A frase título é da escritora e psicoterapeuta norte-americana Barry Stevens sobre os riscos de se atropelar o ritmo do desenvolvimento individual, a exemplo do que parece ocorrer com muitos currículos escolares. De fato, as oportunidades de trabalho se abrem hoje com maior facilidade para os mais graduados. A questão é o quanto isso pode estar promovendo a exclusão ou levando pessoas a remar contra a corrente numa carreira para a qual foram enviadas a contragosto.
Volta e meia ouvimos alguém lamentar: “Meu tempo de escola foi um suplício!”. Por que isto deveria ser dessa forma quando aprender é uma das buscas mais naturais e prazerosas do ser humano? A resposta talvez esteja no modo como o mercado do consumo vem vinculando a ideia de sucesso pessoal aos ganhos materiais e à tendência de considerar a infância um mero tempo de transição, necessitando de estímulos para alcançar o quanto antes a forma final do modelo adulto. Não fosse a premeditada avidez pelo lucro, poder-se-ia classificar tal concepção como ingênua, uma vez que nunca estivemos tão perto de quem realmente somos como naquele tempo.
As crianças, não influenciadas pela visão consumista, são naturalmente inclusivas e o que mais lhes interessa no outro é o quanto ele sabe brincar em lugar da marca estampada em seu tênis. O prazer da pesquisa é natural para elas que estão ávidas para desvendar o mundo. A imaginação criativa as leva para onde quiserem sem sair do lugar. Sem se deter no passado ou antecipar o amanhã, elas saboreiam o aqui e agora deslumbradas com detalhes que não sabemos mais perceber. Não haveria então porque confinar toda essa capacidade inata de aprendizagem em espaços limitados, excesso de disciplinas, cobranças por notas, avaliações de comportamento, corpos imobilizados para o brincar e até ameaças de perderem a vaga se não redobrarem esforços. É a implantação do medo em lugar do encantamento por aprender, como adverte o educador Mario Cortella.
“Meu filho é o melhor da classe!” Em muitos casos, esse orgulho dos pais pode estar custando o sacrifício de sonhos que as crianças preferem deixar de sonhar em troca de serem aceitas e amadas. Movidas pelo instinto de sobrevivência, elas fazem tudo para agradar aqueles de quem dependem. Enquanto isso, o conceito distorcido de retorno para o investimento na formação das crianças reforça a crença infundada de que quanto mais competitiva a escola, melhor futuro garantirá aos alunos. Piorando o quadro, muitas delas se esmeram na criação de produtos diferenciados, mesmo que isso inclua até mesmo a insensatez de aulas de computação para bebês.
Está longe ainda o dia em que as escolas serão escolhidas justamente se propuserem: “Nosso papel é o de oferecer condições para que seu filho expresse seu potencial com alegria e espontaneidade”. Porém, uma revisão sobre o conceito de filhos bem sucedidos e a disposição de ouvir e compreender a vocação genuína de cada criança podem encurtar esse caminho e desobstruir o rio de possibilidades que clama por fluir dentro deles.
* Maria Helena Masquetti é graduada em Psicologia e Comunicação Social, possui especialização em Psicoterapia Breve e realiza atendimento clínico em consultório desde 1993. Exerceu a função de redatora publicitária durante 12 anos e hoje é psicóloga do Instituto Alana.