Seminário internacional encerra discutindo o papel das avaliações de impacto na mensuração das desigualdades educacionais.
Por Redação da Envolverde*
São Paulo, 16 de setembro de 2016 – O Seminário Internacional Caminhos para a qualidade da educação pública: Impactos e Evidências, promovido pelo Instituto Unibanco, em parceria com a Folha de S.Paulo, em São Paulo, terminou nesta sexta-feira reunindo mais de 700 profissionais da educação, em dois dias de evento, e destacando o papel das avaliações para mensurar o impacto das políticas públicas educacionais sobre as desigualdades. O tema foi abordado pelo professor e pesquisador Sergio Firpo, que lançou oficialmente a Cátedra do Instituto Unibanco no Insper, na manhã desta sexta-feira, abrindo o seminário. A Cátedra do Instituto Unibanco visa alavancar estudos, pesquisas e análises que possam contribuir com o desenvolvimento e a melhoria da qualidade do Ensino Médio brasileiro. O Instituto Unibanco financia a cátedra, tendo em vista seu foco de atuação voltado para o Ensino Médio.
“Os estudos acadêmicos podem ajudar a propor soluções para os problemas enfrentados pela sociedade, e a educação é um deles”, ressaltou Sergio Firpo. “Em certas situações, políticas educacionais podem gerar efeitos perversos sobre a dispersão de desempenho. Os experimentos educacionais podem responder as perguntas que temos, mas, para isso, precisamos saber o máximo de informação possível sobre eles”, completou ele, destacando que uma política bem-sucedida aumenta o desempenho médio dos alunos, mas também diminui a distância de aprendizado entre os estudantes com notas mais altas e os com mais baixas. “As políticas, especialmente em educação, têm de ser pensadas levando em conta efeitos e subprodutos não previstos”, afirmou ele.
Em seguida, foi apresentado o painel “Meta-análise de impactos: uso de evidências para priorizar investimentos educacionais”, no qual o professor da Universidade da Pensilvânia, Herb Turner, destacou que a utilização de pesquisas baseadas em evidências com o objetivo de conhecer o que funciona em educação é algo relativamente novo. O especialista fez uma retrospectiva histórica das políticas baseadas em evidências e mostrou que nos Estados Unidos os estudos começaram a ser realizados a partir de 2002, com a criação de um órgão específico para esse tipo de análise. Segundo ele, isso tem colaborado para orientar, com mais segurança, as políticas educacionais no país.
O professor André Portela, da Fundação Getúlio Vargas, destacou, no mesmo painel, que um dos principais ganhos apontados pelos estudos baseados em evidências é a tomada de decisões com base em critérios objetivos, já que demonstram cientificamente a eficácia das ações. Nesse contexto, as meta-análises desempenham um papel relevante, pois permitem, segundo ele, “aprender com os outros”. “Com esses estudos em mãos, os gestores deixam de tomar decisões baseadas apenas na observação pessoal ou na sua própria experiência. A sistematização das informações dá uma boa ideia do que pode acontecer, ao identificar fatores de impacto, tendências, determinantes de impacto antes e depois de uma intervenção”, detalhou Portela.
Experiências brasileiras
No período da tarde, foi apresentado o painel “Produção e uso de evidências na visão dos pesquisadores brasileiros da educação”. A professora Paula Louzano, da USP, destacou que os pesquisadores das faculdades de educação das universidades têm uma grande responsabilidade na produção de conhecimento e evidências para apoiar ações voltadas para a compreensão dos desafios e de soluções. Ela defendeu que as pesquisas de educação precisam intensificar o diálogo com a produção nacional e internacional sobre o assunto estudado, a fim de produzir conhecimento significativo, capaz de nortear ações e políticas. Da mesma forma, Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressaltou que a escola e os atores que nela atuam (gestores, professores e estudantes) têm de ser ouvidos, a fim de que a pesquisa enfoque questões que reflitam suas reais necessidades. “Independentemente do que façamos no plano das políticas, as mudanças só vão acontecer nas escolas”, afirmou ele.
Na visão de Soares, o Brasil já possui uma trajetória relevante na produção de evidências para orientar as políticas educacionais, “mas ainda falta explicá-las, o que exige uma agenda multidisciplinar”. Soares defendeu, então, o estabelecimento de uma “agenda de princípios e protótipos”, construída a partir das evidências produzidas por estudos. “Nesse movimento, aproximar as linguagens entre universos diferentes – no caso, a da academia e a dos gestores dos sistemas de ensino e das escolas -, é um aspecto essencial para o desenvolvimento de ações educacionais mais efetivas”, afirmou o economista Claudio Moura Castro.
Para Telma Vinha, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma avaliação necessariamente traduz uma concepção de educação e de escola. “Uma avaliação precisa olhar a escola como um sistema, encontrando meios para dar conta dessa complexidade. É preciso ajudar a escola a pensar sobre suas questões e enxergar o que deve fazer”, concluiu.
Para encerrar o seminário foi apresentado o painel “Experiências de redes de ensino brasileiras com o uso de evidências”, que contou com os secretários de educação de Pernambuco, Frederico Amâncio, de Goiás, Raquel Teixeira, de Santa Catarina, Eduardo Deschamps, e do Espírito Santo, Haroldo Rocha. O painel destacou como as evidências produzidas por meio de pesquisas e avaliações são importantes instrumentos para a gestão de redes de ensino. O estado de Pernambuco, que obteve o mais alto Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) no ensino médio em 2015, construiu ao longo de uma década um banco de dados e informações usado para a gestão da rede de ensino. “O desafio é fazer com que evidências e gestão se encontrem e produzam impacto na rede”, afirmou Amâncio. Segundo ele, o estado conseguiu saltar da 26 ª posição entre as 27 unidades da Federação em 2007 para a primeira posição em 2015 no Ideb definindo políticas e estratégias a partir das evidências. “Fazemos monitoramento constante. O esforço é adaptar as ferramentas de gestão para obtermos resultados para a rede estadual”.
Eduardo Deschamps afirmou que um dos desafios é a utilização de dados para definir ações e traçar políticas educacionais de maneira coerente com os resultados dos estudos e avaliações. “Muitos gestores usam os dados conforme seus interesses e concepções. Existe uma diferença entre bom senso e evidência”, analisou Deschamps.
Haroldo Rocha, secretário do Espírito Santo, destacou que a “qualidade” ou interesse do governo podem influir negativamente na implementação de políticas educacionais. “A maneira como o governo trabalha impacta, assim como o relacionamento com os diferentes atores envolvidos no sistema de ensino”. O Ideb do Espírito Santo em 2015 teve um salto, passando da 11ª posição para o 4º lugar no país, uma expansão de 0,3 pontos, atingindo 3,7 pontos nesta edição.
Para Raquel Teixeira, a implementação de ações de forma continuada, de modo a promover e a consolidar uma cultura de responsabilização na rede de ensino e nas escolas, tem sido um fator fundamental para a melhoria da qualidade da educação em Goiás. “Existem desafios e eles são grandes, mas estamos avançando nos resultados e na instalação de uma cultura de avaliação nas escolas”, afirmou ela.
Goiás e Espírito Santo desenvolvem o projeto Jovem de Futuro, do Instituto Unibanco, em suas redes de ensino. (#Envolverde)
* Com informações do Instituto Unibanco.