Por Luiz Fernando Schibelbain* – 

Dominar uma segunda língua – no caso o inglês, atualmente utilizado entre falantes de outros idiomas para se comunicarem no mundo – traz amplos benefícios, especialmente ligados ao cérebro e a habilidades essenciais do século XXI: pensamento crítico, competências comunicativas, colaborativas, criativas e diversidade cognitiva. Saímos do modelo do canto em uníssono (uniformidade) e entramos para a prática do canto em harmonia (diversidade).

Transitar por duas línguas, além de dispensar intérpretes, tem efeito profundo no modo como pensamos e agimos. O aprimoramento cognitivo é apenas o primeiro passo. Memórias, valores e até a personalidade podem se modificar dependendo da língua que usamos, como se o cérebro bilíngue abrigasse duas mentes autônomas. Apesar de tamanha importância, isso foi ignorado por muito tempo e só recentemente recebeu a relevância merecida. Muitos pesquisadores expõem as vantagens de um bilíngue em comparação a um monolíngue, como o adiamento de futuras demências, maior compreensão de culturas diversas e a oportunidade de expor ideias de outras formas. A experiência intelectual da pessoa com dois sistemas linguísticos amplia sua flexibilidade mental e produz um leque superior na formação e expressão de conceitos, pois o cérebro bilíngue está sempre ativo nas duas línguas e o exercício de eleger uma e não a outra fortalece a mente.

Aprender uma língua adicional, contudo, exige concentração e dedicação para quem não teve a oportunidade de vivenciá-la naturalmente, como nos casos de bilinguismo precoce, em que a família herda essa outra língua e a utiliza cotidianamente ou desde muito cedo. No bilinguismo tardio, quando o contato com essa segunda língua acontece depois de a primeira estar estabelecida, há um caminho mais árduo a ser trilhado, pois é aí que teremos de estudar essa língua e não apenas adquiri-la natural e espontaneamente. E não é fácil ter de recodificar novamente tudo o que já sabemos na língua 1, pois temos de erguer um novo edifício em que suas estruturas são a nova gramática, suas janelas o novo vocabulário e seus acessos a pronúncia diversa de sons que muitas vezes desconhecemos. Quando uma criança inicia essa construção precoce, o prédio 1 (língua materna) e o prédio 2 (língua adicional) são parte de um mesmo condomínio e esse processo é mais harmônico, natural. Por isso a educação bilíngue, a que acontece em colégios, funciona muito bem quando iniciada desde os anos iniciais e de forma correta.

Mas atenção! Bilinguismo não significa um par de aulas semanais a mais de inglês no currículo. Além de encontros adicionais de inglês, há que se ofertar outras atividades e disciplinas em inglês, com profissionais fluentes e capacitados para promover e ampliar esse aprendizado. Como consequência natural, o estudante começa a apresentar um nível maior de concentração como forma de se adaptar rapidamente a contextos desconhecidos e passa, então, a avaliar e tomar decisões mais assertivas, como o que vai falar em seguida, como reagir, interpretar e assim por diante. O cérebro processará esses estímulos com mais agilidade, escolhendo o sistema linguístico mais adequado às suas necessidades naquele momento. E é aí que entra em ação o lobo frontal, que é o centro das funções executivas do cérebro, habilidades que nos ajudam a focar concomitantemente em múltiplos fluxos de informação, monitorar erros, tomar decisões com base nas informações disponíveis, rever planos e resistir à tentação de deixar a frustração nos conduzir a ações precipitadas.

Outra vantagem competitiva, e talvez a mais óbvia, de ser bilíngue, atualmente, são as oportunidades que temos ao dominar um outro idioma. Afinal, em mercados de trabalho cada vez mais concorridos, é imprescindível ter um excelente domínio dessa língua adicional para se destacar da concorrência. E a avaliação dessa habilidade pode ser feita por meio de certificados de proficiência, análise de histórico escolar com mais horas de aulas de/em inglês ou por testes e entrevistas práticas para atestar se o domínio de fato existe.

Outro aspecto que se desenvolve especialmente em alunos bilíngues é a habilidade de compreensão. Cada língua tem suas expressões, formas de construção gramatical e até mesmo linhas de raciocínio diferentes. Por isso, os discursos oral e escrito acabam sendo elaborados de outra forma, com características distintas: em inglês, as ideias costumam ser mais objetivas e concisas, fazendo com que, pela síntese, possamos expressar mais sucintamente o que queremos. Perceber as particularidades de cada língua, para compreender com exatidão a mensagem que se quer passar, as intenções subliminares, características intrínsecas e linha de raciocínio, faz parte desse lindo processo.

Ser bilíngue significa também expandir as formas de se conectar com o mundo porque nos comunicamos para interagir com outras pessoas nessa era totalmente interconectada, com mais oportunidades de viagem, trabalho e estudo. E para garantir essa comunicação efetiva, aspectos culturais também devem ser levados em consideração, já que a língua reflete particularidades sociais de seus falantes. Nesses contextos, o falante bilíngue se relacionará melhor com as pessoas de culturas diversas compreendendo o que está inerte à sua fala e intenção, tornando a comunicação mais ampla e próxima. Uma coisa é certa: dominar uma outra língua em conjunto com habilidades essenciais para agir no século XXI é a chave para o que o futuro nos apresenta, ampliando as escolhas pessoais e profissionais.

*Luiz Fernando Schibelbain é diretor da Positivo English Solution School (PES) e gestor de Idiomas PES / Sistema Positivo de Ensino.

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