Sociedade

Nevoeiro de inverno no Vale do Paraíba voltou após anos de ausência

por Júlio Ottoboni, especial para a Envolverde –

Um fenômeno natural que fascina as pessoas em São José dos Campos há séculos e tem surgido diariamente neste período. Embora seja considerado um espetáculo da natureza para a maioria das pessoas, ele também é motivo de um aumento considerável em atrasos no deslocamento de veículos e em acidentes de trânsito. Trata-se do nevoeiro de inverno que toma conta de boa parte da cidade e cria um cenário único tanto nas áreas de campo como urbanas.

As áreas próximas a região do Banhado, uma depressão encharcada que até os anos 60 , antes da construção da represa do rio Jaguari, era alagada nas cheias dos rio Paraíba do Sul e as áreas de vale onde existem afluentes são propensas a formação deste fenômeno. O ar saturado de umidade forma uma densa neblina que, nos casos mais extremos, chega a impedir a visão em distância superior aos dois metros de distância em seu ápice.

A região da zona oeste, encravado num dos trechos de diversos charcos e ribeirões, e que faz divisa em grande parte com a antiga área de várzea do rio, que permanece com grande umidade, é uma das mais atingidas pelo fog que começa a se formar durante as madrugadas mais frias e de céu limpo. A zona norte, que também está no trajeto do Paraíba, do Jaguari e do rio Buquira também recebe o impacto da formação da névoa baixa.

Porém, nada comparado ao impacto no centro antigo da cidade, onde a área do Banhado forma uma densa camada úmida e gelada que penetra pelas avenidas próximas. Os bares situados nas avenidas Anchieta e São José chegam a contratar manobristas para orientar com lanternas o melhor trajeto para os clientes deixarem os estabelecimentos nas noites quando os fogs estão mais densos.

No bairro Urbanova, onde se localiza o campus da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), é comum os estudantes se atrasarem para as aulas devido ao nevoeiro. Muitos chegam a reclamar de dificuldades para localizar tanta a entrada como o próprio prédio da faculdade, tal a intensidade do nevoeiro.  Os congestionamentos na saída do bairro também são intensificados pela baixa visibilidade e velocidade desenvolvida pelos veículos.

Segundo os meteorologistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) os nevoeiros são intensificados pelo aumento do volume hídrico na bacia com o outono muito chuvoso, o que recarregou o lençol freático e a consequente maior vazão das nascentes. Outro fator importante é a chegada de frentes polares de grande intensidade e o aumento dos dias e madrugadas frias, que acabam por dificultar a dispersão das partículas de água em evaporação, que ficam presas em bolsões de ar junto ao solo.

O ar frio impede que esse ar um pouco mais quente e carregado de umidade suba para as camadas mais altas da troposfera. Isso resulta na concentração da névoa, que só consegue se dissipar com o aumento da temperatura no decorrer da manhã. Em casos extremos, já se registrou a dissipação por volta das 11 horas. Até por volta das 10 horas era praticamente impossível de se ter uma visibilidade acima de 10 metros nas regiões mais afetadas.

Apesar de típico de áreas baixas e alagadas, com grande concentração de umidade, os fogs do Vale do Paraíba, principalmente o de São José dos Campos, a maior ilha de calor dentro do eixo Rio-São Paulo, pode desaparecer com o aquecimento global. Os Invernos mais curtos e secos, entremeados por veranicos e a própria ocupação do solo imprópria, suprimindo das paisagens tanto remanescentes de Mata Atlântica,  lagoas e charcos estão impactando a formação de nevoeiros.

Depois de ter desaparecido nos últimos anos, a neblina que caracterizou São José dos Campos  em sua história nos invernos começou a escassear e ressurgiu com mais intensidade no começo da estação fria neste ano. Em 2016 praticamente não ocorreu, assim como nos anos anteriores. Cada vez mais esse fenômeno tem se tornado raro.

Em eventos mais intensos, a prefeitura reforça a sinalização e desloca agentes de trânsito para orientar motoristas, ciclistas e pedestres. A Polícia Rodoviária Federal, no trecho da Via Dutra entre Jacareí e São José dos Campos, também reforça os cuidados  e intensifica as ações de prevenção em lugares de grande ocorrência.  Em julho de 1988, num engavetamento na Via Dutra, no ‘retão da morte’, em Jacareí, vitimou fatalmente 11 pessoas e deixou 45 feridos. O motivo foi à neblina. (Envolverde)