Por Sucena Shkrada Resk* –
Nas profundezas da imensidão azul, se encontram respostas sobre o novo coronavírus que vão além de seu papel prioritário para a regulação climática e para a subsistência humana
Enquanto nossa sociedade mundialmente enfrenta a realidade imposta pela pandemia da Covid-19, que tem um princípio ambiental em sua origem, outras agendas importantes para o equilíbrio da Terra e, consequentemente também à saúde humana, continuam em vigor. Neste hall de prioridades, estão os oceanos, que ocupam 71% do planeta, e têm como papel fundamental proporcionar o equilíbrio climático e a subsistência a um contingente de pelo menos 3 bilhões de pessoas. Afinal, contribuem para a absorção de aproximadamente um terço do dióxido de carbono (CO2) produzido pelos seres humanos. Mas não é só isso: nestas profundezas, pesquisas também estão encontrando respostas para detectar o novo coronavírus (Sars-CoV-2).
Segundo Francesca Santoro, oceanógrafa e pesquisadora da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, braço da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura, micróbios encontrados em localizações profundas dos oceanos estão sendo usados para realizar testes rápidos para detectar a Covid-19.
Pesquisadores do Instituto Oceanográfico Woods Hole (WHOI) publicaram a descoberta no “Journal of Applied & Environmental Microbiology”. Segundo os cientistas, a enzima isolada deste micróbio encontrado em fontes hidrotermais marinhas e em fontes termais de água doce também auxiliam no diagnóstico da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e da AIDS.
Um aspecto curioso e interessante sobre o histórico do desenvolvimento deste teste para detecção da Covid-19, é que tudo começou em 1969, com a descoberta da bactéria, Thermus aquaticus, que vivia em temperaturas extremas, no Parque Nacional de Yellowstone. Depois, nos anos 80, o biólogo da WHOI Carl Wirsen e equipe descobriram novas cepas de bactérias em uma abertura hidrotérmica italiana. E na evolução das descobertas, uma maior diversidade microbiana adaptada a fontes hidrotermais foram registradas em até 5000 metros abaixo da superfície do mar. E na evolução de suas potencialidades, descobriram o papel enzimático (das proteínas), como descreve a cientista Virginia Edgcomb.
Oceanos na UTI
Mas como vai a saúde desta imensidão azul? A realidade do hoje não é para se comemorar: poluída por derramamentos de combustíveis; plásticos, metais e todos os tipos de resíduos; ainda sofre a pressão da pesca ilegal, da degradação das zonas costeiras, e do derretimento das calotas polares, que contribuem para sua acidificação, e para o aumento do seu nível, que afetam populações de países insulares e das costas. A constatação é a seguinte: este complexo e rico ecossistema definha gradativamente pela ação humana.
Ao analisar este conjunto de razões, a Organização das Nações Unidas (ONU) elencou já em dezembro de 2017, o período de 2021 a 2030, como a Década da Oceanografia para o Desenvolvimento Sustentável. E um detalhe importante, torna isto mais justificável: ainda somos ignorantes sobre esta imensidão azul – conhecemos apenas 5% de todo este universo. Por isso, o papel da Ciência se torna imprescindível para este processo de pesquisa, reconhecimento e incentivo à conservação deste patrimônio.
A gestão deste processo está sob a incumbência da UNESCO, A meta desta iniciativa é tornar factível o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 14 (ODS-14), que integra as propostas da Agenda 2030 acordada pelos cerca de 200 países membros da ONU, em 2015. Isso quer dizer: promover a conservação e o uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Mas para que isto seja possível, a sociedade tem de se empoderar desta tarefa no dia a dia e na cobrança do poder público e das empresas, nas responsabilidades compartilhadas.
*Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
*Crédito da foto de destaque: Sucena S. Resk
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