Sociedade

Esta semana teve o 12 de março, Dia do Bibliotecário

por Samyra Crespo – 

O mais famoso deles, o poeta e escritor argentino Jorge Luís Borges, dizia que a imagem mais perfeita do paraíso para ele era uma biblioteca.

Tendo a concordar.

Ali onde o conhecimento, a diversão e a imaginação dos humanos se acham armazenadas, catalogadas, classificadas, à espera de leitores.

Tive notícias – este ano- que mais de 6.000 bibliotecas municipais foram fechadas.

Falta de recursos para mantê-las, falta de mão de obra especializada, pouca frequência de leitores…
a existência de bibliotecas on-line, fatores vários.

Também se toma conhecimento por pesquisas do IBGE e pelo Instituto Nacional do Livro (INL) que pouco mais de 10% dos municípios brasileiros (hoje em torno de 5.500) possuem livrarias.

Quando existem, são livraria espíritas/evangélicas/religiosas.

Pouco sabemos sobre as medições e resultados das políticas públicas de incentivo à leitura.
Estamos num momento entre atos.

De um lado defendemos estoicamente a necessidade de letramento e vemos milhares de Clubes de Leitura serem instituídos no país, a maior parte de iniciativa privada.

De outro, vemos uma espécie de rendição à cultura internética, como se fosse excludente ler livros físicos e frequentar as mídias sociais, ou ainda o streaming (que cada vez mais exibe séries e filmes baseados em.literatuea consagrada).

O fato é que sem bibliotecas ou livrarias, quem vai cursar biblioteconomia e aspirar a se tornar um bibliotecário? Quem quer ter uma profissão que o levará ao desemprego ou à baixa remuneração?

Eu frequentei muita biblioteca pública.

Além de não ter dinheiro para comprar todos os livros de que necessitava no ensino médio e superior – muitos deles em língua estrangeira, gostava do ambiente disciplinado e silencioso dos salões de leitura: favorecem a concentração.

Muitos finais de semana, durante a minha graduação em História na USP, frequentei a Biblioteca Mário de Andrade.
Era com alegria que pedia para ‘baixar’ das estantes os livros, sempre uma pilha maior do que conseguia ler ou consultar. Gostava das lombada dos livros encadernados, da linha d’agua dos papéis nobres e até daquele cheiro da celulose envelhecida.

Sou uma bibliotecária enrustida. Trabalhei durante dois anos na biblioteca da minha escola. Comecei como voluntária e acabei remunerada.

Quando estudava na USP, no curso noturno, pois trabalhava durante o dia num prestigiado jornal de São Paulo, tive uma amiga bibliotecária – Hermínia era seu nome.

Grande, meio ruiva, ágil embora pesada, era uma espécie de mentora e sempre nos indicava tesouros: uma tradução rara, um livro já esgotado, uma edição primorosa.

Também era muito seletiva. ‘Escolhia’ os alunos que considerava mais promissores e dava a eles um tratamento especial.

Não lembro seu sobrenome para homenageá-la devidamente, mas estava lá na Biblioteca do prédio da História durante os 9 anos que estudei na USP, desde 1973. Talvez alguém que me lê aqui possa completar o nome dela.

Conheci muitos bibliotecários diligentes, dedicados, amáveis. Fui mesmo ‘rata’ de boas bibliotecas, como a do antigo Colégio São Luís (na Paulista) e a do Centro João XXIII no Rio, especializadas em História da Religião. A belíssima Biblioteca Nacional – dela me recordo ainda do calor (nos anos 80′ ainda não era refrigerada).

Neste dia consagrado aos bibliotecários, 12 de março, olho meio desalentada para a biblioteca que mantenho em casa.

É pequena e bagunçada.

Sempre penso em algum bibliotecário aposentado, um estagiário que pudesse me dar uma mãozinha…

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.