Por Ricardo Affonso Ferreira, presidente e fundador da ONG Expedicionários da Saúde, vencedora do Prêmio Zayed de Sustentabilidade de 2023 –
Nós da ONG Expedicionários da Saúde já tivemos a honra de ganhar vários prêmios pelo nosso trabalho. Isso nos enche de orgulho. Quando me perguntam qual o mais especial até hoje, digo que, internacionalmente, foi o Prêmio Zayed de Sustentabilidade. O reconhecimento global, o valor em dinheiro para ampliarmos nossas ações e as pontes de relacionamento construídas são incalculáveis e muito importantes na nossa trajetória.
Antes de contar um pouco mais sobre essa história, aproveito para adiantar a grande torcida que temos. Até hoje, somos a única organização brasileira a obter essa honrosa conquista, oferecida pelos Emirados Árabes Unidos. Além, claro, do Professor José Goldemberg, que foi premiado como pessoa física na categoria “Life Achievement” em 2013, por sua carreira influente e trabalho pioneiro com biocombustíveis.
Torcemos muito para que tenhamos mais brasileiros vencedores esse ano, para que na cerimônia de janeiro de 2026 em Abu Dhabi, uma ONG, pequena ou média empresa ou escola de ensino médio brasileira possa estar no palco com um troféu em mãos. Para isso, vou contar alguns detalhes do nosso processo e como conseguimos essa conquista tão importante, e mostrar como se inscrever no final desse texto.
A Expedicionários da Saúde é, desde 2003, um grupo de médicos voluntários. Com mais de duas décadas de experiência, adquirimos a expertise necessária para oferecer acesso gratuito a cuidados de saúde cirúrgicos para as populações indígenas que residem em áreas geograficamente isoladas da Floresta Amazônica. Nos orgulhamos muito de oferecer atendimento médico especializado, especialmente cirúrgico, para populações indígenas que vivem geograficamente isoladas.
Em 2021, quando nos inscrevemos pela primeira vez ao Prêmio Zayed de Sustentabilidade, não passamos para a segunda fase. Vejo que muitas ONGs com iniciativas incríveis e com um trabalho muito sério e quantitativo param por aí. E eu entendo. É fácil de desanimar e sentir frustração nesses momentos. Mas é importante seguir acreditando no potencial de conquistar um destaque tão importante. Aqui na EDS, quando nos inscrevemos em um edital e não passamos, já marcamos a data para tentar novamente no ano seguinte. E foi isso que fizemos, deixando a inscrição ainda mais completa e informativa. Então, em 2023, quando aplicamos pela segunda vez, tivemos a sorte e a alegria de passar para as próximas fases, percorrendo o caminho até o final.
Fui para a cerimônia de premiação em Abu Dhabi com o Fábio Costa, vice-presidente, e Sérgio Leite, membro do conselho consultivo, e foi uma alegria muito grande. Tinha acabado de passar a pandemia, quando crescemos bastante. Estávamos em um momento de transição, em que grandes fundações e apoiadores tiraram um pouco o pé do investimento em saúde, e a gente estava sem saber como lidar com a grande equipe que tínhamos e as atividades na nossa agenda. O prêmio de 600 mil dólares, na época cerca de três milhões de reais, veio em excelente hora, pois pudemos investir tanto na nossa estrutura, ampliando e modernizando nossos equipamentos, quanto nas ações.
Nesse meio tempo, veio a missão SOS Yanomami, que repercutiu muito na mídia nacional e internacional. Montamos um hospital de campanha na comunidade Surucucu. Nesse momento, para ter noção do desafio, morriam quase duas crianças por dia por conta dos efeitos do garimpo e da malária, segundo estatísticas. Tudo isso aconteceu em 2022 e 2023. Recebemos o prêmio em 2023, e boa parte foi para o hospital de campanha. Trabalhamos em conjunto com a Secretaria de Saúde indiegena e colocamos nosso hospital de campanha nesta ação emergencial. Conseguimos ajudar muito, e o trabalho segue dando resultados.
Em janeiro de 2025, fomos em pelo terceiro ano consecutivo. Entre outros atendimentos e cirurgias, já tivemos a oportunidade de devolver a visão de muitas crianças indígenas, como a Sara dos Santos Miranda, de apenas 7 anos, da comunidade Piloto, em Barcelos-AM. O caso dela foi filmado pela equipe do Prêmio Zayed de Sustentabilidade, que foi para a Amazônia acompanhar o nosso trabalho. Eles ficaram tão encantados com o sorriso dela após voltar a enxergar que até a convidaram par a cerimônia de premiação de 2025, quando ela chegou a apertar a mão de Sua Alteza Xeque Mohamed bin Zayed, Presidente dos Emirados Árabes Unidos e Governante de Abu Dhabi.”.
Foram muitas conquistas e momentos que fazem tudo valer a pena. Receber o Prêmio Zayed de Sustentabilidade no ano em que a EDS completou duas décadas de existência foi, sem dúvida, um dos maiores reconhecimentos da nossa história, demonstrando que estávamos no caminho certo da luta pela transposição do abismo social que separa a saúde especializada e os Povos Originários da Amazônia Brasileira. A força voluntária e de uma equipe de trabalho dedicada, aliada a uma tecnologia social a favor dos que mais precisam, nos trouxeram até aquele momento, e o prêmio nos levou ainda mais longe.
Queremos muito ver outra iniciativa brasileira sendo contemplada e saindo vitoriosa. Então, vamos lá: as inscrições estão abertas até 23 de junho pelo site https://entry.zayedsustainabilityprize.com/pt-PT/. ONGs e pequenas e médias empresas brasileiras podem receber 1 milhão de dólares, cerca de R$ 5.8 milhões, caso sejam vencedoras das categorias Saúde, Energia, Ação Climática, Alimentação e Água. Sim, a premiação aumentou desde que fomos vencedores em 2023. Já Escolas de Ensino Médio podem receber até 150 mil dólares, cerca de R$ 870 mil, para implantarem ou aumentarem projetos liderados por alunos. São oportunidades incríveis de conhecer outras organizações comprometidas com o meio ambiente e o progresso sustentável, de investir em soluções inovadoras e transformativas, e de levar o nome do Brasil para o mundo mais uma vez.
