Por Júlio Ottoboni*
As grandes cidades do interior paulista estão entre as 15 mais poluídas do Brasil. Além disto, São Paulo lidera o ranking como o Estado com maior número de centros urbanos comprometidos em sua qualidade de vida por poluição atmosférica. O levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra a dramaticidade do quadro, que tem no Rio de Janeiro o pior exemplo de qualidade do ar no território brasileiro.
Recentes pesquisas realizadas em nível mundial mostram que a poluição atmosférica é responsável por 70% dos casos de câncer em humanos. Junto com a contaminação da água, o ar da baixa troposfera tem se tornado o grande desafio dos grandes aglomerados urbanos e a tendência é a piora desta condição com o passar do tempo.
Pelo levantamento da OMS de 2014, o Brasil ocupa a 12ª posição entre os países mais poluídos do planeta. A situação brasileira tem se agravado a cada ano, seja pela acelerada destruição da floresta amazônica, queimada do cerrado e a introdução da monocultura e da pecuária extensiva. O desmatamento da Amazônia voltou a registrar, neste ano, o crescimento de 29%. O bioma do cerrado também é constantemente destruído, seja por incêndios gigantescos como pela má utilização do solo.
As evidências das mudanças climáticas surgidas pelo aquecimento global de efeito antrópico ainda pouco sensibilizou as autoridades brasileiras. Apesar do cenário climatológico do país dar demonstração de sua transformação, como a seca prolongada no sudeste entre 2013 a 2015, os constantes ciclones extratropicais na porção sul do país – que no começo dos anos 2000 formou o primeiro furacão na porção sul do Oceano Atlântico, o Catarina- e as tempestades severas com grandes volumes de granizos e o surgimento cada vez mais frequente de tornados dentro de cidades, entre tantos outros exemplos.
Segundo a OMS, a quantidade de poluentes considerada aceitável para o correspondente a um metro cúbico (m³) de ar é de 20 microgramas em seu limite máximo. Pelo levantamento da OMS, a cidade mais poluída do Brasil é o Rio de Janeiro, com 64 microgramas de poluentes por metro cúbico de ar. Ou seja, uma quantidade de 3,2 vezes maior que o volume determinado como o teto aceitável.
A capital do Rio de Janeiro, onde se inclui sua região metropolitana, ficou na 144ª posição em uma lista com mais de 1100 cidades em todo o mundo, na pesquisa recém-divulgada. A ocupação desordenada da faixa plana terra e dos morros, a supressão da Mata Atlântica e o aumento considerável no volume de automóveis transformaram drasticamente a qualidade do ar na capital fluminense.
Por conta da elevada concentração de pessoas, veículos e indústrias, baixa dispersão dos materiais poluentes em suspensão por falta de brisa, as grandes cidades tendem a gerar uma maior quantidade de poluentes.
Entre os piores exemplos expostos pelos cientistas estão Pequim, na China, e Nova Déli, na Índia, conhecidas por seu elevado índice de poluição do ar. O Brasil que tinha esse problema muito concentrado na cidade de São Paulo, agora vê o fenômeno da degradação da qualidade do ar ocorrer em Manaus, Rio de Janeiro e em cidade do interior e litoral.
No ranking das 15 cidades mais poluídas, nove delas estão em São Paulo. A primeira é Cubatão com 48 microgramas de poluentes por m³, em segundo vem Campinas com 39, seguida por São Paulo e Região Metropolitana com 38. O quinto e o sexto lugares ficam com Sorocaba com 28 e São José do Rio Preto com também 28 mg/m³. Em oitavo e nono estão Araraquara com 27 e Araçatuba com 26. Em 12º lugar vem São José dos Campos, com 21 mg/m³ e Marília, em 13º, com 21 mg/m³.
Constam ainda na listagem da OMS, Curitiba e Região Metropolitana (PR) com 29 mg/m³; Volta Redonda (RJ) com 28; Betim (MG) com 22; Belo Horizonte (MG) com 20 e Ibirité (MG) com 18 mg/m³.
A poluição atmosférica se caracterizada por alterações físicas, químicas e biológicas de determinado ambiente por materiais particulados, orgânicos e inorgânicos, nocivos às condições de suporte à vida e a saúde das populações existentes, atuando tanto na fauna quanto na flora. (#Envolverde)
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente. É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.