Sociedade

Mapa da Desigualdade alerta sobre disparidades abruptas

Vinte seis anos de vida separam um morador de Pinheiros de um cidadão da periferia paulista

Por Katherine Rivas, da Envolverde –

A Oxfam Brasil revelou que os níveis de desigualdade na distribuição da riqueza brasileira são tão abruptos como o cenário mundial.  Seis bilionários brasileiros concentram a renda da metade mais pobre da população nacional, segundo o estudo.

Esta disparidade é perceptível em proporções menores nos municípios como São Paulo onde 31 dos 96 distritos que o conformam não tem leito hospitalar, 34 não tem parques e 36 não contam com bibliotecas.

O impacto destas diferenças incide diretamente na expectativa de vida dos cidadãos, segundo dados do Mapa da Desigualdade Brasileira só na cidade de São Paulo uma pessoa que mora no bairro Alto de Pinheiros, zona oeste, vive em média 79,67 anos enquanto um morador da Cidade Tiradentes, zona leste, tem um tempo de vida de 53,85 anos.

De acordo com o relatório da Oxfam “Uma economia para os 99%” as principais causas desta desigualdade radicam na falta de justiça e na sonegação fiscal. Anualmente a população pobre paga cerca de 100 bilhões de dólares pela sonegação, dinheiro equivalente a 124 milhões de crianças nas escolas ou 6 milhões de mortes infantis evitadas pela qualidade deficiente do sistema de saúde.

Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil chama a atenção para a inversão de valores e coloca como principais desafios para o país a redução de impostos pagos de forma individual, o reconhecimento do trabalho não remunerado das mulheres e a luta pela dignidade dos trabalhadores. Da mesma forma afirma que mundialmente a tecnologia não está sendo utilizada para benefício dos 99% mais pobres contribuindo também com a desigualdade mundial.

Oded Grajew apresenta dados do Mapa da Desigualdade brasileira 2016. Foto: Divulgação/ Rede Nossa São Paulo

 

Frente a esta realidade, o Programa Cidades Sustentáveis reuniu, no último dia 15, os representantes das Prefeituras Signatárias (2017-2020) no I Encontro para o lançamento do Guia de construção do Mapa da Desigualdade, ferramenta criada para auxiliar gestões públicos e prefeitos de cada município a resolver as necessidades e problemáticas das cidades.

O Programa surgiu de uma parceria entre o ICLEI América do Sul e a Rede Nossa São Paulo e a criação do Mapa da Desigualdade contou também com a participação da Oxfam Brasil e a Fundação Ford.

Como funciona?

O Mapa contempla indicadores das áreas de Educação, Saúde, Trabalho, Meio Ambiente, Cultura, níveis de violência, alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).  Desta forma é feito um diagnóstico da cidade com as subdivisões administrativas identificando a desigualdade entre o melhor e o pior indicador da região.

Os mapas para compor o levantamento de Desigualdade utilizam dados do próprio município, porém para avaliar a questão da saúde o DATASUS é referência e na área de educação o INEP. Os dados do Censo Demográfico são omitidos nesta avaliação por serem de um período de dez anos, longo demais para identificar evoluções ou retrocessos. O Mapa aconselha os gestores atualizar estes dados anualmente. O Mapa também é utilizado pelos movimentos participantes da Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis.

Trata-se de um software livre de fácil criação para os usuários que pode ser baixado no seguinte link https://github.com/iotaorg e logo inserir os indicadores, cadastrar as regiões e realizar o cálculo das desigualdades.

Na avaliação é importante apontar os indicadores zerados, positivos e negativos tais como zero casos de violência ou zero centros culturais para identificar a evolução ou retrocesso destes padrões.

O Mapa também conhecido como Desigualometro está disponível para celulares como aplicativo para consultar estes dados. A plataforma pode ser utilizada em smartphones Android, para baixar é preciso acessar a loja do Google Play Store. No aplicativo o cidadão ou gestor poderá acessar todos os dados do Mapa, assim como o PDF do Mapa da Desigualdade da Cidade de São Paulo na sua versão completa.

Para os aparelhos com sistema IOS (Iphone) o aplicativo ainda não está disponível mas pode ser acessado no link http://desigualtometro.mediacts.com

Moradores da Cidade Tiradentes tem 26 anos menos de expectativa de vida que um morador de Pinheiros. Foto: Catraca Livre

 

“Se um prefeito precisa achar uma prioridade para sua gestão com certeza deve ser a redução da desigualdade. Com isso você resolve grande parte dos problemas das cidades” afirmou Oded Grajew, coordenador geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis. Grajew definiu a cidade de São Paulo como a mais rica do país porem com vários distritos sem equipamentos públicos comprovando a teoria que os municípios com maior geração de riqueza apresentam mais desigualdade.

Outras considerações podem ser encontradas no Guia no link: http://www.cidadessustentaveis.org.br/arquivos/guia-mapa-desigualdade.pdf

Contexto ambiental

O ICLEI América do Sul e o programa Cidades Sustentáveis apresentaram também o Guia de Ação pelo Clima, iniciativa inédita no Brasil para orientar os gestores locais sobre ações para minimizar as mudanças climáticas, integrando estratégias aliadas à energia, transporte, agricultura entre outras atividades econômicas.

O Guia do Clima oferece opções praticas para o poder público municipal com o fim de reduzir os impactos ambientais gerar crescimento e desenvolvimento sustentável. Nele são apresentados conceitos de ciência, dicas para os gestores, estudos dos impactos do clima nas cidades, legislações ambientais e cases de sucesso nacional.

Entre as metodologias destaca-se a GreenClimateCities, aplicada no Projeto Urban Leds em oito municípios brasileiros membros do ICLEI. Estas estratégias apontam para o desenvolvimento de baixo carbono que permita melhorias na qualidade de vida das pessoas e no meio ambiente.

Segundo o estudo se nada for feito para diminuir as emissões de gases efeito estufa a temperatura do Brasil pode incrementar em até 6°C até o fim do século.

O relatório aponta que o passado do Brasil deixou de ser referência para o seu futuro. Estas mudanças climáticas podem gerar grandes impactos em cada bioma. Na Amazônia até o ano 2040 as chuvas podem diminuir em 10% e em 45% até 2100, já a temperatura pode incrementar 1,5°C até 2040 e 6°C até 2100. Os efeitos mais perceptíveis serão a seca, perda de biodiversidade e vegetação assim como árvores mais espaçadas e com copas menos densas.

Já no Cerrado as chuvas podem diminuir em 20% até 2040 e 45% até 2100 com um incremento paralelo de temperatura de 1°C (até 2040) e 5,5°C (2100). As consequências desfavorecem o desenvolvimento da vegetação e provocam grandes incêndios e erosão do solo.

Para conhecer o Guia do Clima acesse: http://www.cidadessustentaveis.org.br/arquivos/ICLEI_guia_cidades_sustentaveis.pdf

(#Envolverde)