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“Esta é uma missão geracional. Temos que marchar”, disse a ativista Naomi Klein explicando porque participar da Marcha no Dia Mundial do Clima dos Povos, que aconteceu dia 29 de Abril. É um protesto, entre outras razões, contra a possibilidade do Governo Trump se retirar do Acordo de Paris. A Marcha acontece num momento em que a quantidade de carbono presente na atmosfera está oficialmente fora de controle ao ter ultrapassado, pela primeira vez na história humana, o marco das 410 partes por milhão da concentração de CO2. O marco foi registrado no dia 18 deste mês no Observatório Mauna Loa, Havaí.
Desde que o Planeta atingiu no ano passado o perigoso estágio de 400 ppm, os cientistas advertiram que o ritmo das concentrações de CO2 está acelerado significando que a humanidade está indo para o ponto de não retorno na direção do caos climático. Apesar dessa ameaça sem precedentes e das advertências dos cientistas, a ação climática tem dominado a política ambiental de Trump e de Scott Pruitt, Chefe da Agência de Proteção Ambiental, forçando ativistas e cidadãos interessados a irem às ruas para advertir o Governo de que se deve fazer algo para enfrentar essa ameaça de devastação planetária.
Segundo o Climate Advisers, a política de Trump, quanto a mudanças climáticas, poderia gerar mais 500 milhões de toneladas de Gases de Efeito Estufa na atmosfera até 2025. A Marcha pela Ciência uniu continentes em defesa de um projeto comum para humanizar a ciência, torná-la mais próxima das pessoas e apoiar os cientistas num momento em que se reduzem os investimentos nessa área. Na América Latina, 60 cidades de 11 países se uniram à Marcha contribuindo com 10% dos eventos realizados em 610 cidades de todo o mundo.
No Brasil, 25 cidades aderiram à iniciativa mundial. Em São Paulo, Helena Nader Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi muito aclamada pelo seu discurso no encontro. Disse ao Estadão: “Chega de nos classificar como gasto; nós somos investimento. A nossa economia sobrevive por causa da ciência” Já Ildeu Moreira, vice-presidente da SBPC e um dos organizadores da Marcha no Brasil, afirmou: “O movimento brasileiro é mais amplo do que a campanha anti-Trump dos EUA, aqui adicionamos as questões locais”. Também destacou o corte de mais de 40% do orçamento para ciência e tecnologia realizado pelo Governo de Temer.
A Marcha pela Ciência, primeira de sua espécie, era oficialmente não política. Foi concebida por Caroline Weinberg, Valorie Aquino e Jonathan Berman, pesquisadores estadunidenses, ao considerar que a ciência está “sob ataque” pelo Governo Trump. Por sua vez, Trump divulgou uma declaração na qual insistiu que seu Governo estava comprometido em preservar a “beleza inspiradora” da América, ao mesmo tempo em que protege os empregos. “A ciência rigorosa é crítica para meus esforços por alcançar os objetivos de crescimento econômico e proteção ambiental. Minha Administração está empenhada em avançar na pesquisa científica que leva a uma melhor compreensão do nosso ambiente e dos riscos ambientais Ao fazê-lo, devemos lembrar que a ciência rigorosa não depende da ideologia, mas de um espírito de investigação honesto e um debate sólido”.
Na convocação para a Marcha nos EUA os organizadores justificaram o ato assim: “Embora comece com uma Marcha, nós esperamos usar isto como um ponto de partida para tomar uma posição sobre a ciência na política. Cortar o financiamento e restringir os cientistas de comunicar suas descobertas (de pesquisa financiada com impostos) com o público é absurdo e não pode ser aceito como norma política. Há certas coisas que aceitamos como fatos sem alternativas. A Terra está se tornando mais quente devido à ação humana. A diversidade da vida surgiu pela evolução. Os políticos que desvalorizam o conhecimento e arriscam tomar decisões que não refletem a realidade devem ser responsabilizados. Um governo que ignora a ciência para impor agendas ideológicas põe em perigo o mundo”.
Agora, incentivados pela energia da Marcha pela Ciência, os ativistas se prepararam mais uma vez. “A Marcha do Clima dos Povos é o próximo passo, um chamado para nos engajar no nosso sistema político, para enfrentar o poder e exigir soluções”, explicou May Boeve, da 350.org. “É uma nova atmosfera com a qual a humanidade terá que lidar; o aquecimento está fazendo com que o clima mude a um ritmo acelerado; o CO2 não atingiu esse nível em 4,5 milhões de anos”, escreveu Brian Kahn do Climate Central.
Essa terrível realidade é a força motriz por trás da Marcha do Clima dos Povos. “A mudança climática nos diz que precisamos agir. Este é o momento. Temos de marchar. É um dever sagrado”, disse Naomi Klein, resumindo o pensamento de todo o universo científico e ambientalista mundial.
Gaia Viverá!
Lúcia Chayb e René Capriles
(#Envolverde)