Apesar de responsáveis por 70% das emissões de gases do efeito estufa, que elevam a temperatura da Terra, as cidades caminham lentamente para se tornar sustentáveis. No Rio de Janeiro, obras de aterros agravam o cenário e podem elevar os impactos da alteração do clima, como a transmissão de doenças, problemas de saúde e desastres naturais.
O alerta é do Núcleo Latino-americano da Rede de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Urbanas, lançado esta semana, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com instituições de pesquisa internacionais. A entidade reúne 600 cientistas de 150 países e apresentará na Conferência do Clima, em Paris, relatório sobre os impactos que já estão ocorrendo.
Segundo o documento, no Rio a previsão é que a temperatura suba 3,4 graus Celsius (Cº) até 2080, com aumento de 82 centímetros do nível do mar e 6% no volume de chuvas. Em São Paulo, as chuvas podem subir 13,9% e a temperatura ser elevada em 3,9% – dentro da média prevista para as demais cidades do planeta, que terão entre 1º C e 4º C de aumento.
Um das autoras da publicação, a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), Cecilia Herzog, alerta que, no Rio, novas edificações, que suprimem áreas naturais, somadas à ausência de projetos para preservar e potencializar áreas verdes, desprezam evidências científicas dos riscos à população..
“ Nesse momento, na zona oeste, na Barra da Tijuca, áreas para acomodar águas (de chuva e das marés, por exemplo) estão sendo aterradas violentamente nesse momento. Ou seja, apesar das evidências, estamos repetindo os erros de século 20”, alertou.
Ela criticou também a construção do novo autódromo da cidade, em substituição ao que será demolido para dar lugar ao Parque Olímpico, na zona oeste, e previsto para ser erguido pelo governo federal em área de floresta. Por falta de licença ambiental, a obra está parada.
Mudanças do clima traz doenças
Nas cidades, as mudanças do clima, além de descontrolar a temperatura, provocam problemas de saúde e doenças.
Tempestades e inundações são responsáveis por ferimentos, infecções, casos de hepatite, leptospirose e diarreia, por exemplo, constatou o relatório do núcleo.
Em cidades temperadas, o calor aumenta o número de insetos e mosquitos transmissores de doenças como dengue e malária, acrescentou a pesquisadora da Fiocruz Martha Barata, que coordena o Núcleo Latino-americano da Rede de Pesquisas. Segundo ela, mudanças no clima geram estresse, alergias e doenças cardiorrespiratórias.
A recomendação dos especialistas é reduzir a emissão de gases do efeito estufa, principalmente da queima de combustíveis, o vilão nas cidades, além de se investir em projetos que reduzam impactos desastres, entre eles a criação de parque e tetos verdes nos prédios.
“ São estratégias que facilitam a absorção de água da chuva, retem a umidade do ar, combatendo efeitos como ilha e calor e capturando o gás carbônico”, explicou Cecilia Herzog.
A pesquisadora apresentou experiência inovadora em Seattle, nos Estados Unidos, onde um estacionamento foi substituído por um parque. “Havia um córrego canalizado – que é o que mais temos no Rio – para um estacionamento. A cidade acabou com o estacionamento e criou um parque, uma área de lazer, permitindo novos ecossistemas. É a volta à vida.”
Conforme a prefeitura do Rio, a cidade está em transição e as mudanças são graduais . Especialistas listam experiências inéditas no país, como o veículo leve sobre trilhos, que retirará ônibus das ruas, e a implantação de sirenes de alerta em áreas de risco de deslizamento em favelas. Outro destaque é a construção de reservatórios para evitar alagamentos em áreas centrais.
“ Por conta do piscinão [contra enchentes] na Praça da Bandeira, o Rio está incluído na relação de práticas bem-sucedidas entre as grandes cidades do mundo”, lembrou Rodrigo Pessoa, assessor do prefeito Eduardo Paes para o tema. “As questões que o Rio enfrenta (transporte e revitalização de áreas degradadas) outras cidades também enfrentam. Não estamos atrás.”
Cidades na Conferência do Clima
Na Conferência do Clima, as experiências do Rio e de Seatle serão apresentadas em encontro paralelo, junto com a de Oregon, também nos EUA, que instalou luzes LED (mais econômicas) em espaços públicos, e a de Paris, que, assim como São Paulo, amplia zonas com a redução da velocidade dos carros para reduzir a emissão de gases dos combustíveis.
“ As cidades precisam começar agora a identificar áreas de risco e planejar ações sustentáveis. Não há como impedir as mudanças climáticas, mas minimizar o impacto, o que é urgente”, afirmou a cientista Cynthia Rosenzwig, uma das diretoras globais da rede. (Agência Brasil/ #Envolverde)
* Por Isabela Vieira da Agência Brasil. Edição: Armando Cardoso.