Por Erick Sales para o Rudge Ramos Online –
O jornalista Reinaldo Canto recebe Julia Ribeiro, oficial de educação da UNICEF no Brasil, e Romualdo Luiz, presidente da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), para discutir o atual cenário educacional do país na edição dos Diálogos Envolverde.
Para Júlia, a distância imposta pela pandemia entre os alunos e suas escolas afetou mais do que apenas o aprendizado: “Precisamos lembrar que o Brasil foi um dos países que manteve as salas de aula fechadas por mais tempo, gerando impactos profundos como, por exemplo, regressão nas capacidades de socialização e saúde mental, prejuízos para ensino e, em diversos casos, subnutrição de estudantes que recebiam nas escolas as principais refeições do dia”.
Já Romualdo, revela que o rastro deixado pelo sistema de ensino remoto se reflete nos resultados da última SARESP( Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), que é o exame realizado por todo o sistema de educação infantil do Estado. Os dados revelam o pior rendimento escolar desde 1996, ano em que a prova passou a ser aplicada. Para ele, isso é um claro indício da ineficácia do modelo de aprendizado a distância em substituir as aulas presenciais.
Para os especialistas os dados mostram que, pelos efeitos gerados pela pandemia da COVID-19, um dos maiores desafios do setor da educação será solucionar a evasão escolar, da mazela social que registrou aumento superior a 197% entre crianças de 5 a 9 anos, níveis nunca vistos desde 2005. Júlia vai além, e destaca que para diversas famílias e realidades brasileiras, há fatores culturais que impactam na decisão de abandonar ou não a escola: “Em muitas partes do Brasil há uma cultura forte que não enxerga o ensino como prioridade ou investimento profissionalizante, nesses lugares existe a priorização do trabalho à sala de aula, tanto por fatores de tradição quanto pela realidade econômica das famílias”.
Tanto para Júlia e Romualdo, os possíveis caminhos para solucionar e aos poucos, reconstruir a realidade do ensino brasileiro pré-pandemia, indicam ações pontuais e efetivas: Adoção de políticas públicas que reforcem a estrutura das escolas, mapeamento dos estudantes que abandonaram as atividades escolares e um planejamento de ensino que inclua o reforço das matérias lecionadas no período de isolamento, para garantir que mesmo os alunos que tiveram contato reduzido com as aulas possam acompanhar a grade curricular da escola.
Eles finalizam, que a educação é uma via de mão dupla, que exige tanto coordenação e iniciativa das instituições de ensino quanto do comprometimento e suporte das famílias, já que, na falta de um desses elementos, se torna praticamente inviável a formação acadêmica básica completa.
*Esta reportagem foi produzida por estagiários da Redação Multimídia da Universidade Metodista de São Paulo.
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