Por Ubiratã Tortato * –
Vivemos no milênio em que mais humanos habitam o planeta, em que a expectativa de vida é maior e que o desejo pelo consumo é maior também. Tudo isto faz com a pressão sobre os recursos naturais seja muito forte. Cada vez mais vemos áreas intocadas sendo utilizadas para produzir alimentos ou matéria-prima. E aí temos um problema, os recursos naturais são finitos.
Neste cenário, começa a fazer sentido as preocupações com a preservação dos recursos e com a diminuição do consumo. Só para dar um exemplo, em 2023, até outubro, o crescimento populacional do planeta estava próximo de 60 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo em que se produziram quase 70 milhões de automóveis. E o mesmo se aplica para outros produtos. Ou seja, estamos produzindo mais bens que nosso crescimento populacional. Não precisamos fazer contas muito elaboradas para perceber que este cenário é catastrófico em termos de uso de recursos e da geração de resíduos.
E tudo isto tem muito a ver com nosso sistema produtivo em uso, chamado de sistema linear. No sistema linear de produção, nós extraímos recursos, os transformamos em produtos, os vendemos para os consumidores e estes por sua vez os descartam em lugares estéreis chamados lixões ou aterros. Este sistema funcionou fantasticamente bem por muito tempo. Pessoas, empresas e países enriqueceram com este modelo. Mas infelizmente, ele não dá mais conta dos desafios que temos pela frente. Seja da preservação dos recursos, seja da mitigação da mudança climática.
É neste cenário que aparece um novo termo que já se espalha, a economia circular. A proposta da economia circular é trabalhar em ciclos fechados. Basicamente em dois ciclos, o ciclo biológico e o ciclo técnico. No ciclo biológico, os nutrientes de materiais biodegradáveis retornam à natureza para regenerá-la. No ciclo técnico, os bens e materiais são mantidos em circulação por meio de processos como reciclagem, reuso, reparo e remanufatura. É um recomeço. No passado remoto que não vivenciamos, era assim. Não será para logo, mas não vamos nos esquecer que levamos milhares de anos para chegar até aqui.
Será necessário muito investimento, muito planejamento, muito fazer diferente. Claro que no meio tempo iremos vivenciar muitas tentativas frustradas, fake news e muitas ideias inspiradoras também. O que não podemos esquecer é que o grande gerador de toda esta demanda somos nós mesmos. Assim, a solução não vai aparecer magicamente por um ato de governo ou pela boa vontade das empresas. Ela vai aparecer na medida em que façamos escolhas melhores para nós e para o futuro do planeta.
*Ubiratã Tortato é professor nos Programas de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas (PPGEPS) da Escola Politécnica e em Administração (PPAD) da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).