Sociedade

O livro paradidático e as bibliotecas escolares no contexto Amazônico

A maior parte da população brasileira é jovem ou será jovem na próxima década. Há uma enorme carência de obras de qualidade, com conteúdo crítico para a formação de jovens, especialmente na faixa etária de 12 a 25 anos. O desafio é ainda maior quando a temática é a complexa Amazônia.

Este foi o desafio que guiou João Meirelles, em sua mais recente obra, por ora somente em meio eletrônico – Viagem à Amazônia (Ou por que destruímos a Amazônia em uma geração?), viabilizada graças ao apoio federal da Lei Aldir Blanc, através de edital da Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult) e com o apoio do Instituto Peabiru. A proposta é um livro em linguagem acessível, com múltiplos questionamentos e que evita infantilizar a abordagem ao tema. Baixe o livro gratuitamente em www.joaomeirelles.com.

Como parte da entrega desta obra ao público paraense, amazônida e brasileiro foram organizadas duas lives, a primeira com o Cine Clube TF (assista a live aqui) e, agora o Bate Papo sobre o livro paradidático e as bibliotecas escolares no contexto amazônico: 

O encontro de João Meirelles e as educadoras 

Rita Melém e Tatiana Adas, será:

Data: 25 de agosto de 2021, quarta-feira

Horário: 19h

Transmissão: Canal Youtube Instituto Peabiru youtube.com/canalinstitutopeabiru

Acessibilidade: Interpretação em libras disponível

A necessidade da formação de uma visão cada vez mais crítica sobre a região e seus povos para que todos assumam seus compromissos perante as presentes e futuras gerações de amazônidas é o que move a obra e os diálogos. A difusão do conhecimento baseado em pesquisa, estudos e vivências compartilhadas é fundamental para que brote o “sentido de pertencimento” em cada cidadão brasileiro e amazônida. O diálogo trará à mesa um debate sobre a relevância dos livros paradidáticos e o maior acesso a bibliotecas na escola.

A Leitura e a Literatura como Direito Humano Fundamental

Rita Melém acredita que o acesso à leitura e à literatura é um direito humano fundamental e de cidadania. Para tanto, é necessário investir em políticas públicas e em iniciativas para democratizar esse acesso, como sempre defendeu Antônio Cândido. Rita é poeta, professora, mestre em educação pela UFRN, especialista em currículo e avaliação e licenciada em pedagogia pela UEPA. Rita coordena a Biblioteca Comunitária Itinerante BombomLER , além de atuar no Sistema de Biblioteca Escolares do município de Belém, Pará. Rita trará à discussão o papel das bibliotecas escolares, públicas e comunitárias na formação de leitores, na construção de seus conhecimentos e formação humana. Entre as questões estão: como aprimorar o currículo escolar, a partir de obras didáticas e paradidáticas e, como “amazonizar” esse currículo?

A eficácia do Paradidático no Ensino

O livro paradidático é essencial ao aprofundamento de conteúdos estudados em sala de aula, a partir de uma linguagem mais convidativa (menos didatizada), o que se torna um incentivo ao hábito da leitura, fundamental para a formação de sujeitos críticos. É este pensamento que norteia a professora, pesquisadora e escritora Tatiana Adas, mestranda em educação na USP de Ribeirão Preto, estado de São Paulo.

A proposta é que o livro Viagem à Amazônia contribua ao fortalecimento do currículo escolar como uma ferramenta didática interdisciplinar. Escrito na forma de diálogo permite a leitura em grupo, em voz alta, de forma interativa e possibilitando a maior absorção e a discussão de diferentes conteúdos após a leitura. Como é uma obra abrangente, possibilita abordagens em diferentes disciplinas:

  • Geografia – discutindo a geografia física e a política, e as dimensões do bioma, tanto no Brasil como nos demais países amazônicos;
  • História – abordando os povos indígenas, o processo de invasão da Amazônia, os ciclos econômicos e os movimentos políticos, especialmente nos últimos cinquenta anos;
  • Língua Portuguesa – a obra recorre a termos utilizados na região, a citações de escritores de importância nacional como Dalcídio Jurandir e Mário de Andrade;
  • Ciências da Natureza – permitindo compreender sobre a diversidade biológica, as consequências do desmatamento e queimadas e a emergência climática etc.

