Sociedade

Estudantes desenvolvem plástico biodegradável no projeto Meninas na Ciência

por Francimare Araújo, da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura de Sergipe – fotografia  Maria Odília – 

A cerca de 40km da capital, o município de Santa Rosa de Lima, no Vale do Cotinguiba, fica localizado entre morros e extensos canaviais. Com forte impacto na cultura da cana- de-açúcar nas primeiras décadas de existência, o percurso até a sede do município é marcado por antigas casas de engenho e de um verde que só a generosa natureza pode proporcionar. É nesse contexto que quatro estudantes desenvolveram um plástico biodegradável, o chamado bioplástico, a partir da matéria-prima abundante na região: a cana-de-açúcar.

O projeto Meninas na Ciência, executado em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS), tem mudado o projeto de vida de algumas estudantes do Centro de Excelência Dr. Edélzio Vieira de Melo, unidade que oferta o Ensino Médio em Tempo Integral. Capitaneadas pela professora de Química, Laís Menezes, o projeto é articulado na própria escola com a ajuda de alguns colaboradores. Tocada pelo desejo de incentivar as garotas da escola onde leciona, Laís explica que a iniciativa parte da baixa atuação de mulheres nas ciências exatas.

A história já provou que as mulheres participaram ativamente das grandes descobertas e mudanças tecnológicas datadas há séculos. A descoberta da radioatividade pela cientista Marie Curie, no século XIX, rendeu-lhe, em 1903, o Prêmio Nobel de Física, em reconhecimento pelos extraordinários serviços obtidos em suas investigações conjuntas sobre os fenômenos da radiação, tornando-se a primeira mulher a receber a honraria.  Ainda assim, o número de cientistas envolvidas neste universo é tímido.

No tocante à química verde, área que se preocupa com a sustentabilidade do planeta, a professora Laís uniu a história do Vale do Cotinguiba com a responsabilidade socioambiental contra o descarte desenfreado de plásticos. Para tal, o plástico biodegradável está sendo executado, em fase experimental, pelas quatro integrantes do projeto.

Responsabilidade social 

O primeiro passo para a concepção do produto se dá com o recolhimento do bagaço da cana doado por uma feirante. Depois é colocado na estufa, triturado e levado ao fogo para serem acrescentadas as soluções que formam o prato, o copo, a colher e o canudinho. A professora esclarece que nessa etapa, a solução é composta de amido e farinha de trigo e derramada nos moldes, de modo que a textura se aproxime de um utensílio mais resistente. Os testes já foram realizados com glicerina, porque a ideia final, segundo a professora, é criar um canudo comestível. “Para o canudo ser comestível, ele precisa ser atraente. Não só no olhar, mas também no sabor”, disse.

O grupo de aspirante à cientista é formado pelas estudantes das três séries do Ensino Médio em Tempo Integral: Maria Eloíza, Leila Kauane, Sirley Mendonça e Eline Santana. Elas descobriram nas aulas de química um caminho de descobertas, confiança e muito estudo. Com a orientação da professora, as meninas dão aulas experimentais uma vez por mês aos colegas, que já manifestam o interesse em participar do projeto.

A formanda Leila Kauane, uma apaixonada pela magia que acontece com a combinação de substâncias, despede-se das amigas para ocupar uma das vagas de Licenciatura em Química no Instituto Federal de Sergipe (IFS). Para ela, o contato com a universidade por meio do projeto foi muito importante. “Para mim foi um pouco assustador e ao mesmo tempo inovador, porque eu estou aprendendo, inovando e ajudando essas colegas”.

Sirley Mendonça, jovem protagonista da unidade e aluna do 2º ano, foi um pouco relutante no início, mas logo se rendeu ao convite da professora e agora se encaminha para optar por uma das licenciaturas como profissão. “Nesse projeto a gente vai descobrindo e aprendendo várias coisas. A gente consegue colocar em prática o que a gente vê, não somente em sala, mas fora, na universidade”, contou.

Assim como as colegas citadas acima, Maria Eloíza e Eline Santana também já traçaram o futuro. O projeto de vida de cada uma delas envolve as ciências exatas, seja na engenharia ou na licenciatura, decisão tomada a partir da oferta de projetos que desenvolveram nas garotas o esclarecimento e, sobretudo, o empoderamento para ocuparem qualquer espaço que desejam. (#Envolverde)