por Isabela Holl –
Os laboratórios estão distribuindo protetores faciais e estimulando projetos sustentáveis
A rede Fab Lab Livre (laboratórios de fabricação) de São Paulo é formada por espaços públicos e gratuitos, onde todas as pessoas podem desenvolver projetos pessoais e coletivos. Esses laboratórios possuem diversos equipamentos de eletrônica, robótica, marcenaria e mecânica, como as famosas impressoras 3D. Durante a pandemia, a equipe do Fab Lab Livre está realizando projetos que ajudam a sustentabilidade e a saúde pública.
Na cidade de São Paulo existem 12 Fab Labs, são 3 na zona central e 9 nas periferias. Segundo Maitê Sanches, diretora da rede, devido ao coronavírus, os equipamentos foram realocados para um dos laboratórios, pois a equipe começou a produzir máscaras de proteção facial que serão distribuídas para profissionais da saúde. Segundo a equipe, já foram produzidas 300 unidades em duas semanas e eles estão estudando como aumentar ainda mais a velocidade da produção. Os espaços estão fechados ao público e os funcionários estão seguindo medidas de proteção para confeccionar esses produtos.
Outro projeto dos Fab Labs durante esse período de quarentena, é utilizar as redes sociais para incentivar as pessoas a continuar criando e de maneira ecologicamente sustentável. O nome da campanha é #FazendoemCasa e está disponível no Instragram e Facebook. Por meio destes tutoriais onlines o projeto ensinou como fazer absorventes ecológicos. Também há instruções para fazer bolsas de mão, reciclando embalagens e sacolas plásticas. Além disso, o Fab Lab Livre publicou informações sobre como criar brinquedos infantis utilizando papelão.
Esses laboratórios são espaços de criação, quando estão funcionando normalmente, sem ter que seguir as limitações impostas pela quarentena, eles conseguem abarcar diversos públicos e dar vida a vários projetos. Cada unidade tem dois técnicos trabalhando, eles auxiliam os usuários a utilizar os equipamentos, orientam projetos e ministram cursos. Os laboratórios possuem dias livres, nos quais “qualquer pessoa pode agendar o uso das máquinas e solicitar orientação nos projetos que desejam desenvolver”, afirma Maitê Sanches.
O enorme potencial social e sustentável dos Fab Labs Públicos
A diretora da rede também conta que existe uma preocupação de que os laboratórios interajam com as comunidades em que estão inseridos. Nove unidades estão localizadas em periferias e têm como objetivo atuar como um espaço de inovação e transformação da comunidade ao seu redor.
Rodrigo Malcolm é designer e realizou uma grande pesquisa sobre os Fab Labs Livres de São Paulo, eles foram os objetos de estudo em sua dissertação de mestrado. Ele ressalta que em algumas periferias os laboratórios foram o primeiro aparato do Estado a entrar em contato com a comunidade. Ele conta que para utilizar o espaço é preciso registrar o número do RG e há pessoas que não têm. “Um dia chegou um garoto (maior de 18 anos) para utilizar o laboratório e ele não tinha documento, nunca teve necessidade, porque veja bem: ele nunca contou com a figura do Estado na vida dele” .
Por isso o pesquisador reitera que os Fab Labs são locais que têm possibilidade de desenvolver uma comunidade ao seu redor, entretanto na sociedade brasileira a desigualdade é um entrave para o desenvolvimento igualitário. “Como você pode pensar em ensinar alguém a usar uma impressora 3D, sendo que ela não tem nem mesa para comer na casa dela?” questiona Rodrigo.
Rodrigo explica que esses espaços devem ser encarados como um ferramenta. Porque você pode utilizar os equipamentos com o intuito de melhorar a sociedade, mas essa melhoria depende de que existam pessoas utilizando esse espaço e criando com o intuito de gerar um futuro mais igualitário e sustentável.
“Os Fab Labs têm um potencial surreal de modificar uma comunidade com pouca atuação do estado. O real debate é em torno de como utilizá-lo. Que é a grande questão conceitual das políticas públicas da prefeitura: quais usos permitir, quais formas de usar que devem ser privilegiadas e como melhorar o atendimento a quem realmente precisa” afirma Rodrigo.
A diretora Maitê conta que os projetos dos Fab Labs estão alinhados com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que integram a agenda 2030 da ONU. Ela dá como exemplo o projeto Residência Maker, que tinha como objetivo atender uma demanda do bairro Cidade Tiradentes, onde está inseridos uma das unidades da rede.
Nesse bairro há um campo de futebol de várzea, onde crianças, jovens e adultos treinam e praticam futebol regularmente. As jovens que participavam do projeto, Carolina Paulino, Daniela Fassina e Jaqueline Thomé, identificaram a que havia pouca estrutura no local e realizaram um projeto de arquibancada modular que foi colocada no campo para ser utilizada por todos.
Projeto de arquibancada para campo de futebol de várzea. Foto: Fab Lab Livre SP
Outro exemplo, entre os diversos projetos que beneficiam a sociedade realizados pela rede Fab Lab Livre SP, é um jogo desenvolvido por uma estudante de design, que utilizou o espaço para conseguir criar o produto. Lívia Nishibe projetou o Senior Ludens, um jogo que estimula cognitivamente pacientes com Alzheimer.
Jogo Senior Ludens para pacientes com Alzheimer. Foto: Lívia Nishibe
Para conferir os diversos projetos realizados pela rede Fab Lab Livre clique aqui. Esses espaços públicos e gratuitos apresentam-se como uma grande possibilidade para fazer diferenças na sociedade. Através desses projetos, gera-se diversas mudanças individuais que se somam e fazem a diferença na cidade. Outra característica interessante dos laboratórios é a capacidade de dar uma resposta rápida em situações que podem ajudar, como a confecção de máscaras de proteção contra o Coronavírus, que será um auxílio para rede pública de saúde de São Paulo.