Sociedade

Escola transforma muro em espaço de interação com a comunidade

Por Paula Emiliana de Oliveira Queiroz*

Doação de livros e plantio de mudas foram algumas das estratégias encontradas pela professora Paula Emiliana para envolver alunos, famílias e a comunidade.

Ao longo de algum tempo, juntamente com alguns pais de alunos, a sociedade e o próprio colégio, começamos a repensar o conceito do muro da escola. As pessoas olhavam para o muro, mas ele não transmitia o que pensamos dentro da escola. Nas reuniões de pais, perguntamos para cada um o que o muro significava. E aí as respostas trouxeram o que a gente já esperava: a questão da segurança e da proteção. A partir disso, começamos a refletir sobre qual muro precisaríamos reconstruir para que houvesse uma interação com a sociedade, mostrando o que a gente faz “do lado de cá”.

Nós juntamos esforços e fizemos uma ação na rua da escola, chamada “Repense o conceito de muro”. Colocamos papéis coloridos e alunos, colaboradores ou até moradores da rua podiam escrever suas ideias. Assim, começamos a idealizar o que colocaríamos no muro para que houvesse essa ressignificação, para que não servisse apenas para proteção. Nós queríamos que fosse um muro dinâmico, que conecta e comunica.

Sendo assim, criamos vários espaços na parede. O espaço Hashtag é destinado ao recolhimento e doação de livros. Nós pensamos em fazer um local protegido da chuva, para preservar o material que as pessoas trariam. Nós colocamos inicialmente dois livros. Hoje, todos os dias têm livros novos no espaço. Nós sempre falamos uma frase sobre o espaço Hashtag, que é “Traga o que puder, leve o que precisar”. Pra gente, tem sido muito interessante ver que todo mundo está muito envolvido na ideia. Com isso, nós conseguimos incentivar a leitura e o compartilhamento do conhecimento.

Espaço Hashtag no muro da escola. Foto: Paula Emiliana

 

Já na horta, a nossa ideia é que a comunidade possa plantar, cultivar e colher. Para a nossa surpresa, todo mundo adorou a ideia. Inicialmente, nós plantamos cebolinha, coentro e alface. Hoje já tem até muda de hortelã. Eu fiquei bem feliz porque todas as plantas estão bem cuidadas, não houve nenhuma degradação. Quando tivemos a ideia, muitas pessoas questionaram, levantaram perguntas como “Você tem certeza que quer fazer isso? Os outros podem destruir”. Mas, nós, enquanto escola, quando acreditamos nas pessoas, estamos fazendo o nosso papel.

Além disso, o muro conta com QR codes, que portam conteúdos produzidos pelos alunos como vídeos, trabalhos e artigos. São materiais que nem sempre as pessoas têm a oportunidade de ver.

A nossa escola acredita muito no outro. E nesse sentido, entendemos que como a escola vive dentro de uma sociedade, ela não pode se isolar. A ideia de mostrar os trabalhos para pessoas de fora é justamente trazê-las para mais perto da escola. Nós gostamos e valorizamos muito a participação, tanto que esse envolvimento está no projeto pedagógico do colégio.

Horta no muro da escola. Foto: Paula Emiliana

 

No dia que inauguramos o muro, nós fizemos uma grande festa. Pedimos permissão e fechamos a rua para envolver os alunos, as famílias e os moradores. Nós realizamos atividades que resgatavam as brincadeiras de criança, como pular corda, pular elástico, brincar de amarelinha. Tudo isso foi inspirado no artista plástico Ivan Cruz, que aborda muito essa questão das brincadeiras. Durante a inauguração, demos um potinho com sementes de coentro para os participantes e divulgamos a frase do muro: “Repense: o muro agora conecta, interage e comunica. Mas sem você, ainda será só um muro”.

Eu acredito que, a partir do momento que existe respeito, há uma conexão com o outro. Nós temos um vizinho na frente da escola que não tínhamos muito contato. A partir do momento da ressignificação do muro, esse vizinho começou a conversar com a gente e dar sugestões de práticas a serem desenvolvidas. Eu acho que essa ponte faz a gente entender que a educação vai além do âmbito intelectual, envolvendo também a parte social e emocional.

Aqui, nós acreditamos que a educação não pode ficar só em sala de aula, mas tem que envolver o todo, tornando o aluno um ser atuante e consciente. (Porvir/ #Envolverde)

* Paula Emiliana de Oliveira Queiroz é gestora do Colégio Avance, em Recife (PE) há 7 anos. É pós-graduada em Pedagogia Empresarial.

** Publicado originalmente no site Porvir.