Investidores pressionam Mourão por resultados no combate ao desmatamento

Por Deutsche Welle –  Vice-presidente se reúne com representantes de fundos de investimento do exterior que mostraram preocupação com política ambiental brasileira. Segundo Mourão, eles esperam ver resultados antes de retomar investimentos.

Atualizado em 10/07/2020 às 14:07, por Redação Envolverde.

Por Deutsche Welle – 

Vice-presidente se reúne com representantes de fundos de investimento do exterior que mostraram preocupação com política ambiental brasileira. Segundo Mourão, eles esperam ver resultados antes de retomar investimentos.

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta quinta-feira (09/07) que os investidores estrangeiros esperam ver resultados da política ambiental brasileira antes de retomar os investimentos. A fala veio após uma videoconferência com representantes de fundos de investimento do exterior para tratar da preservação do meio ambiente no país.

“É óbvio: eles querem ver resultado. E qual é o resultado que podemos apresentar? É que haja efetivamente uma redução do desmatamento”, disse Mourão após a reunião, que reuniu fundos da Holanda, Japão, Noruega, Reino Unido e Suécia.

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O encontro foi motivado por uma carta que o governo recebeu nesta semana de executivos de grandes empresas brasileiras e estrangeiras, que cobraram ações concretas de combate ao desmatamento no país.

No final de junho, outra carta havia sido enviada a embaixadas brasileiras na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, dessa vez por um grupo de administradores de recursos, que também expressaram preocupação com o avanço do desmatamento na Amazônia. Os representantes dos fundos que se reuniram com Mourão nesta quinta-feira fazem parte desse grupo.

A política ambiental do governo de Jair Bolsonaro tem recebido críticas constantes de atores internacionais, especialmente após as queimadas na Floresta Amazônica no ano passado. Segundo a imprensa brasileira, a imagem deteriorada do Brasil no exterior passou a preocupar o Planalto, que teme uma fuga de investimentos no país.

Na semana passada, na cúpula do Mercosul, Bolsonaro disse que o governo está dialogando com diversos interlocutores “para desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil e expor as ações que tem tomado em favor da proteção da Floresta Amazônica e do bem-estar da população indígena”.

Mourão, que preside o Conselho da Amazônia, afirmou nesta quinta-feira que o país precisa obter resultados positivos no combate ao desmatamento no segundo semestre deste ano para, assim, apresentá-los aos investidores na mesa de negociações.

“Não há prazo [para a retomada dos investimentos]. A nossa visão é que a gente conseguindo apresentar, no segundo semestre, algo positivo em relação às queimadas, é algo que pode ser colocado na mesa de negociação, dizendo: estamos cumprindo a nossa parte e vocês voltem a cumprir a de vocês”, afirmou o vice-presidente.

Segundo ele, também foram iniciadas novas conversas sobre o Fundo Amazônia, especialmente com Noruega e Alemanha, os principais doadores. Os dois países também aguardam os resultados dos esforços do Brasil na redução do desmatamento ilegal e das queimadas, disse Mourão.

“Estamos aguardando o visto bom deles, que também está ligado à nossa resposta em relação ao desmatamento. Uma vez que consigamos apresentar dados consistentes, os recursos que estão lá [no fundo] serão novamente reabertos para os projetos relacionados ao desenvolvimento, proteção e preservação da Amazônia.”

Sobre as críticas que o Executivo recebe, ele disse que parte delas se deve a disputas geopolíticas. “O Brasil tem terra fértil para avançar e crescer. Não há dúvidas que seremos, em breve, a maior potência agrícola do mundo. Quem se sentir incomodado vai impedir que essa produção evolua. Vamos sofrer pressões, e uma delas será de que o Brasil está destruindo a Amazônia para produzir alimentos, o que é mentira. A floresta está lá, de pé.”

Também participaram da reunião os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles; da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto; da Agricultura, Tereza Cristina; das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; e das Comunicações, Fábio Farias; além dos presidentes do Banco Central, Roberto Campos Neto, e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Sergio Segovia.

Após a reunião, Salles confirmou que o governo deve editar até a próxima semana um decreto suspendendo a autorização para o uso de queimadas para fins agrícolas por 120 dias, em mais uma tentativa de conter os impactos negativos à imagem do Brasil no exterior.

“Este ano o presidente determinou que se fizesse um estudo de viabilidade para a suspensão por 120 dias das queimadas: na Amazônia e no Pantanal sem exceções, e nos demais biomas com as exceções previstas em lei. O texto deve estar pronto para assinatura na próxima semana”, afirmou.

Segundo os presentes na reunião virtual, os investidores também expressaram preocupações com a proposta do governo para a regularização fundiária, especialmente na Amazônia, e com a preservação dos direitos da população indígena no país.

De acordo com a imprensa brasileira, Mourão reconheceu que é responsabilidade do governo cuidar dos povos indígenas, mas não apresentou medidas concretas nesse sentido.

Por outro lado, ele afirmou que os indígenas deveriam ser “mais integrados” à sociedade, e disse que muitos deles contraíram a covid-19 não por conta da invasão ilegal de garimpeiros, mas por se deslocarem até as cidades para fazerem compras e receberem benefícios sociais.

Na quarta-feira, Bolsonaro sancionou uma lei que prevê medidas de proteção para comunidades indígenas durante a pandemia de coronavírus, mas com uma série de vetos – entre eles, foi vetada a obrigação do Poder Público de garantir aos indígenas acesso universal a água potável, de distribuir materiais de higiene gratuitamente, de limpar e desinfectar as aldeias, bem como de oferecer leitos hospitalares e de UTI e ventiladores mecânicos.

De acordo com a agenda da vice-presidência, a videoconferência teve a participação de representantes dos fundos de investimentos Legal and General Investment Management (Reino Unido), Nordea Asset Management (Suécia), SEB Investment Management (Suécia); Storebrand Asset Management (Noruega), KLP (Noruega), Robeco (Holanda), AP2 Second Swedish National Pension Fund (Suécia) e Sumitomo Mitsui Trust Asset Management (Japão).

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