Gestora de projetos do ITS Rio analisa os pontos de destaque e os que merecem atenção no novo programa de banda larga para o ensino público.
Por Tonia Casarin*
O governo federal lançou no dia 9 de maio, o Plano Brasil Inteligente com o objetivo de universalizar o acesso à internet banda larga, principalmente para as escolas públicas. A iniciativa de implementação desse programa é muito positiva, uma vez que se soma aos pontos fracos do atual modelo – oferecido por meio de obrigações das operadoras de telecomunicações. O mais conhecido destes é o Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE), que apesar de fundamental, tem sido insuficiente em conectar todas as escolas na velocidade que o Brasil precisa.
Guia Tecnologia na Educação: Como é a conectividade nas escolas brasileiras
É urgente discutirmos as metas de conectividade e como garantir que a internet está chegando em quantidade e qualidade suficientes para os estudantes de escolas públicas. A definição de metas e padrões de qualidade claros, substancialmente mais robustas que as conexões atuais, embora ainda sem que os dados das velocidades de conexão em cada escola tenham sido divulgados, indicam uma visão mais apropriada dos problemas atuais e das necessidades de conexão para o uso pedagógico efetivo da internet nesses ambientes.
Ainda que não haja muitos detalhes descritos no programa Brasil Inteligente, a construção de um modelo de implementação de tecnologias em sala de aula é de extrema importância. Central pensar por exemplo em levar banda larga, mas também conteúdo. Levar equipamento, mas também elementos pedagógicos.
Por exemplo: um ponto positivo do programa é a construção de um modelo de oferta de conteúdos como a Khan Academy e a TV Escola. O aumento da banda larga é fundamental nas escolas. Hoje a internet que chega serve mais para fins administrativos que para fins educacionais. Com o programa, vamos em direção à adoção de Metas de internet suficientes para uso de vídeo e games em sala de aula, e a integração com programas federais como Proinfo, Uca.
Ao mesmo tempo, é preciso prestar atenção em um ponto central: falta indicação no programa atual sobre a integração com Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE) e sobre a responsabilidade das operadoras de telefonia móvel. Por um lado, já temos um grande plano de conectividade em curso, que está previsto para acontecer pelo menos até 2025. Por outro, é importante que toda escola receba um cabo com toda internet que ela precisa, e não vários cabos, cada um com uma configuração de TI diferente. Essa decisão é de extrema importância para que não ocorra desperdício de recursos.
Outro ponto de atenção: as contrapartidas de Estados e municípios, que hoje estão fora da proposta. Estes entes federados têm sido inovadores e colaboradores da campanha da conectividade nas escolas. Precisamos não só otimizar recursos, como também aprender com as experiências desses polos de empreendedorismo público na educação.
O programa é ambicioso: R$ 1 bilhão de investimento ao ano. Nem todo esse recurso está alocado, mas uma boa parte já está. Precisamos então desde já nos prepararmos para eventuais cortes, e definir o que é primário e secundário. Além disso, o programa depende de aprovação de recursos pelo Congresso Nacional (inclusive ainda em 2016, quando o cenário político é disputado com agendas econômicas e sociais diversas). Precisamos, por exemplo, ter o quanto antes o cronograma para atender as 30 mil escolas previstas até 2018, e os 20 milhões de alunos envolvidos nisso.
O critério de prioridade das escolas escolhidas precisa, portanto, ser esclarecido, uma vez que o Brasil Inteligente contempla dois fatores: escolas com os “piores índices educacionais” e “menor custo de implantação”. Como esses fatores vão ser de fato combinados? Como vamos endereçar os desafios das escolas rurais e urbanas? Como vamos combinar os esforços com programas nacionais, estaduais e municipais em curso? Essas são três questões que precisam ser contempladas no calendário de atividades que vem por ai.
O Programa Brasil Inteligente é um momento de esperança para a Educação Brasileira. Mas quais são os pontos que devem ser priorizados? Como será o aumento das metas de conectividades, a monitoria da internet que chega nas escolas e o modelo de governança? Precisa de ajustes, claro, mas deve ser celebrado. Todos juntos, por uma escola melhor. Isso sim é um Brasil Inteligente. (Porvir/ #Envolverde)
* Tonia Casarin é mestra pelo Teachers College da Columbia University e Lemann Fellow. É autora do livro infantil Tenho Monstros na Barriga que ensina crianças a identificarem seus sentimentos.
** Publicado originalmente no site Porvir.