Aqui, um breve trecho sobre a geografia política:

“(…) Como assim? A Amazônia pertence a muitos países? – Juju quer entender.

– Pouco mais da metade da Amazônia está no Brasil, a outra parte está distribuída entre oito países: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela,

– Guiana, Suriname e França, aqui representada pelo seu departamento, a Guiana Francesa.

– Então somos vizinhos da França? – espanta-se Antônio.

– Exatamente. E, se vocês quiserem se mostrar mais conhecedores de geografia que os seus colegas, perguntem-lhes com que país a França tem a mais extensa fronteira. Alguns dirão Espanha, outros Itália ou Alemanha… (…)” (Trecho do livro Viagem à Amazônia, página 12).

Povos tradicionais: brasileiros e amazônidas como nós

Como ativista em prol de um maior protagonismo dos grupos sociais amazônidas menos favorecidos economicamente, João Meirelles resgata no livro questões marcantes para as populações originárias e tradicionais.

Neste sentido, a educadora Tatiana Adas compartilhará a sua reflexão de como os livros devem ser respeitosos em relação aos povos indígenas, na medida que eles não são figuras do passado e estão presentes em nossa sociedade como sujeitos de direito e com diferentes contribuições.

Importantes líderes indígenas conquistaram espaço social e político na luta pelos direitos humanos e seus territórios. Entre eles, o livro apresenta o chefe Joaquim Tashka, da nação Yawanawá, do Acre:

“(…) – Eu sou Joaquim Tashka Yawanawá. Eu vivo entre o mundo tradicional e o mundo ocidental. Entre Rio Branco e a Aldeia Mutum, na Terra Indígena Yawanawá, no Rio Gregório, município de Tarauacá, aqui no Acre. Como um povo indígena consegue recuperar, fortalecer, criar uma economia que possa assegurar aos membros de sua comunidade o orgulho de ser indígena? (…)”. (Trecho do livro Viagem à Amazônia, página 210).

A live ficará disponível gratuitamente no Canal Youtube do Instituto Peabiru a quem queira se aprofundar nas temáticas propostas.

Mais sobre os apresentadores:

João Meirelles, escritor e ativista socioambiental, diretor e CEO do Instituto Peabiru. Nascido em São Paulo, vive em Belém há 17 anos. É autor de dezoito obras entre ficção e ensaios, nove das quais são dedicadas à Amazônia, como o Viagem à Amazônia (ou porque destruímos a Amazônia em uma geração?), cuja preparação ao meio eletrônico e lançamento foi viabilizado pela federal Lei Aldir Blanc, através de edital da Secretaria de Cultura do Estado do Pará. Disponível no site: www.joaomeirelles.com

 

Rita Melém, professora mestre em educação pela UFRN, especialista em currículo  e avaliação e licenciada em pedagogia pela UEPA. Paraense papa-chibé, educadora, poeta, letrista, contadora de histórias, integrante da RECONTAH/PA e mediadora de leitura e co-fundadora da Biblioteca Comunitária Itinerante Bombomler e professora formadora na equipe do SISMUBE/SEMEC. Acredita na leitura e na Literatura como direito humano e cidadão, no poder das palavras, na militância pela vida por meio da luta por direitos e sonha com o reencantamento do mundo e assim, espalha nele suas sementes poéticas em forma de poemas, histórias e canções. Contato: [email protected]

Tatiana Adas – Mestranda em Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP). Licenciada em História pelo Centro Universitário Barão de Mauá. Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência na área de Educação como professora de História, autora e editora de materiais didáticos. É escritora e membro pesquisador do Grupo de Estudos da Localidade – ELO, ligado à Universidade de São Paulo. www.adaseducacional.com.br

 

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