, de mobilidade urbana e transforma o entorno da escola;
– Cria laços entre as crianças, entre a comunidade escolar, aproxima famílias e pais da escola;
– É gratuito;
– Promove hábitos saudáveis e diminui a obesidade infantil;
– Crianças que praticam atividade física tem melhor capacidade de concentração;
– Aproxima os pais uns dos outros e fortalece sentidos comunitários;
– Fortalece a busca por melhorias no espaço urbano.
Crédito: Reprodução/Plataforma Cidades Educadoras
2) Quem pode organizar?
Flávia afirma que o Carona a Pé é um projeto da comunidade escolar e não da escola, mas há casos em que o processo pode ser induzido pela coordenação escolar. “No começo, conversamos com alguns pais e mães na saída da escola e iniciamos uma conversa por WhatsApp. Elaboramos a primeira rota e começamos o processo. Não faz nem dois anos e já são mais de oitenta crianças envolvidas em oito rotas.”
3) Mãos à massa
“Você tem que ter um acordo entre todo mundo, uma reunião, pois estará confiando seu filho à outras pessoas. Isso é legal, porque gera um apoio entre as pessoas. Depois de algum tempo, a Carona ganha vida própria”, acredita Flávia. É importante pensar rotas e caminhos que sejam acessíveis às crianças. O Manual do Pédibus afirma que as paradas idealmente são de no máximo dois minutos entre um ponto e outro, ou seja, 150 metros na velocidade média de uma criança. O trajeto total não pode passar de um quilômetro. Grupos de WhatsApp – ou qualquer outra rede de mensagens rápidas – ajudam bastante na organização.
De forma a aumentar a segurança, criar coletes com refletores também ajuda a estabelecer uma unidade visual. Flávia ressalta que as crianças, depois de se familiarizar com o sistema, ajudam amigos e novos membros do grupo a fazerem a caminhada dentro das regras estabelecidas. Realizar encontros de confraternização também é uma boa pedida.
Para esse “ônibus” sair, é preciso um acompanhante na frente da expedição e outro atrás para garantir a segurança e que ninguém se perca. Pode ser um pai, um avô, um irmão mais velho, um professor etc.
4) Regras de conduta
Os sistemas de carona coletiva são bastante flexíveis e adaptáveis, mas é importante haver um compromisso e um calendário organizado entre os pais, para garantir que os horários sejam cumpridos e as crianças sejam recebidas com amor e tranquilidade. Não ocupar toda a calçada, não sair correndo, manter uma fila, são algumas das regras que podem ajudar a manter o bom-convívio do “ônibus”, que pode sair inclusive em clima chuvoso, desde que as crianças tenham guarda-chuvas, capas, um par de botas e uma troca de roupa.
5) Resultados
Uma família faz em média 20 deslocamentos semanais até a escola. “Não ter que me preocupar com o transporte diário do meu filho é um grande alívio”, aponta Flávia, que enxerga benefícios em todo o entorno da escola. “O bairro começou a reconhecer as crianças, que são bem recebidas, eles já ficam atentos com a travessia de rua, oferecem sorrisos. Não tenho dúvida que isso torna a cidade mais amiga das crianças.”
“As crianças passam a se apropriar da rua e a conviver melhor entre si. Além disso, chegam na escola de um jeito mais tranquilo e saudável, o que contribui para a sua aprendizagem”, pontua a mãe Renata Morettin, em reportagem do Portal Aprendiz sobre a iniciativa.
6) Saiba mais
O Carona a Pé têm um site bastante explicativo onde é possível encontrar um formulário para quem quiser estabelecer a metodologia em sua escola. O Manual do Pédibus traz um passo a passo bastante completo e abrangente. Confira também as matérias do Portal Aprendiz sobre o tema: Famílias criam ônibus andante para levar crianças às escolas na Suíça e Carona a Pé cria rotas para a escola e aproxima crianças da vida no bairro. A experiência também está registrada no Banco de Experiências da Plataforma Cidades Educadoras.
(Porvir/ #Envolverde)
* Publicado originalmente na Plataforma Cidades Educadoras e retirado do site Porvir.