A revista ECO21 chega à edição 250, um marco no jornalismo ambiental brasileiro. Os jornalistas René Capriles e Lucia Chayb são dos mais talentosos e resilientes editores da área. Criada ainda antes da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO21 tornou-se uma referência obrigatória para ambientalistas, gestores públicos e empresas compromissadas com a governança ambiental – Ao final do editorial índice e links para os textos da edição 250.
Editorial Edição 250
No seu discurso de posse, no dia 18 de setembro, a nova Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, pronunciou palavras referenciais sobre o meio ambiente que raramente são ouvidas numa cerimônia protocolar. Ela disse: “Recebo com humildade o precioso legado de serviço à pátria, forjado pelos Procuradores-Gerais da República que me antecederam, certa de que o Ministério Público deve promover justiça, defender a democracia, zelar pelo bem comum e pelo meio ambiente, assegurar voz a quem não a tem e garantir que ninguém esteja acima da lei e ninguém esteja abaixo da lei”. E, logo acrescentou: “foi por causa da desigualdade persistente, da ausência de liberdades e do sofrimento cotidiano das pessoas, que reivindicamos também outras atribuições constitucionais, como a defesa da democracia, da sociedade e do meio ambiente e de zelar pelo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição”.
Enquanto a tempestade da Java-Jato continuava fazendo estragos na política nacional, os furacões Harvey, Irma e Maria, devastaram a Flórida e o Caribe, afetando quase 50 milhões de pessoas. Esses desastres simultâneos chamaram a atenção das pessoas de uma forma que os eventos isolados não o fazem. Scott Knowles, professor de história na Universidade Drexel afirma num artigo que “Os desastres abrem a mente para a possibilidade de que não sejam apenas acidentes ou fenômenos naturais, eles podem provocar debates sobre as grandes ‘lições de desastres’ que devemos aprender. A combinação de Harvey e Irma desencadeou esse momento”.
Ciente da gravidade climática, o Presidente da França, Emmanuel Macron, contestando o negacionista Trump na Assembleia-Geral da ONU, aproveitou a ocasião para lançar o Pacto Mundial para o Meio Ambiente consolidando todas as Convenções, Protocolos e Normas num único instrumento vinculante com poder universal. Macron disse: “Um documento-quadro que estabelecerá Direitos, mas também deveres para a Humanidade em relação à Natureza e, portanto, em relação a si mesmo. Todos sabem que a degradação do meio ambiente já está causando milhares de mortes devido ao aquecimento do Planeta e à poluição do ar. Isso acentuará as guerras pela água, agravando a fome e o esgotamento dos recursos naturais. Esses desastres serão piores amanhã se não fizermos nada enquanto é possível; temos de agir imediatamente”.
Os danos provocados pelas tempestades, sem dúvida nenhuma, resultarão em importantes ensinamentos para preparar uma resposta preventiva e adequada aos desastres. Para muitos, porém, o ponto fulcral para se preparar é o fato de reconhecer, finalmente, a conexão entre as mudanças climáticas e os eventos extremos. Acompanhando a onda de preocupações sobre o estado do Planeta, e após ter visto as consequências dos três grandes furações, mais os terremotos no México, o Papa Francisco, no início deste Setembro, fez uma oportuna convocatória aos católicos de todo o mundo no sentido de agir em defesa do meio ambiente. A mensagem do Papa marca o início do chamado “Tempo da Criação”, que é um mês de eventos pela preservação ambiental reunindo cristãos de todas as vertentes, inclusive os ortodoxos liderados pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I.
Para minimizar esse futuro sombrio, há dois anos, em 25 de Setembro de 2015, líderes de 193 países da ONU, aprovaram por consenso a Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Este novo marco referencial da comunidade internacional foi o resultado de um processo que teve início em 2012, na RIO+20. No cerne do documento, se encontra a preocupação de integrar os três pilares do desenvolvimento: o social, o econômico e o ambiental. Hoje os ODS são o principal guia para a ação nas áreas mais importantes para poder sobreviver. Inspirada no Papa e nos ODS, a Procuradora “verde” Raquel Dodge nos incita a não perder a esperança e muito esclarece quando afirma que: “Nosso país continua marcado por grande desigualdade social; a violência urbana e rural atingiu níveis inaceitáveis e os jovens são os mais atingidos; a liberdade de expressão tem sido marcada pelo assassinato de muitos jornalistas; os serviços públicos são precários, sobretudo nas escolas e hospitais públicos; a devastação das florestas e desastres dolorosos como os de Mariana são sinais evidentes de que o meio ambiente precisa de proteção concreta”.
Também inspirados nessas ideias, após 27 anos de uma luta utópica, com esta edição chegamos ao número 250 da ECO 21. Agradecemos aos nossos leitores a sua fidelidade, aos nossos colaboradores a sua gentileza e aos nossos anunciantes a sua confiança.