Estudar para o vestibular não é um processo fácil, e muitas vezes exige uma complementação de ensino — e aí entram os chamados cursinhos. Mas muitos não têm oportunidade de estudar nos cursos particulares, e precisam recorrer a opções populares e gratuitas. Foi pensando nisso que quatro alunos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEAUSP) ajudaram na construção de um novo curso de matemática e português, totalmente gratuito e voltado para estudantes da rede pública que almejam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O projeto faz parte da agenda do Programa de Extensão de Serviços à Comunidade (PESC), entidade da FEA que busca um maior impacto social como retorno à sociedade.
O projeto foi desenvolvido em conjunto com a ONG Canto Cidadão, organização sem fins lucrativos que visa promover a cidadania através de diversas atividades. Os alunos Fernando Marques, Lia Cabrera, Renata de Sousa Rodrigues e Victor Porto foram responsáveis por planejar e implantar todo o processo, desde a formulação do cronograma até a busca por professores voluntários e alunos interessados. O foco do curso foi promover aulas preparatórias de português e matemática para o ENEM, nos fins de semana. Para isso, contou-se com o trabalho de professores voluntários: “A ideia do cursinho era não ser um único professor, mas que fosse [um sistema] rotativo. A cada semana tínhamos um professor de matemática e um de português, para que não ficasse pesado pra ninguém”, conta Renata, estudante do quinto semestre de Administração.
Além de buscar voluntários, os alunos ficaram responsáveis também por angariar material, muitas vezes feito pelos próprios voluntários. A equipe conseguiu também uma parceria com o “Descomplica”, plataforma online de ensino pré-vestibular, que disponibilizou seu conteúdo de forma gratuita aos participantes do curso. Outro foco dos integrantes foi manter o engajamento e evitar a evasão, tanto dos alunos quanto dos professores voluntários: “Nós não cobrávamos nada dos alunos além da presença”, conta Fernando, que está no sexto semestre de Economia. “Sendo um curso que ocorre no sábado de manhã e com a maior parte dos alunos morando extremamente longe, fica fácil imaginar que sofremos com a evasão.”
Ao longo de todo o ano de 2017, mais de 50 pessoas estiveram envolvidas no projeto, contando com a equipe do PESC, alunos e voluntários. Os resultados levaram o grupo a receber o prêmio de melhor projeto da edição 2016-2017 do PESC.
O PESC
O cursinho popular foi apenas um dos projetos desenvolvidos com apoio do Programa de Extensão de Serviços à Comunidade. Fundado pela diretoria da FEAUSP em 2001, o PESC institui redes de apoio entre a universidade e organizações do terceiro setor e/ou da sociedade civil, promovendo retorno dos conhecimentos gerados na FEA sob a ótica da Responsabilidade Social. Desde sua criação, 139 projetos foram desenvolvidos, com a presença de 753 alunos de graduação e diversos alunos de pós-graduação, que agem como tutores. A edição 2017/2018 contou com 7 projetos e 37 estudantes envolvidos.
Além de promover mudanças sociais, o PESC também é uma forma de potencializar o conhecimento teórico dos alunos e colocá-lo na prática. “O PESC te dá muito autonomia”, comenta Renata. “As únicas coisas que o projeto cobra são dois relatórios e uma apresentação. De resto, é você e seu grupo. É também uma forma de amadurecer”.
Fernando concorda: “Um programa de extensão como o PESC dá a chance de integração com diferentes pessoas e o conhecimento de um outro lado. As ONGs frequentemente trabalham com o lado mais frágil da nossa sociedade, e realizar projetos com elas possibilita uma forma de retribuição do investimento feito por todos para a nossa educação“. (Envolverde)