Neuza Árbocz, especial para a Envolverde –
Discussões acaloradas têm tomado o Brasil nos últimos anos, capazes de dividir famílias ou quebrar amizades. O que não se vê é que muitas delas se baseiam em dados falsos, ou fragmentos truncados de verdades.
Mais uma vez o país se vê dividido por um assunto de interesse geral com a proposta de reforma do Sistema Previdenciário em vigor no país. De contribuição obrigatória para todo contratado via CLT, que recolhe sob o Regime Geral (RGPS), e para os funcionários públicos e militares, que recolhem sob o Regime Próprio (RPPS), o assunto gera grandes discussões, na base do já tradicional Fla x Flu, onde mais que argumentos, dados e lógica, são usadas ideologias para se colocar contra ou a favor, com ataques cegos e pouca escuta.
As mídias sociais viraram, de novo, palco dos debates. Memes sofisticados, com desenhos animados e narração profissional, se espalharam, sem que se saiba ao certo quem os produziu.
Quem paga as equipes que investem horas de sua dia para disseminar crenças e tentar manipular a opinião de quem as segue? Essa é uma pergunta que poucos fazem. Afirmações sem fundamento algum são espalhadas aos quatro ventos, a partir de sites aparentemente jornalísticos e perfis de supostos especialistas.
Nessa era de profusão de informação, verificar as fontes e como foram geradas as notícias que se lê é uma necessidade básica e primordial.
Comparar versões em diversos veículos, ciente de suas tendências políticas, idem.
No caso da Reforma da Previdência, até ator global entrou no jogo, em um polêmico vídeo custeado por uma organização de oposição ao governo, que acabou desmentido, ponto a ponto, por economistas sérios.
De uma proposta original de subir de 15 para 25 anos a contribuição mínima para se ter direito à aposentadoria, espalhou-se uma versão de exigência de ao menos 49 anos de recolhimentos para se aposentar. Uma arte comparou a suposta proposta brasileira, com regras – também falsas – de outros países. A França, por exemplo, constava na tal arte como dando direito à aposentadoria a partir de 27 anos de trabalho e 52 anos de idade. Quando as regras reais para os franceses são 40 anos de contribuição e 62 anos de idade mínima, tanto para homens como para mulheres, no setor público e privado.
As mentiras são tão fáceis de esclarecer.
Basta uma busca rápida para acessar sites oficiais dos governos, ou fontes jornalísticas bem estabelecidas, com endereço real, editores responsáveis e CNPJ que as tornariam alvo de processos legais penosos caso disseminassem inverdades e calúnias. Mas muita gente esquece essa possibilidade e, apegada a fontes sem constituição jurídica legal, com domínios próprios registrados fora do Brasil, se jogam em discussões pesadas, ofendem e brigam, sem um mínimo de cuidado de checagem. Engolem posts que citam jornais estrangeiros para defender suas visões, sem clicar no link apontado e ler os artigos originais – que não raro, não trazem nada do conteúdo alegado.
O preço disso é uma nação que atrofia a sua capacidade de diálogo e de construção conjunta.
Que ignora fatos importantes.
No caso da Reforma da Previdência ora proposta, poucos sabem que a mesma foi construída não pelo atual governo, mas sim por análises e encontros nos últimos quatro anos, por economistas e matemáticos idôneos, preocupados em evitar um colapso geral do sistema. Foram criados vários grupos de estudos sobre a situação e quem quis se envolver e participar teve total liberdade para fazê-lo. Tanto no Banco Central, como no Ministério da Fazenda, existem técnicos capacitados e apartidários excelentes e engajados, por dever cívico. Não se trata de interesses políticos, pelo contrário. Mas de uma medida igualitária: de idade mínima e teto máximo semelhante para todos.
Há direitos a preservar? Há regras de transição para se ajustar? Sim. Mas é fato que a população vive mais tempo; que o Regime Próprio traz regras insustentáveis e privilégios que exaurem os recursos e, que se nada for feito, todo o sistema irá falir nas próximas décadas.
O Regime Próprio abrange apenas 30% dos aposentados, mas consome 70% dos recursos. Mesmo assim, a manipulação da opinião pública faz o Congresso hesitar em mexer nesse campo, a ponto do governo federal deixar por conta dos Estados e municípios a reforma para os servidores destas instâncias, o que pode causar atrasos e bancarrotas como o Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais já enfrentam. Embora, resolver o desafio posto, de fato, não é um ônus apenas do governo federal.
Há recursos em outras áreas para sustentar a Previdência? Sim. Só em 2016, a sonegação fiscal no país foi estimada em R$ 107 bilhões, mais R$ 60 bilhões em desoneração fiscal – dados da ANASP – https://www.anasps.org.br/. Isso cobriria o rombo atual, mas e depois? Ele se formaria novamente, pois é um sistema fechado com recolhimento deficitário.
Na dúvida, melhor ir à fonte primária: http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/dezembro/perguntas-e-respostas-esclarece-duvidas-sobre-a-reforma-da-previdencia/PerguntaseRespostassobreaReformadaPrevidncia.pdf
A confusão de informação é proposital e maquiavélica. Pois quando se alastra, faz com que desconfiemos de tudo e todos e quando não se acredita em mais nada, se desiste de acompanhar e de se posicionar. Ou se radicaliza. Por uma lado, apatia e indiferença podem se instalar; e por outro, manifestações violentas e perigosas. De um jeito ou de outro, abre-se caminho para poucos se apropriarem da governança do país. Risco que não deveríamos correr.
Hoje e sempre, é preciso pesquisar, comparar os lados, checar fontes e se informar com precisão, antes de se ‘inflamar’.
Bem informados, vale se engajar em fóruns e rodas de conversas que ajudem esclarecer aos menos preparados para leituras e temas complexos ou àqueles sem acesso à internet e bons meios de comunicação. Assim como, disseminar em suas mídias – facebook, grupos de WhatsApp, blog etc., pontos de vistas abrangentes e bem embasados. Uma atitude simples – que requer paciência, é verdade – mas que presta um serviço enorme ao Brasil. (#Envolverde)