Sociedade

Dia da Educação: caminhos para a construção de uma escola antirracista

Segundo o Instituto DACOR, ações devem envolver desde a formação de educadores até a criação de protocolos para situações de racismo

Existe um consenso no país sobre a necessidade avançar em qualidade a educação brasileira. No entanto, há diferentes perspectivas sobre os caminhos para alcançá-la. Segundo a Base Nacional Comum Curricular, o documento que norteia o currículo escolar, a educação de qualidade está ligada principalmente à formação de indivíduos em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica. Partindo desses princípios, o desenvolvimento pleno está totalmente ligado à estruturação de caminhos para uma educação antirracista.

“A escola, assim como outras instituições, estruturam e são estruturadas pelo racismo, que afeta negativamente o desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos estudantes ao criar um ambiente de exclusão, desvalorização e falta de oportunidades equitativas. Para ela se transformar em um ambiente capaz de promover a valorização das diferenças, são necessárias políticas sistêmicas em âmbito de rede de ensino”, afirma Helton Souto, presidente do Instituto DACOR, organização sem fins lucrativos que atua na produção, integração e disseminação de dados, conhecimentos e evidências sobre o racismo no país.

Para contribuir neste caminho, o Instituto DACOR atua por meio de formações e assessorias nas redes de ensino pública e privada, promovendo ações sistêmicas de enfrentamento do racismo em parceria com outras organizações. Em dois anos de história, já esteve presente em todas as regiões do Brasil apoiando a construção de planos de formações personalizados, de acordo com a realidade de cada local.

“Muitos têm a percepção de que a escola é um lugar protegido de violência. No entanto, a experiência da criança e do adolescente negro é repleta de traumas e indutora de novas discriminações. Ao falar de combate ao racismo nesse ambiente, precisamos pensar em currículo e formação de gestores e de professores, e principalmente na articulação de dados e metas que promovam um olhar amplo sobre a comunidade local”, aponta Helton Souto.

Neste Dia da Educação, veja caminhos elencados pelo Instituto DACOR para apoiar a construção de uma educação antirracista:

  • Dados e monitoramento: É importante que gestores, educadores e estudantes reconheçam o racismo estrutural e entendam como ele afeta as relações sociais. Pesquisas sobre o tema podem apoiar esse entendimento e sensibilizar sobre a necessidade de implementar medidas concretas para combatê-lo, incluindo políticas e práticas que promovam a diversidade, a inclusão e a equidade. Além disso, o levantamento de dados na própria instituição deve ser o ponto de partida para a criação de estratégias de promoção da equidade da organização. 
  • Combate ao preconceito: As escolas devem tomar protocolos e medidas para lidar com situações de racismo de forma a garantir que essas situações sejam tratadas de maneira adequada, justa e transparente, proporcionando um ambiente escolar seguro e acolhedor para todos. Isso envolve uma avaliação detalhada das políticas e práticas atuais da escola, a especificação de medidas adotadas em caso de situações de racismo e a abertura de canais de denúncia.
  • Formação: Ao criar um protocolo de combate ao racismo para toda a comunidade e promover treinamentos regulares para todos os membros da equipe, é necessário também monitorar regularmente a sua eficácia, coletando dados e feedback dos estudantes, pais e equipe escolar, e realizando ajustes e melhorias conforme necessário. As escolas devem ainda avaliar regularmente seus programas e políticas para garantir que estão promovendo a equidade e a inclusão. Isso pode incluir a coleta de dados sobre o desempenho dos alunos, a taxa de desistência escolar, a diversidade do corpo docente e outros indicadores relevantes. Construir uma educação antirracista requer esforços contínuos e colaborativos por parte de todos os membros da comunidade escolar e da sociedade em geral. 
  • Diversidade e inclusão: Outro passo importante é fomentar a atuação de pessoas negras na gestão e investir na formação de professores em letramento antirracista. “É fundamental que a comunidade escolar tenha acesso a uma trilha formativa capaz de transformar as relações e construir uma rede de aliados da causa. Isso inclusive ajudará os educadores a reconhecerem o racismo quando ele ocorrer na sala de aula e a tomar medidas para combatê-lo”, afirma Helton Souto.
  • Currículo: Além de ter um corpo docente diverso, que represente a diversidade da população, a escola deve repensar o currículo de modo que todos possam se reconhecer e valorizar suas identidades. Isso envolve incluir a história, cultura e perspectivas de diferentes grupos étnicos e raciais. Desde 2003, ao artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas brasileiras. No entanto, ela ainda não é aplicada pela maior parte das escolas, como aponta um estudo do Instituto DACOR feito em parceria com estudantes do Insper, que deu luz aos instrumentos jurídicos e institucionais para o cumprimento da lei nas capitais e estados brasileiros. A aplicação é importante para garantir o respeito e a promoção da igualdade racial na educação, promovendo a formação de cidadãos críticos e conscientes da importância da diversidade étnico-racial.

 

Sobre o Instituto DACOR (https://institutodacor.ong.br/)

Criado em 2020, o Instituto DACOR é uma organização não-governamental que nasceu da vontade de ser um propulsor de ações para combater o racismo no país. Atua por meio da reunião, integração e disseminação de dados e conhecimentos em projetos para fomentar políticas públicas e privadas por equidade racial.

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