Por Beatriz Mattiuzzo * –
Em um mundo cada vez mais interconectado e interdependente, o desenvolvimento sustentável tornou-se uma prioridade global. No entanto, para que esse avanço seja verdadeiramente eficaz e duradouro, é fundamental reconhecer e valorizar o papel das comunidades locais, pois elas são a chave para o desenvolvimento sustentável. É obrigatório ter o compromisso de trabalhar em estreita parceria com elas, promovendo seu protagonismo e respeitando suas culturas e necessidades únicas.
As comunidades locais possuem um conhecimento profundo e íntimo de seus territórios, acumulado ao longo de gerações. Esse conhecimento tradicional é uma riqueza inestimável que deve ser integrada aos esforços de desenvolvimento sustentável. Ao ignorar essas vozes, corremos o risco de implementar soluções inadequadas e insustentáveis. Por outro lado, ao valorizar e incorporar o saber local, podemos desenvolver estratégias mais eficazes e adaptadas às realidades específicas de cada comunidade.
Um dos maiores desafios enfrentados pelos povos locais é a vulnerabilidade às mudanças climáticas. Desmoronamentos, enchentes e outros desastres naturais afetam desproporcionalmente essas áreas, exacerbando a desigualdade e dificultando ainda mais seu desenvolvimento. É imperativo que demos voz a essas comunidades, não apenas por uma questão de justiça, mas também porque sua resiliência e adaptabilidade são essenciais para enfrentar essas ocorrências climáticas.
Pensando nisso, promover um desenvolvimento socioeconômico que seja equitativo e inclusivo é essencial. Empoderar as comunidades locais auxilia na construção de um futuro mais sustentável para todos e projetos com essa definição precisam ser realizados em parceria com esse público, para garantir que suas necessidades e prioridades sejam sempre consideradas. O trabalho deve ser focado em oportunidades econômicas que respeitem e valorizem o meio ambiente, promovendo um crescimento que beneficie a todos de maneira justa e duradoura.
Acessar diretamente a comunidade caiçara para desenvolver alternativas segmentadas, por exemplo, é sinônimo da luta pela conservação dos povos tradicionais e pela geração de impacto socioambiental positivo. Por isso, não é interessante oferecer apenas caminhos temporários, mas verdadeiras ferramentas de transformação que proponham uma nova forma de viver no mundo e tecendo uma nova história a partir de cada movimento. É encontrar uma maneira de estar em harmonia com o planeta, valorizando o saber tradicional e promovendo o desenvolvimento socioambiental dessas comunidades.
A história de Seu Filinho, pescador aposentado de 86 anos, ilustra bem essa abordagem. Foi através do seu conhecimento caiçara, de costurar redes, que foi possível desenvolver produtos que pudessem ser vendidos, gerando renda e autonomia. Este saber cultural único precisa ser preservado e valorizado. Neste caso, empoderar a comunidade, reutilizar o plástico existente das redes e evitar o plástico futuro é fundamental para uma missão de sustentabilidade.
Além disso, é essencial destacar o papel fundamental dessas comunidades tradicionais na conservação e cuidado dos oceanos. Esse público depende dos recursos marinhos para seu sustento, tanto na pesca quanto no turismo, e possuem um conhecimento geracional profundo sobre os mares. Infelizmente, práticas artesanais, como a costura de redes de pesca, estão desaparecendo rapidamente devido à industrialização e esse saber milenar não só é uma expressão cultural importante, mas também uma prática sustentável que protege os ecossistemas marinhos. A preservação desses conhecimentos e técnicas tradicionais é crucial para a manutenção da saúde dos oceanos e para a sobrevivência das comunidades que deles dependem.
Em conclusão, o desenvolvimento sustentável só será alcançado se formos capazes de trabalhar juntos, reconhecendo e valorizando o papel central das comunidades locais. É através da colaboração e do respeito mútuo que podemos criar soluções verdadeiramente sustentáveis, que garantam um futuro mais justo e resiliente. Devemos continuar lutando por um mundo onde cada comunidade possa prosperar de forma sustentável e digna.
*Por Beatriz Mattiuzzo, oceanógrafa e fundadora da Marulho