por Suzana Camargo, Conexão Planeta –
Logo após assumir o governo, o presidente Jair Bolsonaro informou que o Brasil não sediaria mais a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP25), que estava prevista para acontecer em 2019 no país. Alegou que seria muito caro, um custo de cerca de R$ 500 milhões. O Chile então se ofereceu para receber a reunião, que acontecerá em dezembro.
Agora, mais uma vez, o Brasil deixa pra trás seu então protagonismo internacional nas questões climáticas e cancela mais um encontro que seria realizado no país, a Semana do Clima, entre 19 e 23 de agosto, em Salvador.
Segundo matéria publicada no jornal O Globo, o evento que havia sido confirmado no ano passado, ainda pelo governo Temer, foi suspenso pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
De acordo com o secretário de sustentabilidade da capital baiana, André Fraga, ele foi avisado da decisão na última sexta-feira (10/05), pelo ministério.
“Fui informado de que o ministro Ricardo Salles não estava confortável com a realização do evento no Brasil. Alegou o que todos desse governo alegam: que o evento só serve de plataforma para ONGs, que é inútil e que o foco do ministério é a agenda urbana, que não tem nada a ver com mudanças climáticas”, lamentou Fraga, em entrevista ao O Globo.
Salles afirmou que o encontro seria uma preparação para a COP25 e não faria sentido sediá-lo no país. Debochou ainda dizendo que seria mais “uma viagem de turismo pra comer acarajé”.
Em uma nota oficial aos participantes do evento, as Nações Unidas também lamentaram a decisão do governo brasileiro.
Enquanto as COPS têm como objetivo reunir chefes de Estado, as Semanas do Clima são uma importante troca de experiências entre prefeituras e governos estaduais de diferentes países. A ideia é o compartilhamento de iniciativas e a disseminação de novas soluções e tecnologias, no combate às mudanças climáticas.
Patrícia Espinosa, secretária-geral da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) afirmou que o contato sobre a desistência do Brasil em sediar o evento teria sido feito pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo (sim, o mesmo que acredita que as mudanças climáticas são uma “conspiração marxista”).
A secretária ressaltou que a reunião não custaria um centavo para o Brasil, já que todos os gastos são bancados pela ONU.
“É mais uma demonstração constrangedora de que o país não está interessado em se mobilizar sobre o tema. Esta é a agenda mais importante para o desenvolvimento de qualquer ação no século XXI. Basta lembrar que a Semana do Clima é organizada em parceria com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento”, criticou Carlos Rittl, secretário-geral do Observatório do Clima. “Abrir mão do evento também significa perder oportunidades para o mundo dos negócios, e ainda há o risco de que outras nações não queiram comercializar com a nossa, por não ver aqui um compromisso em preservar o meio ambiente”.
Foto: Márcio Filho – MTUR/Creative Commons/Flickr
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
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