Inspirado em filme de animação, jogo UBA incentiva escolha por alimentos saudáveis que caem do céu.
Por Maria Victória Oliveira, do Porvir –
Não é nada incomum conhecer crianças que comam pouco e de forma pouco saudável ou famílias que se preocupam com os hábitos alimentares de seus filhos. Inúmeras vitaminas de gosto ruim já passaram pela boca dos pequenos. Mesmo assim, alguns insistem em não comer nada, enquanto outros tem verdadeira adoração por qualquer tipo de doce com pouco – ou nenhum – valor nutricional.
Se você se identificou com a situação descrita acima, saiba que a solução pode vir através de outras ferramentas, e não com xaropes azedos. Pensando na importância de estimular hábitos saudáveis de alimentação, o professor de biologia Tiago Eugênio decidiu entrar no universo de crianças e jovens e criou o UBA. Trata-se de um jogo para celulares ou tablets que faz o jogador controlar o boneco para pegar somente comidas saudáveis – como frutas, legumes e verduras – que caem do céu, evitando rosquinhas, refrigerantes e doces.
A inspiração também veio do mundo dos pequenos. “Eu me inspirei no filme ‘Tá chovendo hambúrguer’ para criar o UBA, pensando também na necessidade de criar experiências lúdicas que consigam conscientizar as crianças e o público sobre a distinção entre alimentos saudáveis e não-saudáveis”, defende ele.
Apesar de ser destinado ao ensino fundamental 1 e às séries iniciais do ensino fundamental 2, o jogo está fazendo sucesso também entre adultos. Segundo Tiago, é importante começar o estímulo a alimentação saudável desde cedo. “As séries iniciais do fundamental 1 são momentos propícios para a formação de hábitos, inclusive os alimentares. É nesse período que a criança está experimentando e desenvolvendo o paladar”.
Ele defende que aulas expositivas não conseguem convencer os alunos e mostrar os benefícios de uma alimentação balanceada, de forma a mudar os hábitos das crianças. “Eu acho que a grande vantagem da mídia jogo é ter uma estrutura de feedback imediato. O aluno observa que se não fizer a distinção correta dos alimentos em um curto período de tempo, ele não consegue avançar para atingir outros níveis”. Ele explica ainda que professores só conseguem oferecer esse retorno imediato em provas, nas quais os alunos respondem as questões pensando mais nas expectativas do professor do que nas próprias crenças.
O Jogo
Com o nome de UBA, que significa “fruta” em Tupi-guarani, o jogo é dividido em níveis, que são anunciados com a frase “vem coisa nova por aí”. A passagem de fases é determinada de acordo com a expectativa de vida do personagem, que aumenta ou diminui conforme ele vai comendo aquilo que cai do céu. “Eu quis tirar a ideia de pontos, porque quando nós professores gamificamos uma atividade em sala de aula, ficamos muito focados em pontos e badges”.
No primeiro nível, o jogador deve escolher entre tomates e rosquinhas doces. Depois, começam a aparecer vagens, cupcakes, sorvetes, refrigerantes, abobrinhas, bananas, morangos e cenouras. A escolha errada dos alimentos pode ter consequências indesejáveis para o jogador: o bonequinho fica maior e mais lento, simbolizando a possibilidade de obesidade no caso de alimentações não saudáveis. “O elemento diversão prevalece no jogo. De uma forma sutil, como background, vem a mensagem pedagógica da alimentação saudável, quando o boneco fica mais lento e tem alteração no tamanho”.
Mas os elementos não param por aí. Segundo Tiago, ao criar um jogo, é importante oferecer possibilidades ao usuário. “Se o jogador ficar só desviando dos doces, ele vai enjoar muito rápido. A ideia de dar um benefício é uma forma de oferecer uma facilidade e ao mesmo tempo um agente distrator”.
Essas facilidades são chamadas de Power Ups. Entre eles, está a estrela, que traz uma “chuva torrencial” de alimentos saudáveis; a pílula, que cria uma bolha de imunidade do personagem, impedindo que ele coma doces; a semente, que permite lançar vasinhos de plantas contra os doces e o ovo de dragão. A participação desse outro personagem veio do feedback de usuários, enquanto o jogo ainda estava em testes. “Os dragões voadores são os preferidos das crianças, e traz a ideia da draga que come tudo e limpa a tela do jogo”.
Segundo o professor, é possível que as crianças joguem em casa mesmo, mas que as famílias tenham participação nessa atividade. “Eu acho muito valioso quando o adulto ou responsável oferece um jogo pra criança e depois faz questionamentos sobre isso”. Tiago defende que essa mediação é importante, uma vez que é mais difícil que o jogo passe a mensagem sozinho. “Eu acho muito mais eficaz quando alguém que conhece o produto faça a mediação, propondo questionamentos focados na criança, de forma que ela relacione o jogo, que é um entretenimento, com a vida dela”.
O jogo está disponível na Google Play Store de forma gratuita. Os usuários do sistema IOS (da Apple) terão que esperar mais um pouco pela novidade. (Porvir/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Porvir.