Por Dal Marcondes, da Envolverde –
A pauta socioambiental esteve no centro das atenções do presidente eleito Jair Messias Bolsonaro durante sua campanha vitoriosa em direção ao Palácio do Planalto
A crítica à estrutura de governança socioambiental foi o mote de muitos discursos do presidente eleito. Para ele os controles e fiscalizações promovidos por órgãos públicos como o Instituto Chico Mendes (ICMBio), o Ibama e outros organismos de comando e controle socioambiental são entraves ao desenvolvimento do Brasil. Outro alvo de seus posts e vídeos foram as organizações sociais, a ONGs que atuam em todo o Brasil com os mais diversos focos. Há de tudo um pouco, mas é inegável que a grande maioria presta relevantes serviços à sociedade brasileira.
Quando o futuro presidente Bolsonaro fala de “desenvolvimento” qual será sua visão de futuro? O Brasil tornou-se um dos países mais relevantes sob a ótica do protagonismo ambiental, não apenas porque detém a maior floresta tropical com alto grau de preservação do planeta, mas também porque o Itamaraty e os diplomatas brasileiros, estão entre os melhores articuladores de tratados internacionais de todas as conferências das Nações Unidas. Em Paris, durante a COP do Clima de 2015, só a atuação da ex-ministra do meio Ambiente, Izabella Teixeira, e dos diplomatas brasileiros possibilitaram que se chegasse a um acordo abrangente para a busca de um equilíbrio climático e a redução dos gases de efeito estufa.
Mesmo com a crise política e econômica dos últimos anos organizações da sociedade civil, muitas delas apoiadas por empresas nacionais ou multinacionais, continuaram a trabalhar para oferecer soluções em questões ambientais, de oferta de água e saneamento, de saúde, de pesquisas e de uma infinidade de temas relevantes para o desenvolvimento do Brasil. Há uma real possibilidade de o Brasil sediar a COP 25 em 2019, com todas as responsabilidades e oportunidades que isso pode acarretar.
O que ainda é preciso desvendar é qual o modelo de desenvolvimento, que olhar o novo presidente tem em relação ao futuro. Há muita informação sobre temas de caráter moral, religioso e até de (in)segurança pública, mas muito pouco em relação ao rumo que o país tomará por este século 21 a dentro. O que significa uma política externa “sem viés ideológico?” O Brasil oscila, de acordo com o momento, entre a 7ª e 8ª economia mundial, tem participado ativamente de Missões de Paz da ONU, com envio de tropas e especialistas em diversas áreas, tem um comércio exterior bastante plural em clientes, apesar de restrito em produtos.
Sob a ótica ambiental a esperança é que as promessas de campanha não sejam cumpridas. A começar pela fusão entre o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura. O próprio comércio internacional de produtos agropecuários pode sair muito prejudicado se o país derrubar barreiras ambientais e de desmatamento. Os principais players globais do agronegócio que atuam no Brasil já se mobilizam há anos para cumprir exigências do mercado internacional em termos de não produzir em áreas desmatadas ilegalmente, não utilizar mão de obra escrava ou de crianças e também algumas restrições em relação a uso de sementes transgênicas ou de agrotóxicos.
Bolsonaro precisa ampliar a visão do que seja o desenvolvimento sustentável e os benefícios que políticas de consolidação de boas práticas podem trazer no curto prazo e no fortalecimento de mercados para os produtos brasileiros. O Brasil pode superar a crise econômica a partir do fortalecimento de políticas educacionais que privilegiem a Ciência, a Inovação e o pluralismo de ideias. Uma educação restritiva apenas vai aprofundar a crise e dificultar seu próprio governo.
O Brasil é um país megadiverso sob o ponto de vista ambiental e social. Essa diversidade é a raiz de sua riqueza.
O combate à corrupção é uma etapa civilizatória necessária, mas como diz o ditado popular, não se pode jogar fora o bebê com a água do banho. Ao mesmo tempo que que se estabelece mecanismos de governança e controle é preciso estimular a vitalidade da sociedade e da economia brasileira. Ampliar seu olhar para além dos valores de seus eleitores. Afinal, é bom lembrar que Jair Messias Bolsonaro foi eleito com 57,8 milhões de votos, seu opositor, Fernando Haddad, conquistou 47,04 milhões de votos e bancos, nulos e abstenções somaram 41,5 milhões de votos. Ou seja, 89 milhões de eleitores não votaram nas propostas do presidente eleito.
É preciso que o novo governo compreenda a complexidade de trabalhar para todos os brasileiros e não apenas para seus próprios eleitores. (Envolverde)